Há exatos 40 anos era escrito por Paulo Freire o livro Pedagogia do Oprimido. Traduzido para mais de 40 línguas, a obra é considerada o mais importante trabalho do autor e a principal referência mundial para o entendimento e a prática de uma pedagogia libertadora.
Para comemorar a data, começou, na última terça-feira (16), o VI Encontro Internacional do Fórum Paulo Freire. Promovido pelo Instituto Paulo Freire e pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), o evento busca ser um espaço de estudo e atualização do legado freiriano. O evento acontece até o dia 19, no Teatro Tuca e Tucarena, da PUC, na cidade de São Paulo (SP).
A conferência de abertura contou com a participação de professores, pesquisadores e estudantes da área de educação, tanto no âmbito nacional, como internacional, além de pessoas que conheceram, conviveram e eram amigos de Paulo Freire.
Para o economista e professor titular da PUC, Ladislau Dowbor, Paulo Freire não é passado, mas, sim, futuro. "Pedagogia do oprimido permanece muito atual", ressaltou o economista. "O oprimido deve se organizar, pois a economia tende a ser opressora, mas se transforma caso a população efetivamente se mobiliza", completou.
"Uma obra completa, que mostra uma educação que transborda os limites, que inclui e que convida o indivíduo a nutrir as formas desejantes de mundo, experimentando-o, recriando-o, inventando ferramentas para expandir territórios de liberdade e respeito à dignidade humana", destacou o economista.
Segundo Dowbor, reler a Pedagogia do Oprimido em 2008 pode provocar encontros de um tempo em que, pelas intensidades e insurgências, não permitiu perspectivar o frescor e o pavor das contradições e das efervescências com que as esperanças e os medos se manifestaram no Brasil e no mundo em 1968.
Reinventar formas e espaços para fazer com que a educação seja mais humanizadora, foi outro tópico levantado no evento por Antônio Teodoro, professor da Universidade Lusófona e membro do Instituo Paulo Freire de Portugal. "A opressão deve ser substituída pela igualdade, todos sendo cidadãos do mesmo mundo, tendo direitos iguais, pois a diferença nos inferioriza", destacou.
O filósofo, professor titular da PUC e doutor em educação Mário Sérgio Cortella, que foi orientado por Paulo Freire e o substituiu na Secretaria da Educação paulistana no governo de Luiza Erundina (PT), explicou que a pedagogia freiriana é realmente do oprimido e não sobre o oprimido. "Paulo Freire sofreu na pele as conseqüências da opressão. Ele fala de dentro, sendo um dos oprimidos. Quando se fala ‘de' é uma forma subjetiva, diferente de quando se fala ‘sobre', uma visão de fora", comentou.
A obra
Traduzido para mais de 40 línguas, Pedagogia do Oprimido foi escrito por Paulo Freire no Chile, durante o exílio. Publicado em 1970, a obra, em linhas muito gerais, trata de dois tipos de pedagogia: a pedagogia dos dominantes, chamada de bancária, na qual a educação existe como prática da dominação, e a pedagogia do oprimido, que precisa ser realizada como prática da liberdade. O movimento para a liberdade deve surgir e partir dos próprios oprimidos. Dessa forma, a pedagogia decorrente será construída com o oprimido e não para ele. Assim, Paulo Freire coloca que não é suficiente que o oprimido tenha consciência crítica da opressão, mas que se disponha a transformar essa realidade.
Mais sobre a obra de Paulo Freire pode ser encontrada em sites como a Biblioteca Digital Paulo Freire, da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), e o Instituto Paulo Freire.
Fonte: http://envolverde.ig.com.br/?materia=51841