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Mensagem de Aleppo: "Amanhã será tarde demais para nós"

Mensagem de Aleppo: "Amanhã será tarde demais para nós"
O jornalista Bilal Abdul Kareem descreve para o Al Jazeera uma "situação desesperada" e pede pela criação de um corredor humanitário
 
Leste de Aleppo, Síria – Estamos todos rezando pela chuva. Quando chove, os aviões não podem voar e os bombardeios param por um momento breve.

Estamos com esperança de que chova o suficiente para que as potências do mundo façam algo para ajudar os 150.000 civis presos nesse bairro pequeno de Aleppo a escaparem da carnificina.

A situação aqui é desesperadora.

Pessoas buscando por refúgio estão inundando a área, têm muitos bebês e crianças aqui também.

As pessoas vêm com três ou quatro crianças, fugindo das forças do governo. Usam seus carrinhos para carregar as crianças, e quaisquer outros pertences que consigam – algumas roupas, alguns utensílios de cozinha em sacolas plásticas, essenciais.

Eu escolhi vir à Aleppo algumas semanas atrás. Pensei que ficaria aqui com minha equipe de duas pessoas por alguns dias. Não pretendia ficar tanto tempo aqui. Mas eu sabia que só o fato de vir para cá seria um risco.

Reportar de zonas de conflito é perigoso, mas dizer a verdade ao mundo é o mais importante. A maioria das pessoas aqui, no entanto, não teve opção. Eles apenas estão presos nesse pesadelo contra sua vontade.

Está extremamente frio. O lugar em que estou ficando não tem paredes propícias – pendurei lençóis de plástico e um cobertor nos buracos maiores feitos pelo último ataque aéreo.

Os bondosos sírios me tratam – um jornalista e o único norte-americano negro na cidade – generosamente. Eles sabem que posso comunicar suas histórias ao mundo somente quando me permitem carregar o celular e o computador em um dos únicos lugares com energia.

O preço do pouco de comida que sobrou não é muito alto, pois as pessoas não querem tirar vantagem das outras, mas não há muito o que vender, e todos estão sofrendo.

Para cozinhar, as pessoas pegam pedaços quebrados de móveis, um tijolo e algumas pedras, botam a panela em cima e acendem o fogo.

O menu é limitado: pão, tâmaras e trigo, chamado de “arroz de pobre”. Algumas instituições de caridade estocaram o trigo mas não sobrou muito. E a maioria das pessoas não tem acesso à água potável.

Mesmo o preparo deve ser feito escondido, por medo de atrair a atenção dos aviões do governo ou aqueles que têm fome e não tem o que comer.

Os ataques aéreos são constantes. Eles operam utilizando o método “double tap” que mata qualquer bom samaritano que for ajudar um ferido. Eles atacam uma vez e esperam um pouco; quando as pessoas se unem para ajudar os feridos, eles atacam de novo.

À noite, as ruas estão vazias. Aviões voam baixo pela cidade, mirando em qualquer coisa que se mexa. Se você precisa sair, você ouve atentamente e espera até que passem antes de correr por sua vida de um quarteirão para o outro, se escondendo nas sombras.

É mais difícil para os feridos. Todos os hospitais ao leste de Aleppo foram bombardeados e desde duas semanas atrás, nenhum funciona mais. Tudo o que existem agora são clínicas compactas em locais escondidos.

Chegar à essas clínicas é difícil. Os corajosos Capacetes Brancos não estão mais funcionando; suas ambulâncias não funcionam sem combustível e com medo de serem atingidos. Algumas pessoas arriscam trazer os feridos para as clínicas de carro ou caminhonetes, se eles ainda têm combustível sobrando. Eu já vi pessoas usando carrinhos de mão para transportar seus entes feridos.

Se você conseguir chegar a uma dessas clínicas, um novo pesadelo te espera lá – estão abarrotadas de gente, deitadas no chão em poças de sangue. Há tanto sangue que os médicos e enfermeiras usam botas para ir de um paciente a outro.

Essas clínicas não podem oferecer nada além de tratamento médico emergencial, suturando feridas e tentando realizar operações de emergência. Seu único objetivo é parar o sangramento; eles não podem fazer mais que isso. E no momento que o médico é capaz de parar o sangramento, a vítima deve sair. As clínicas são locais perigosos. Quanto maior o número de seres humanos em um local, maior a probabilidade que ele seja atacado.

“Amanhã será tarde demais para muitos de nós”

O governo sírio abriu um corredor para que as pessoas se entreguem. Talvez 50.000 a 60.000 realmente se entregaram. Mas as pessoas ainda estão chegando no nosso enclave enquanto o governo avança. Os civis locais preferem enfrentar bombas e condições terríveis do que o desaparecimento.

O fato de que o governo sírio já matou 500.000 do seu próprio povo é um grande impedimento.

Mas agora ouvimos relatos de centenas de homens desaparecendo em um lugar, e de homens sendo alinhados para execução. Somente adiciona para o medo de se entregar.

É algo desesperador. A chuva vai parar logo e o massacre retornará. Deve haver um corredor humanitário agora. Hoje. Amanhã será tarde demais para muitos de nós.

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