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Mas é carnaval Não me diga mais quem é você! O que você pedir eu lhe dou, Seja você quem for, Seja o que Deus quiser!

Mas é carnaval Não me diga mais quem é você! O que você pedir eu lhe dou

O Levítico da Bíblia é um livro carnavalesco! a carne bem passada, mal passada ao ponto interessa aos rituais, as ordenações e as danações da religião e seu calendário. Os sacerdotes, todos eles homens, cheiram, cutucam, manipulam, esfregam o corpo do mundo e da gente na carne das ofertas em carros alegóricos de altares e sacristias. Tudo que não pode, tudo que é perigoso vai ser permitido na lista, no enunciado de todos os exageros possíveis da carne… até chegar o tempo de se arrepender, de recolher os excessos e repetir a liturgia de voltar à ordem… todo culto & missa acaba sendo quarta-feira de cinzas: tudo queimado, gasto, consumido nos dias de folia precisa reencontrar seu descanso e alguma santidade ordeira da vida comunitária. O Levítico é um desfile sem fim de corpos: pessoal, social… o corpo do mundo. Tudo goza, tudo geme…  alalaô!

Abre Alas

O corpo das ofertas animais ou de grãos esta em relação com a pureza do sacerdote que esta em relação com as pessoas que ofertam que estão em relações familiares e sexuais aceitas ou não, que estão em relação com os pecados das lideranças e tudo vai parar na cabeça de um bode expiratório que vai ser abandonado no deserto com todos os pecados conhecidos e desconhecidos de toda a comunidade. Entre os diversos níveis de relações o Levítico propõe as festas como arranjos simbólicos e de sociabilidade que tornam a vida comunitária possível. A comunicação entre todas as esferas de vida vai até a estrutura social, a posse da terra e os sistemas de dividas sempre voltando até o altar e os olhares escrutinadores do sacerdote e sua capacidade de calculo dos ativos e passivos coletivos e individuais que fazem girar a economia do altar.

Uma das formas importantes no Levítico de conexão das partes e do todo é a dinâmica de “contaminação”: pode ser uma idéia, uma doença ou uma culpa. Tudo se comunica com tudo. Mas é uma conexão não necessariamente projetada ou sistêmica porque a concepção de contágio guarda está idéia de “fora do controle”, pode até mesmo acontecer sem que se saiba, de maneira insidiosa.

Esta percepção de que as trocas e comunicações sociais e pessoais são suscetíveis de levar-e-trazer conteúdos não desejáveis coloca todo o sistema e sub-sistemas numa formatação de vulnerabilidde  que pode gerar confusão colocando as parte-e-todo em situação de distúrbio das identidades e integridades pretendidas.

Mestre Sala e Porta Bandeira

O Levítico é particularmente atento a situações de passagem, aos espaços entre isto-e-aquilo porque são os ínfimos lugares de conexão do todo-e-partes que definem a santidade do sistema pretendido. Desde o pescoço do animal sacrificado e a asa destroncada da ave, passando pela fusão do azeite sob a farinha até o contato do sacerdote com um cadáver, passando pelas trocas vitais de todos os poros e orifícios corporais nas dinâmicas de sexo-comida-saúde, chegando até os tipos de semente, o fios da roupa, os processos de divida e a posse da terra: entre uma coisa e outra, um corpo e outro um grupo social e outro existem espaços de poder que precisam ser controlados, fronteiras estabelecidas e limites impostos para garantir o pleno funcionamento da vida.

Para além de uma compreensão funcional e mecânica dos espaços de comunicação, o Levítico identifica normatividades e padrões e alerta para os elementos estranhos e indesejados que podem diluir e comprometer a integridade desejada. Pode ser o mofo, pode ser um animal com barbatanas, pode ser uma mancha num animal, pode ser sexo incestuoso, o sangue menstrual, ou a situação de endividamento não superável: tudo isso é confusão, abominação e impureza. Se algumas destas situações são inesperadas e não controláveis outras são frutos da decisão e da contravenção, da transgressão que geram poluição. Tudo que coloca o tecido social em distúrbio na forma de caos ou indiferenciação precisa ser identificado e excluído pelos sistemas de controle da cultura[1].

Ala das Baianas

Tanto os pecados conhecidos como os desconhecidos precisam ser examinados, identificados e reconhecidos como impureza que colocam toda a vida pessoal e social em perigo. Se conseqüência do imponderável nas relações com a natureza ou conseqüência da subversão dos atos humanos o altar reivindica para si sob os olhos do sacerdote a legitimidade de conferir e certificar, considerar aceitável ou inaceitável, puro ou impuro.

Tanto nas relações com o mundo natural e seus seres quanto nas relações pessoais e coletivas os arranjos materiais e simbólicos são resultados de um intricado processo de aprendizagem, necessidade e liberdade que deriva estruturas de poder (poder resolver, poder decidir, poder conseguir, poder responder, etc) e suas formas de controle onde a religião é uma daslinguagens culturalmente disponível.

