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Falar abertamente sem medo (Mt 10,26-33) [Gottfried Brakemeier]

A perícope faz parte do assim chamado “sermão missionário de Jesus”. Ainda antes da crucificação e ressurreição, os discípulos são enviados para levar adiante a proclamação de seu mestre.

Para tanto recebem a necessária instrução (v. 5). Trata-se de missão perigosa, cheia de riscos, pois o mundo é hostil aos emissários de Deus. O alerta confirmar-se-ia na sorte de Jesus e, poste- riormente, na perseguição sofrida pela primeira cristandade. Mas Jesus encoraja seus obreiros. Três vezes lhes diz: “Não temais!” (v. 26, 28, 31). É esse o propósito da perícope, a saber: motivar para a confissão destemida de Jesus Cristo perante todo o mundo. Quem assim faz tem a promessa de que também Jesus há de confessá-lo perante o Pai celeste (v. 32s).

Isso porque o evangelho é assunto público. Não permite ser mantido em segredo. Nenhuma oposição aos mensageiros será capaz de impedir que ele venha à luz (v. 26). Consequentemente, os discípulos são encarregados de divulgar o que Jesus lhes disse às escuras (v. 27). Devem tratar da “publicidade” da mensagem cristã. E não há o que temer dos “homens”. Esses podem matar apenas o corpo, não a alma, ou seja, podem destruir a vida física, mas não a pessoa. O temor é devido somente a Deus. Ele, sim, pode aniquilar o ser humano por inteiro (v. 28). Enquanto isso, violência humana é limitada em seus efeitos.

Ademais, a providência de Deus protege seus servos. O valor dos mesmos não se compara ao de pássaros. Não obstante, Deus cuida também desses (v. 29). Ora, “vocês valem mais do que muitos passarinhos” (v. 31). Enfim, Deus conhece o ser humano. Em forma de uma imagem extrema, Jesus diz que até mesmo os cabelos do ser humano estão contados. Assim ele consola seus discípulos amedrontados. É verdade que ele os manda como ovelhas para o meio de lobos (v. 16). Mas, no fundo, não há o que temer. Deus é maior do que os perigos deste mundo. Ele cuida de seu pessoal.

Portanto é a confiança em Deus que vence o medo. Jesus não ilude seus discípulos com respeito à realidade. Essa é cruel. Ele não diz que as crises são passageiras e que passarão ao largo dos fiéis. Pelo contrário, o testemunho corajoso provocará feroz oposição e poderá redundar em martírio. O mundo não gosta dos profetas. Paradoxalmente, porém, precisa deles para a sua salvação. Eis a razão por que o evangelho não pode permanecer escondido. Deve ser trazido à luz e anunciado abertamente para o bem da criação. Manter o evangelho em sigilo é ato culposo de quem foi enviado por Jesus. Os discípulos e as discípulas são cooperadores com a “reforma salvífica” que Deus promove em seu mundo. Caso deixassem de cumprir sua missão, privariam as pessoas de algo realmente essencial.

Meditação

Em que se baseia tamanha convicção? O pluralismo religioso da atualidade suspeita das verdades únicas e exclusivas. Com que direito afirmamos que so- mente nós dispomos da receita para a salvação? O exclusivismo religioso está na raiz de trágicos conflitos no passado e presente. Não será preferível admitir muitos caminhos à salvação? Para quem assim argumenta, o evangelho de Jesus Cristo será apenas uma via entre outras. Por que investir energia em fazê-lo conhecido? Cada qual, assim se sustenta, deverá ter o direito a seu próprio credo, seja muçulmano, cristão, luterano, católico, pentecostal, índio e até mesmo ateu. Pois religião é assunto particular. Somente tolerância poderá garantir a paz na terra, enquanto o fanatismo religioso alimenta o ódio e produz violência.

