De janeiro a maio deste ano, 391 jovens foram assassinados no estado do Espírito Santo (Brasil), dos quais 77% são negros. É o que aponta a pesquisa "Homicídio juvenil: de quem estamos falando?", do Núcleo de Estudos sobre Violência, Segurança Pública e Direitos Humanos, da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES). O estudo foi apresentado, no dia 30, durante a sessão especial da Assembleia Legislativa do Estado, que debateu o tema: "Juventude em Marcha Contra a Violência e o Extermínio".
Os números apresentados ilustram o que a pesquisa "Mapa da Violência 2011" chama de "epidemia", considerando a alta taxa de homicídios entre jovens brasileiros, de 15 a 29 anos. Em 20 anos, a taxa cresceu 22,9 pontos, alcançando a marca de 52,9 assassinatos no universo de 100 mil. O índice de homicídios entre negros, por sua vez, é 3,7 vezes maior em relação a um jovem branco, de acordo com Índice de Homicídios na Adolescência (2010), da Secretaria de Direitos Humanos, do governo federal.
Para José Luis Bedoni, membro da coordenação estadual da Campanha contra Violência e Extermínio de Jovens, esse dado demonstra "uma grande exclusão da juventude negra, que, historicamente, tem menos oportunidades de acesso às políticas públicas". O homicídio seria uma última etapa de uma série de violações cometidas contra esses jovens.
Durante a apresentação da pesquisa acadêmica, feita pela professora Eugênia Raizer, percebeu-se que há uma maior concentração de atos criminosos nas regiões carentes do estado capixaba. Por outro lado, os homicídios são quase inexistentes nos bairros conhecidos como de maior poder aquisitivo.
Foi para combater essa realidade que jovens de todo o Brasil, a partir das Pastorais de Juventude e de outros setores da sociedade, formaram a Campanha Contra Extermínio de Jovens. O evento da última semana, proposto pelo deputado Claudio Vereza (PT/ES), está integrado às atividades dessa mobilização nacional.
Além de caravanas e seminários, outra ação proposta pelas organizações que participam da Campanha Estadual é o projeto Juventude Pela Vida, apresentada ao Governo do Espírito Santo, mas ainda sem retorno sobre a execução. De acordo com José Luis, o projeto prevê o desenvolvimento de alternativas para o combate a violência, a serem promovidas pela própria juventude, a partir da realidade de cada território.
Os projetos selecionados, através de edital, trariam a discussão da violência contra juventude para dentro das comunidades. Com o recurso destinado a cada grupo de jovens, eles iriam colocar em prática as estratégias por eles pensadas. "Formaríamos grupos em diferentes bairros e que estariam articulados em uma grande frente contra o extermínio de jovens", explica José Luis.
Violência contra jovens na América Latina
Na América Latina, de acordo com o Mapa da Violência, El Salvador lidera o ranking de homicídio de jovens, seguido por Ilhas Virgens, Venezuela, Colômbia e Guatemala. Cuba é o país com a menor taxa. O Brasil ocupa o sexto lugar. Em coerência com esse estudo, um relatório das Nações Unidas (ONU), de 2006, confirma que os jovens latino-americanos são os que mais correm riscos de serem assassinados, em todo o mundo.
Para mais informações: http://www.juventudeemmarcha.org