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Carta de amor ao meu inimigo (7): Ele não foi batizado no Jordão

por Marcos Monteiro*

Meu querido inimigo,

O vídeo, as fotos e os comentários, sobre o seu batismo em Israel, por um famoso pastor da Assembleia de Deus no Rio Jordão, foi amplamente divulgado e lhe renderam reações, críticas, mas principalmente apoios e votos.

Estranhos votos de evangélicos. Porque depois da cerimônia, você continua se declarando católico, o que faria de você um ecumênico, palavra considerada maldita por boa parte do seu eleitorado cristão. Também continuou apoiando medidas contra trabalhadoras e aposentados, contra a vida de milhões de empobrecidas neste país.

Então, meu querido inimigo, quem é você? Não lhe parece que aquela definição de farsista lhe cabe bem e de que o seu batismo era somente mais uma manobra eleitoral? Mas você conseguiu: são muitos pronunciamentos individuais e coletivos de conhecidos e poderosos pastores declarando o seu apoio.

Muitas consideram esse o maior escândalo da história evangélica do país, eu não. Somente continuidade de uma série, porque as posições políticas dos evangélicos são as piores possíveis, as presentes e as passadas. A chamada bancada da Bíblia é conhecida por corrupção, oportunismo e fisiologismo, e apoia interesses opressores, junto à bancada da bala e à bancada do boi, a famosa BBB.

A grande maioria do povo evangélico é machista, preconceituosa, homofóbica, racista, totalmente afinada com o seu discurso, mas claro que o batismo aumentou os seus votos.

Antigamente, quando éramos minoria, os evangélicos consideravam a política coisa do diabo. Quando fomos crescendo, aprendemos a ficar do lado de seus representantes, o que não faz muito bem à sua imagem. Apoiamos oficialmente a ditadura, fomos contra a abertura, elegemos um candidato collorido, estivemos sempre ao lado dos piores políticos, pode pesquisar.

No Chile, os evangélicos foram sustentáculo na ditadura do Pinochet, símbolo universal de crueldade, tortura e morte. Mas não foi aquele que você afirmou que deveria ter torturado e matado mais?

Na Alemanha de Hitler, a igreja evangélica apoiou maciçamente o nazismo e o extermínio de judeus, como se Jesus não fosse um deles. Nos inícios do protestantismo, autorizamos com Lutero o massacre de camponeses, com Calvino a fogueira para bruxas e livre-pensadores, torturamos e matamos anabatistas e suas esposas, um estranho rastro de sangue.

Claro que houve e há exceções. Menonitas, batistas, a igreja confessante de Niemoller e Bonhoeffer, Martin Luther King Jr, e outras e outros passaram para a história como lutadores da justiça contra toda a forma de opressão.

Aqui no Brasil, mais de 3 mil evangélicos já assinaram uma carta que contraria totalmente candidaturas como a sua e no dia 29 de setembro, pastores, pastoras, lideranças evangélicas estávamos juntas no Elenão.

Então, meu querido inimigo, dá para entender como é difícil amar alguém igual a você, como Jesus me desafiou?

Pois bem, o batismo é o rito mais importante do nosso povo evangélico e é símbolo e sinal de conversão, e para que o seu mergulho no Jordão seja batismo você precisa mudar.

Então, converta esse discurso e essa atitude que Jesus não apoiou, e deixe dessa mania de querer ser presidente. Não será bom para você, nem para o Brasil, e nem para o evangelho.

Marcos Monteiro, pastor batista.

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