O ex-arcebispo de San Salvador Óscar Arnulfo Romero, assassinado em 1980 por esquadrões da morte, foi beatificado neste sábado (23), em uma cerimônia realizada na própria capital de El Salvador.
A missa foi presidida pelo cardeal Angelo Amato, prefeito da Congregação para as Causas dos Santos. Sua festa santa será 24 de março, dia de sua morte, de acordo com uma carta do papa Francisco lida em latim e espanhol durante a cerimônia.
Em seu período no comando da principal arquidiocese do país, Romero se destacou pela firme defesa da não-violência e por condenar violações dos direitos humanos por parte do governo militar que ficou no poder até 1979.
Por conta disso, acabou entrando na mira de esquadrões da morte, que o assassinaram durante uma missa na capela de um hospital de San Salvador. O processo de beatificação ficou parado por anos no Vaticano, mas foi acelerado nos últimos meses por pressão de Francisco.
Processo
O processo para o tornar santo, em que a beatificação é a penúltima etapa, contou durante longos anos com a oposição da ala mais conservadora da Igreja e dos partidos de direita, que apontavam "ideias marxistas" ao bispo, crítico da repressão do governo.
A petição pela canonização do bispo Romero esteve parada durante anos na Congregação para a Causa dos Santos, no Vaticano, até fevereiro passado, quando o papa Francisco deu início ao processo declarando-o "mártir".
Ninguém foi julgado ou condenado pelo assassínio do bispo. Uma comissão de verdade criada pela ONU concluiu que o crime foi cometido por um esquadrão de morte da direita por ordem de Roberto D'Aubuisson, um antigo oficial do exército que morreu em 1992.
Virada canônica
Segundo o teólogo e escritor brasileiro Leonardo Boff, a beatificação de Óscar Romero traz uma nova interpretação do martírio. "Alguém que defende os pobres com a própria vida também é santo", afirma.
Para o ex-padre franciscano brasileiro, que já foi punido pelo Vaticano por pregar a Teologia da Libertação, este é um triunfo tardio. "Finalmente temos um santo da Teologia da Libertação para os pobres", diz Boff, acrescentando que isso também explica por que tantos chefes de Estado confirmaram participação na cerimônia religiosa, pois Romero seria um "santo político".
Fora do Vaticano, Romero tem sido reverenciado como um ícone da paz e da justiça. Em 2011, o presidente dos EUA, Barack Obama, se ajoelhou no túmulo do "bispo dos pobres". As Nações Unidas dedicaram um dia em sua homenagem, parlamentares britânicos o indicaram para o Prêmio Nobel da Paz.
CONIC com Jornal do Brasil e Agências internacionais