Um protesto organizado pelo Levante Popular da Juventude que iniciou em frente à sede do PMDB em Porto Alegre terminou em correria na Cidade Baixa, após a Brigada Militar arremessar bombas de gás lacrimogêneo e de efeito moral pelo menos cinco vezes em direção a centenas de manifestantes. Eles realizavam ato contra a posse de Michel Temer, que assumiu interinamente a presidência do país nesta quinta-feira (12), e também contra o presidente afastado da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, réu na Lava Jato, em manifestação que começou na sede do partido, na avenida João Pessoa, e seguiu em direção ao Largo Zumbi dos Palmares.
O ato foi acompanhado pela Brigada Militar desde o princípio, inicialmente com cerca de 20 policiais, a maioria do batalhão de choque, mas ao começarem os arremessos esse número já havia aumentado. A mobilização seguia pacificamente e os manifestantes trancavam por alguns minutos a rua Loureiro da Silva quando foi disparada a primeira bomba de gás lacrimogêneo, para “destrancar a via”.
Enquanto os ativistas corriam em direção à rua José do Patrocínio para escapar das bombas, comerciantes começaram a fechar as portas de estabelecimentos na Cidade Baixa. Na sequência, o grupo se reuniu na rua Sarmento Leite com a José do Patrocínio e os policiais novamente jogaram bomba. Depois de se dispersarem, os manifestantes chegaram na Rua da República com José do Patrocínio, quando a Brigada Militar apareceu e lançou mais bomba de gás lacrimogênio. Foi o momento mais tenso, já que o ataque foi próximo a duas escolas de Educação Infantil, que ficam na rua da República. Era o horário em que as mães e crianças saíam das instituições. Assustadas, muitas correram com os filhos no colo.
Cerca de meia hora após o início dos ataques, mais bombas foram jogadas, dessa vez de efeito moral, na esquina das ruas da República com Lima e Silva. Um grupo bem menor de manifestantes se concentrou no local, quando integrantes do Batalhão de Choque os dispersaram, novamente usando a mesma tática. Toda vez que os manifestantes fechavam as ruas, a Brigada Militar desobstruía de forma truculenta. Na Lima e Silva, uma mulher que passava pelo local e tentou atravessar a rua foi impedida por um brigadiano, que chegou a apontar uma arma para ela, que se identificou como policial civil. Um outro policial interveio e liberou a mulher para passar.
Depois da dispersão, manifestantes voltaram à Lima e Silva com a República e protestaram contra a truculência da Brigada Militar: “Não acabou, tem que acabar, eu quero o fim da Polícia Militar.” Pessoas que estavam em bares foram para as calçadas e muitas delas criticaram a postura dos policiais. Os manifestantes sentaram no chão, interrompendo o trânsito. Os policiais que tinham se afastado do local retornaram e a cavalaria avançou contra o grupo. Do outro lado, apareceu o Batalhão de Choque que avançou contra algumas pessoas que estavam na calçada e teriam protestado contra a agressividade da Brigada, jogando spray de pimenta. Por volta das 20h, a policia permanecia na esquina das duas ruas. Na calçada da Lima e Silva, policiais do Batalhão de Choque se enfileiravam. Já na República, brigadianos a cavalo permaneciam também na calçada, além de viaturas nos arredores. Os poucos manifestantes que ainda não tinham se dispersado permaneciam em outro lado da calçada, gritando palavras de ordem contra a polícia: “Golpistas, fascistas não passarão!”
Manifestação na sede do PMDB
A exemplo do que aconteceu em outros Estados, o ato na Capital contra Temer e Cunha ocorreu em frente à sede do PMDB. Por menos de meia hora, os manifestantes permaneceram na calçada em frente ao local e protestaram contra o presidente interino da República. “Temer nunca será presidente, será sempre um golpista”, gritaram em coro os militantes. Na calçada, os ativistas pintaram as frases “Fora, Temer” e “Cunha na cadeia.” Os manifestantes encenaram uma esquete com Cunha e Temer rasgando a Constituição.
“O que aconteceu hoje foi a efetivação do golpe”, afirmou Rafael Coelho, representante do Levante Popular da Juventude, sobre a aprovação no Senado, na quinta, da abertura de processo de impeachment contra a presidenta Dilma Rousseff (PT) e seu consequente afastamento. Para ele, o impeachment não tem base legal e o projeto político para o qual Temer foi eleito vice-presidente não é o que ele irá implantar no país. “É um golpe duplo, o impeachment tem duas cartas”, afirmou Coelho. De lá, os militantes partiram em direção ao Largo Zumbi dos Palmares, onde seria a dispersão, entoando cantos como: “Não me engana mais, fora Michel Temer, o povo não aguenta mais.” Até a chegada ao largo, os policiais do choque e a cavalo acompanhavam a manifestação a uma certa distância.