A arcebisba de Uppsala, Antje Jackelen, será a anfitriã do encontro. Responsável maior pela Igreja Sueca desde junho de 2014, Jackelen foi a primeira mulher a assumir a Catedral de Uppsala. Casada, com dois filhos e dois netos. 60 anos, foi ordenada na Suécia, em 1980, e desde 2007 exercia as funções de Bispa na Diocese de Lund, onde se dará o evento.
Um desejo formulado por muitos, ainda antes (e ainda mais depois) da publicação do decreto do Vaticano II sobre o ecumenismo – Unitatis redintegratio de 21 de novembro de 1964 –, um texto amplamente compartilhado, fruto da vontade dos Padres conciliares de iniciar uma prática de diálogo entre o diversas almas do cristianismo.
Ainda no ano anterior, por ocasião das celebrações de Trento para o 4º centenário "O Concílio de Trento e a Reforma Tridentina", tinha sido corajosamente inserida uma jornada ecumênica com a participação de um grande grupo de irmãos protestantes: naquela ocasião, o presidente do então Secretariado para a Promoção da Unidade dos Cristãos, o cardeal Agostino Bea, tinha sido questionado: "O senhor considera que finalmente se chegará a uma reunificação?". "Estou convencido de que, em 100 anos, ela poderia acontecer", foi a resposta, entre aplausos.
De fato, a visita já iminente (no dia 31 de outubro próximo) do Papa Francisco a Lund, na Suécia, com a celebração ecumênica prevista para a catedral, junto com o presidente da Federação Luterana Mundial, Munib Younan, e o evento subsequente na Arena de Malmö – um evento que está encontrando um interesse inesperado em toda a Escandinávia e nos países vizinhos – representam apenas a última peça de um mosaico de iniciativas levadas adiante nesses anos com vista a uma aproximação e diálogo destinados a se ampliar ainda mais.
Não é mais o tempo dos recíprocos fechamentos entre as Igrejas que se fundamentam sobre o único Evangelho de Jesus Cristo, ou, nas palavras do cardeal Walter Kasper, presidente emérito do Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos, na III Assembleia Ecumênica, que foi realizada em Sibiu, em 2007, "acabou o ecumenismo dos afagos", feito apenas de boas relações diplomáticas de fachada: é hora de um diálogo mais franco para eliminar o escândalo da divisão e restabelecer a unidade.
Entre os inúmeros sinais que testemunham essa precisa e compartilhada vontade de virar a página, está a apresentação, na semana passada, em Munique, de um documento conjunto de caráter histórico-pastoral publicado pela Conferência Episcopal Católica Alemã (DBK) e pelo Conselho da Igreja Protestante na Alemanha (EKD).
Uma Palavra comum
Coube ao arcebispo de Munique e presidente dos bispos alemães (membro também do Conselho dos Nove colaboradores do Papa Bergoglio), o cardeal Reinhard Marx, e ao seu colega luterano Heinrich Bedford-Strohm, ilustrar, na sexta-feira, 16 de setembro, o novo texto de 92 páginas, que traz um título altamente significativo: "Curar a memória, testemunhar Jesus Cristo".
A expressão, que também pode ser lida como "cura ou purificação", de acordo com os dois bispos, foi escolhida especificamente como um lembrete da situação na África do Sul, no rescaldo da eliminação do apartheid: não se apagam facilmente da memória coletiva das pessoas anos de divisões e acusações recíprocas; é preciso uma intervenção mirada e paciente a partir do ponto de vista cultural para modificar convicções e atitudes.
Por isso, é necessário identificar palavras e maneiras para dar a conhecer aos membros das respectivas comunidades todos os passos dados no caminho ecumênico pós-conciliar, que ainda não se concluiu.
Daí a importância dessa "Palavra comum", entendida tanto como um documento que se fundamenta no único Evangelho, quanto como um texto compartilhado entre "irmãos", embora ainda "separados". Um texto que representa a base teológica para toda aquela série de celebrações que já iniciarão nos próximos meses, em diversas localidades de toda a Alemanha, e se concluirão no dia 31 de outubro de 2017, aniversário da publicação das famosas teses de Lutero.
"Uma ferida só pode se dizer curada se, ao tocá-la, a cicatriz não dói mais…", explicou o cardeal Marx.
"Desta vez, será diferente", prometem Marx e Bedford-Strohm no prefácio em referência à intenção específica (repetida várias vezes) de comemorar juntos o aniversário, com "um grande evento ecumênico". "Será um momento extraordinário para as nossas comunidades: depois de séculos de fechamentos, hoje há a vontade de perdoar e de olhar para o futuro", porque, "com o Vaticano II, se começou a respirar novos ares".
A "cultura da memória"
Depois de uma série de aniversários caracterizados por acusações mútuas, é possível olhar para a frente juntos, apenas na plena partilha de uma memória comum dos fatos históricos: foi a partir dessa afirmação que teve início a redação do documento (em preparação desde 2012) que apresenta uma substancial primeira parte dedicada à "cultura da memória".
