Cruz erguida no local onde Dorothy Stang, religiosa americana da Congregação das Irmãs de Notre Dame de Namur, foi assassinada em 12-02-2005, numa estrada isolada próxima do município de Anapu, Pará.
Dificilmente exista um católico americano com mais de 45 anos que não conheça a Irmã Dorothy Stang. Isto é, eles conheceram a freira americana arquetipicamente alegre, sorridente e disposta a prestar ajuda, uma pessoa que se colocava tão firme quanto o Rochedo de Gibraltar quando a justiça aos pobres era ameaçada e que se organizava de forma mais rápida do que os governos eram capazes.
O editorial da publicação norte-americana National Catholic Reporter, 11-02-2017, celebra a memória de Dorothy Stang. A tradução é de Isaque Gomes Correia.
Exige-se uma vida de fé e oração para fazer isto nos Estados Unidos. Requer-se uma forma de coragem cristã mais rara para fazê-lo num lugar longínquo.
No enterro da Irmã Dorothy Stang, em Anapu, no Pará, foi dito que a religiosa não estava sendo enterrada, mas “plantada” em solo brasileiro. O embaixador do Brasil em Washington disse numa cerimônia em homenagem à falecida missionária que as sementes dele já haviam brotado. Ele fazia referência ao compromisso do Brasil em acelerar os acordos de terra para locais de desenvolvimento sustentável a agricultores pobres.
E, no entanto, quando o sangue de Dorothy Stang se infiltrou na terra com as feridas das balas que lhe atingiram, ele fez mais do que plantar as sementes e a memória dela no Brasil. Ele também a vinculou a mais de um século de religiosas americanas que deixaram suas casas e aprenderam novas línguas a fim de entender as culturas das famílias ampliadas que elas se puseram a servir nos quatro cantos do mundo.
Algumas morreram nas guerras e em levantes. Algumas morreram em paz e em idade avançada, outras faleceram de doenças rápidas demais para curar ou demasiado distantes de tratamento médico que poderia salvá-las. Todas estas agentes eclesiais morreram enquanto viviam e serviam, milhares de quilômetros longe de casa. A maioria estaria satisfeita com que os seus restos mortais fossem colocados nos lugares onde tiveram o privilégio de trabalhar.
Elas também foram plantadas. Suas mudas também são baluartes da fé comprometida com a transformação e a justiça. Certamente, as Dorothy Stangs dos Estados Unidos estão em menor número hoje. Onde certa vez havia muitas centenas, agora há algumas poucas dezenas.
Elas eram, e são, juntamente com os padres, irmãos e voluntários leigos, os melhores representantes que a Igreja Católica deste país tem a oferecer ao mundo. Dorothy Stang entendida como vida foi morta pela violência, como costumava dizer:
Felizes são os pobres…
Felizes são os que têm fome e
cede de justiça…
Felizes são os que promovem a paz…
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Fonte: www.ihu.unisinos.br, 13/02/2017