O que está “fora do padrão” pode deixar de ser entendido como constructo social e passar a ser configurado como transgressão ou desobediência aos mecanismos de controle. Se comer um determinado animal num determinado momento histórico era considerado abominação por colocar em risco a vida do grupo social, num outro contexto histórico comer este mesmo animal continua a ser abominável somente porque desafia a autoridade normativa e de controle… mesmo que o grupo social tenha resolvido de outra maneira o consumo desta espécie. A abominação deixa de ser o arranjo simbólico-material concreto e passa a ser considerado subversão da agencia de controle.

Apuração

O que se pode comer? Como e quando e com quem se pode fazer sexo? O que é isso na pele? pôr que coça? porque tem uma cor diferente? pôr que dói? como sara? Estas perguntas não são feitas…são cotidianamente vividas e respondidas na criação de mecanismos culturais e religiosos doadores de sentido. Ou doadores de sentido pra o que não tem sentido.

Todas estas dinâmicas são movimentos do corpo, são relações entre os corpos, são relações com a natureza. O sangue, o suor, o sêmen, o pus, o caldo, as manchas, as marcas, a saliva…tudo isso é troca. O corpo se mantém nessas trocas. Estas trocas são misteriosas demais. Sagradas demais. Misteriosas demais. É preciso cantá-las. Recitá-las. Receituá-las. É preciso aprender dos cheiros, das cores, dos gostos dos corpos em relação pra que a vida aconteça sempre de novo.

De certo modo este é o papel da Lei, dos rituais e normativas. O refrão bíblico “Eu sou o Senhor vosso Deus”(Lv 11,44) funciona como moldura que localiza a origem da lei na divindade, mediada pela pessoa de Moisés juntamente com Arão e seus filhos tratando de garantir a legitimidade do poder que avalia, julga e dispõe sobre os corpos (pessoal/social), que no caso do Código de Pureza (Lv 11 – 15)  poderia ser identificado com os protagonistas do II. Templo. Colecionando e acomodando os códigos de pureza em relação a comida – sexo – saúde  o II. Templo se afirma como instância reguladora e restauradora do sistema vital.

A partir de materiais antigos, tabus sexuais e alimentares, visões do sagrado e do profano que se traduziam em diversas vivências corporais, se organiza um Código tendo como resultado imediato o deslocamento dessas dinâmicas do âmbito cultural-religioso para o âmbito cultual-religioso. Estas distinções e critérios de pureza e impureza, limpo e sujo vão viabilizar mecanismos de exclusão tanto para fins políticos e econômicos como cultuais.

Desfile das Campeãs

O Levítico tem a proposta de organizar toda a vida e suas redes a partir do altar, do sacrifício e do sacerdócio que expressam e representam a vontade e o mandamento de Deus. Esta noção de “rede” pode parecer moderna mas surpreendentemente corresponde ao modo como o Levítico articula as relações de relações do complexo vital.

O Levítico se ocupa com a ordenação e a integridade dos corpos: o corpo pessoal, o corpo social e o corpo da terra. Também aqui o uso de “corpo” pode parecer fora do lugar, mas o Levítico compreende as materialidades “encorpadas” que se relacionam no processo de vida e tudo está em relação com tudo. Os textos se ocupam com a coceira num corpo e com os mecanismos sociais de distribuição da terra, passando pelos arranjos familiares, relações de trabalho e conflitos.

Neste sentido, o Levítico não deve ser entendido como descrição de uma dinâmica social, mas como intervenção, como programa, como projeto de ordenação social. A geometria do Levítico é a do desejo de ordenação e não a do rigor da danação.

Um projeto que identifica a partir do ritual religioso as trocas culturais e econômicas e suas porosidades, suas inter-comunicações.

É a palavra ritual que ordena o mundo e suas relações. Ao distinguir os seres e suas espécies, os materiais e suas propriedades, as pessoas e seus corpos, os corpos e seus fluxos, os fluxos e suas substâncias. As substâncias: a vida.

E… é isso! a religião nada mais é que a ordenação do caos, a disciplina dos corpos

Durkheim, em sua obra clássica sobre a vida religiosa (1989: 452), discute a importância do elemento recreativo e estético na religião, mostrando (456), a interrelação entre cerimônia religiosa e a idéia de festa, pela aproximação entre os indivíduos, pelo estado de “efervescência” coletiva que propicia e pela possibilidade de transgressão às normas. o caráter distintivo dos dias de festa corresponde, em todas as religiões conhecidas, à pausa no trabalho, suspensão da vida pública e privada à medida que estas não apresentam objetivo religioso”. Para Durkheim, as festas surgiram pela necessidade de separar no tempo, “dias ou períodos determinados dos quais todas as ocupações profanas sejam eliminadas” [2]

[1]DOUGLAS, Mary
[2] http://www.osurbanitas.org/antropologia/osurbanitas/revista/Ferretti.html

Por: Nancy Cardoso Pereira

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