Uma descrição das diversas perspectivas e das feridas mútuas do passado, desde os anos de Lutero e da Contrarreforma, à qual se segue uma detalhada descrição dos passos dados pelo movimento ecumênico, sem esconder as inúmeras questões ainda em aberto, como, por exemplo, o nó da Eucaristia.
Uma abordagem rigorosa na descrição dos fatos históricos, em que um assunto interno da Igreja foi assumida como motivo de conflito político (conforme a Dieta de Worms em 1521), no contexto das guerras religiosas daqueles anos, que lembra muito de perto a de um grande historiador do Concílio de Trento, Hubert Jedin, canônico da Breslávia ("Por seu mérito, aconteceu aquilo que nunca tinha acontecido antes: a partir de uma situação verdadeiramente comprometida, nasceu a possibilidade de contar a história de forma diferente", dizia o historiador trentino Mons. Rogger, entrevistado pelo sítio Settimana News em 2013).
"É preciso resistir à tentação de assumir a própria identidade como medida teológica. Os preconceitos, por tantos anos enraizados nas nossas Igrejas, poderiam ser um obstáculo para a reunificação. Por isso, é ainda mais necessário enfrentar juntos os acontecimentos do passado e pedir perdão a Deus hoje. Tenho certeza de que o processo espiritual de cura da memória e a reconciliação recíproca permitirão nos aproximarmos com sinceridade e nos entendermos uns aos outros nas respectivas posições", disse Marx, testemunhando um clima marcadamente diferente.
Assim como é diferente do passado, mas também realmente nova (como ensinado com tanta paixão por Iginio Rogger, por 40 anos, no Seminário de Trento e no Instituto de Ciências Religiosas), a avaliação da figura e da ação de Martinho Lutero.
No rastro das palavras do Papa Francisco na coletiva de imprensa no voo de volta da Armênia ("As suas intenções não estavam equivocadas, ele era um reformador") ou das reflexões mais sistemáticas do cardeal Kasper, durante 10 anos arcebispo de Stuttgart, no seu último texto (Martin Lutero. Una prospettiva ecumenica, Bréscia: Queriniana, 2016), o presidente dos bispos alemães continuou: "Como católicos, podemos reconhecer com toda a honestidade que a sua intenção era a de renovar a Igreja Católica, e não fundar outra. Ele queria chamar a atenção para o Deus clemente e misericordioso e despertar as pessoas do seu tempo".
"É preciso admitir com toda a sinceridade que os conflitos do passado, hoje, parecem ser bastante vergonhosos", reconhecia com toda a honestidade o bispo Bedford-Strohm, que, junto com Marx, também entrevê um valor social na comemoração do aniversário: não só como um evento interno para as duas Igrejas, mas sim como o motor de uma autêntica "reconciliação" da sociedade alemã inteira nos últimos meses, dilacerada por muitas divisões.
Em oração, juntos
Apesar da complexidade dos pertencimentos e dos equilíbrios internos no mundo das Igrejas Reformadas (a EKD não é membro da FLM), o novo documento aparece em segundo lugar somente em comparação com o "Do conflito à comunhão", publicado em 2013 pelo Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos e pela Federação Luterana Mundial, mas não é nada secundária a parte que contém uma longa série de orações compartilhadas e utilizáveis, desde já, em encontros ecumênicos.
E, na longa série de eventos programados em terras alemãs a partir de hoje até o dia 31 de outubro de 2017, deve-se assinalar precisamente a solene celebração conjunta, com o relativo pedido de perdão, que será realizada em Hildesheim, na Baixa Saxônia, no dia 17 de março, próxima vigília do Segundo Domingo da Quaresma (de grande significado também é a peregrinação conjunta entre os membros dos dois conselhos de presidência que será realizada no dias 16 a 22 de outubro próximos, na Terra Santa, local de origem da única fé em Jesus Cristo).
O aniversário de 2017 também está na pauta do dia da Assembleia Plenária de outono dos bispos alemães, que foi aberta no dia 20 de setembro com a missa na catedral de Fulda e com a homilia do presidente, Marx (centrada na doutrina social da Igreja como resposta às dilacerações sociais de hoje: "A nossa tarefa comum é trabalhar pela justiça e pela paz, pela proteção da criação, pelos refugiados e pela superação das causas que levam a tais dramas", afirmava, em comunhão ideal de intenções com o encontro ecumênico que se realizou em Assis), embora a atenção seja dirigida aos dramáticos cenários do Oriente Médio (com a presença e a relação de Dom Bashar Warda, arcebispo de Erbil, no Curdistão iraquiano), à acolhida aos refugiados, ao exercício da caridade para a construção de uma sociedade mais justa (conforme a homilia do cardeal Rainer Maria Voelki, arcebispo de Colônia, no dia 21 de setembro).
Dignas de nota também foram a apresentação da nova tradução da Bíblia em língua alemã (iniciada em 2003 pelas Conferências da Áustria e da Alemanha e pelo bispo de Bolzano-Bressanone) e a renovação dos membros das Comissões Episcopais.