A imagem usada pelo ‘presidente’ Temer para celebrar a aprovação pelo Senado da Reforma Trabalhista ontem foi de uma fina crueldade. Qual é a caravana que passa? E passa onde? E passa sobre quem?
Passa sobre corpos estendidos, sobre corpos famintos e sofridos que reclamam por casa, terra, trabalho e pão. A caravana passa, massacra e mata porque os cavaleiros e os cavalos estão gordos de tanto comerem a comida do povo.
Os cavaleiros armados e com armaduras são mantidos por outros de ‘corpos sutis’ que de seus escritórios em qualquer lugar do mundo jubilam de alegria diante da vitória expressiva de Mamón. É Mamón sua divindade suprema. Por ele sacrificam vidas que nada significam para seu culto e sua glória. É Mamón que governa seu mundo.
Os políticos do governo são títeres de Mamón. São seus servos que apenas o ajudam a engordar seus cofres, suas Bolsas e dominar a terra em troca de benefícios que o fogo e as traças um dia comerão. Não gozarão individualmente de seus roubos. A bendita morte os alcançará. Um AVC, um infarto fulminante, um tumor maligno, um desastre inesperado, uma diarréia incontrolável os eliminarão.
Mas enquanto isso não acontece imaginam-se imortais. Crêem em seu poder. Corrompem-se mutuamente para gozar num instante breve das deliciosas iguarias recebidas pela glorificação de Mamón. Já recebem seus prêmios agora enquanto o povo ‘lazarento’ come migalhas caídas de suas mesas. Falam de humanidade e de respeito na medida em que estas palavras lhes servem. As banalizam para aparecer como cidadãos justos e dignos. Enganam os incautos e os que já não têm mais forças para entender o que está acontecendo no país e no mundo.
As bravas senadoras da oposição mantiveram a fibra das mulheres fortes defensoras do povo até o fim. Sentadas à mesa da presidência do Senado durante seis horas além das que gritavam e apoiavam-nas de seus lugares, tudo fizeram para impedir a ‘caravana’ de passar. Último recurso, talvez, mas um recurso digno que ficará na história política do país como o grito daquelas e daqueles que não podem dobrar-se e negociar o inegociável. O inegociável é a piora das condições de vida do povo brasileiro, ou melhor, da maior parte do povo.
Parabéns Fátima, Gleise, Vanessa, Regina, Lídice e tantas outras como Erundina, Benedita, Katia que bravamente com outros oposicionistas gritaram por justiça expondo-se à caravana loucamente desenfreada. E ainda assim, as senadoras foram acusadas por jornalistas e políticos de não agirem por força própria, mas por manipulações masculinas de fora. Incrível ousadia de querer virar o jogo desprestigiando a força das mulheres! E não só isto , foram também acusadas de perturbadoras da ordem do honrado Senado federal, algo nunca visto antes. Como se a mentira dos senadores fosse a ordem e a denúncia da mentira pelas mulheres fosse a desordem.
Mais uma vez confundem o povo com seus discursos sobre a ordem, sobre a lei, sobre a necessidade de modernização, sobre um bem que querem dar ao povo. Um ‘bem’ sem que o povo o escolha!