Igreja luterana não é igreja fanática. Pelo contrário, ela repudia qualquer violência praticada em nome de Jesus, o crucificado. O evangelho não constrange as pessoas, não as mete numa camisa-de-força nem lhes tira a responsabilidade própria. É verdade que a igreja cristã pecou em sua história. Usou da força para impor o seu credo. Maltratou pessoas, razão pela qual precisa fazer sincera peni- tência. Mas seria trágico se essa penitência significasse a renúncia à missão. Jesus continua enviando gente para espalhar o evangelho. Isso sem fanatismo, e todavia com determinação, bem assim como Jesus aqui neste texto explica.

Pois nem todos os credos são iguais. Há coisas que são vitais e que não permitem ser declaradas opcionais. Também o relativismo é perigoso. Destrói a normatividade. Joga as pessoas na incerteza e a sociedade no caos. Então cada qual segue a sua própria lei, de “fabricação caseira”, sem se importar com o resto. Jesus foi um inimigo da violação do próximo. Mas não menos foi do “vale-tudo” e do arbítrio individual. O evangelho a ser proclamado publicamente é fundamental para a saúde da humanidade, para a sua sobrevivência, para a sua salvação. Por quê?

As razões são muitas. Nós vamos nos ater a apenas uma. Foi aquela que fez eclodir a Reforma do século XVI. Lutero redescobriu o Deus misericordioso, que justifica por graça e por fé. Ninguém diga tratar-se de assunto obsoleto hoje. O apóstolo Paulo resumiu-o em palavras muito simples ao confessar de si: “Pela graça de Deus sou o que sou” (1Co 15.10). Por acaso não é essa uma das grandes verdades sobre o ser humano? A Reforma do século XVI insistiu na gratuidade que está na origem da vida humana e que lhe assegura o futuro. Quem produziu a si mesmo? Quem é dono de seu próprio destino? Lutero lembrou o ser humano de suas dívidas junto a Deus, que o jogam na dependência do perdão. Simultanea- mente, apontou para a misericórdia divina manifesta no Cristo crucificado, que lhe abre novas perspectivas. Gratuidade requer a acolhida pela fé, bem como a gratidão que glorifica Deus por suas maravilhas.

O evangelho a ser espalhado aos quatro ventos não é verdade “relativa”, opcional, negociável. Quem tem dúvidas quanto à sua validade não se presta a ser seu mensageiro. Certamente devemos nos envergonhar dos pecados na história da igreja, inclusive a luterana. Mas ai de nós se começarmos a nos envergonhar do próprio evangelho (cf Rm 1.16s). Nesse caso será ridículo dizer ser a missão a nossa paixão. Missão faz-se mediante intrépida confissão da fé. Importa ressaltar, no entanto, que o evangelho é oferta, jamais imposição que fere a liberdade e a dignidade das pessoas a que se destina. Deus respeita sua criatura como parceira, desistindo de violência de qualquer tipo. Missão é convite. Ela quer a adesão voluntária, não obrigatória. Jesus envia seus discípulos sem armas. Isso os torna vulneráveis. Tanto mais importante é a exortação: “Não temais”. Creio dizer nada demais se constato: Falta autoestima aos luteranos neste nosso país. Vivem por demais angustiados, desanimados entre os gigantes do catolicismo, de um lado, e do pentecostalismo, de outro. Cabe-nos sair da toca e enfrentar o mundo à nossa volta. É assim que Jesus quer os seus discípulos.

As resistências ao evangelho variam de lugar para lugar e de acordo com a época. Quem prega o evangelho em países islâmicos corre risco de vida. Em muitas partes do planeta, cristãos e cristãs sofrem perseguição violenta – incomparavelmente mais do que qualquer outro grupo religioso. Nos países ocidentais, as ameaças são outras. Entre elas menciono a privatização da fé, que a considera um segredo sobre o qual não se fala. Fé quase se transformou num “tabu” intocável. Para outros, fé é incompatível com a ciência. Seria coisa de ontem. O ateísmo moderno está em franca ofensiva, sugerindo a abolição da fé como algo danoso. Ignora-se que a ciência tem seus limites e que também o ateísmo tem seus credos. Ainda outros transformam a fé em objeto de mercado, sobre cuja validade decide a lei da oferta e da procura. Será isso o que Jesus ensina?

Fonte: Proclamar Libertação – Volume: XXXIV, no site www.luteranos.com.br.

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