O funeral do patriarca da igreja copta ortodoxa do Egito, Shenouda III, teve início nesta terça-feira na grande catedral de São Marcos, no Cairo, completamente invadida por uma multidão de fiéis, religiosos e funcionários públicos.
Shenouda III, que dirigiu a mais importante igreja cristã do Oriente Médio durante quatro décadas, faleceu no sábado aos 88 anos, depois de sofrer severos problemas cardíacos que agravaram um quadro de saúde já debilitado. O caixão do patriarca estava aberto e era possível observar o rosto do patriarca, com a cabeça coroada por uma tiara de ouro.
A cerimônia começou com uma oração do chefe da igreja copta da Etiópia, o patriarca Abune Paulos, em meio a cânticos na língua copta, um idioma atualmente é utilizado apenas para a liturgia.
Os líderes muçulmanos do país logo enviaram suas condolências. A morte de Shenouda é "uma calamidade que entristece todo o Egito e seu nobre povo, muçulmanos e cristãos", disse o mufti do país, Ali Gomaa, em um comunicado.
O Partido da Liberdade e Justiça, da Irmandade Muçulmana, majoritário no Parlamento, enviou suas condolências aos coptas e disse que Shenouda desempenhou um papel importante no Egito.
O Vaticano se juntou "ao pesar e às orações dos cristãos" pela morte do patriarca, informou em uma declaração à imprensa, o porta-voz da Santa Sé, o padre Federico Lombardi. Acrescentou que o papa Bento XVI "foi informado e se une espiritualmente às orações" para Shenouda e expressou o desejo de que o "Senhor acolha este grande pastor".
Eleito primaz da Igreja copta ortodoxa em 1971 e 117º sucessor do evangelista e fundador São Marcos, liderou com autoridade sua comunidade em meio a um progressivo crescimento dos islamitas na sociedade egípcia. Durante 40 anos, passou do confronto a uma atitude conciliadora com o poder no Egito. Nos últimos anos teve que enfrentar, além disso, o aumento da violência contra os coptas, que se traduziu em atentados e enfrentamentos sangrentos.
Depois de sua entronização, suas relações com o falecido presidente Anuar al Sadat se deterioraram rapidamente, já que o patriarca dos coptas se opôs com firmeza à normalização das relações do Egito com Israel e os flertes do presidente com os islamitas. Essa oposição o levou a ser destituído e posto sob prisão domiciliar em 1981.
Em 1985 foi restabelecido como chefe da Igreja copta por decreto do presidente Hosni Mubarak, de quem nunca retirou seu apoio. A revolta popular do começo de 2011 o pegou desprevenido, quando muitos de seus fiéis saíram às ruas para exigir a saída de Mubarak, que finalmente renunciou dia 11 de fevereiro do ano passado depois de trinta anos no poder.
Shenouda deixa uma comunidade inquieta com o fortalecimento dos partidos islamitas, que obtiveram três quartos dos assentos do Parlamento nas últimas eleições legislativas. Os coptas do Egito são uma minoria geralmente estimada entre 6 e 10% dos 82 milhões de egípcios. A Igreja copta fala em 10 milhões de fiéis.
A Igreja copta é uma das igrejas orientais ortodoxas que não reconhece a primazia do Papa de Roma nem a do patriarcado ortodoxo de Constantinopla. Constitui a maior comunidade cristã do Oriente Médio.