Retomada
A área retomada é parte da Terra Indígena Lagoa Rica/Panambi, já identificada, delimitada e reconhecida pelo estado brasileiro em 2011. Após a publicação do relatório, a demarcação ficou suspensa por três anos, em função de uma disputa judicial instaurada pelo Sindicato Rural de Itaporã. Em 2014, o Tribunal Regional Federal, 3ª Região (TRF-3) determinou que os procedimentos demarcatórios deveriam ser retomados, cancelando a suspensão. Totalizando 12,1 mil hectares, a homologação, contudo, nunca foi concluída, e os indígenas ocupam menos de 350 hectares da área total.
Tajasu Iguá é o terceiro acampamento em Lagoa Rica/Panambi. Em 2008, duas outras retomadas foram realizadas: Guyra Kambi'y – atacado por pistoleiros em setembro de 2015 – e Itay. Ambas permanecem no local.
Inicialmente, a PF havia estabelecido um prazo de 48 horas pra a realização do despejo. No entanto, os indígenas conseguiram estendê-lo por mais três dias. Os Kaiowá tentaram entregar uma cópia do Relatório Circunstanciado de Identificação e Delimitação de Lagoa Rica/Panambi, que comprova o reconhecimento da área como terra indígena, mas os policiais se recusaram a recebê-lo.
Mesmo tendo entrado com o pedido de reintegração de posse, o fazendeiro teria afirmado que não tinha interesse em retirar os Kaiowá da área, conforme relatam os próprios indígenas. “Ele disse que não iria tirar a gente de lá até a demarcação terminar. Então nós fizemos um acordo [extra-judicial] com ele, a Funai e o MPF, pra ficarmos só em 75 hectares de terra, e usar os 75 hectares de mata pra caçar e pegar madeira, sapé. E aí ele ia cancelar a reinteração. Só que aí o fazendeiro não cancelou”.
“Somos 23 famílias, 63 pessoas, muitas delas crianças”, explica a liderança Ava Jeguaka Hory. “Se por acaso eles vierem, pode ser qualquer arma pesada. A gente vai permanecer aqui do mesmo jeito”, afirma a Guarani Kaiowá Kuña Hory.