Quarenta e seis teólogos e teólogas da Libertação de toda a América Latina lançaram um manifesto de apoio ao Papa, numa carta calorosa e que remete ao melhor da tradição teológica latino-americana.
A carta foi entregue na última sexta-feira (20) a Francisco, em Roma, pelo teólogo brasileiro Elio Gasda. No texto, os signatários solidarizam-se ao “sofrimento” do Papa pelas perseguições que sofre devido a sua postura “profética e pastoral”, “neste momento dramático da história”.
Diz-se na carta: “Queremos expressar nosso apoio por dar centralidade ao grito da Terra e ao grito das vítimas do sistema anti-vida que sacrifica milhões e milhões de irmãs e irmãos empobrecidos”. E, adiante: “Como grupo, invocamos o Espírito para que siga iluminando-o e fortalecendo”.
O manifesto foi aprovado durante o Encontro Intergeracional da Teologia da Libertação – “A força dos pequenos” da rede mundial de teologia Ameríndia, que aconteceu entre 12 e 14 de outubro. A reunião foi na simbólica cidade mexicana de Puebla onde, em 1979, realizou-se a Terceira Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano (a Conferência de Puebla), que marcou o primeiro embate entre a Igreja latino-americana e o papa conservador Karol Wojtyla, eleito meses antes e que praticou um governo de terror e medo.
Apesar de os bispos da região terem conseguido aprovar um documento final avançado, o encontro ocorreu sob enorme tensão –os teólogos e teólogas foram proibidos de participar como assessores, o que era inédito desde o Concílio Vaticano II, por uma ordem conjunta do Vaticano e do ultraconservador cardeal colombiano López Trujillo, então secretário-geral do CELAM (Conferência Episcopal da América Latina) e a seguir eleito presidente do órgão. Mais de 50 teólogos e teólogas viajaram a Puebla, hospedaram-se espalhados pela cidade, e mantiveram encontros clandestinos com os bispos progressistas ao longo da conferência.
O objetivo do encontro foi reunir distintas gerações de teólogos e teólogas da Libertação, desde os fundadores, como Leonardo Boff, o venezuelano Pedro Trigo, a austríaca radicada em El Salvador Marta Zechmeister e a novíssima geração, representada, entre outros, por César Kuzma (Brasil), Geraldina Céspedes Ulloa (Guatemala/República Dominicana) e Larry Madrigal (El Salvador).
Numa das sessões do encontro Marta Zechmeister, destacou o legado “dos homens e mulheres que fizeram presente o mistério da morte e da ressurreição de Jesus, colocando-se ao lado das vítimas”. Ela expôs possíveis caminhos para a agenda da Teologia da Libertação, como “as novas linguagens que permitam recuperar a força libertadora da teologia, com um novo vigor, a favor dos marginalizados”.
Leia (em espanhol) a íntegra da carta ao Papa e a lista dos que assinaram.
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Fonte: A notícia é de Mauro Lopes, publicado em seu blog Caminho pra Casa, 23/10/2017. Divulgado pelo Instituto Humanitas, 24/10/2017.
Foto de capa: O teólogo brasileiro Elio Gasda entrega carta ao Papa na última sexta (20).