Direitos Humanos

Eleição de candidatos LGBTs cresce no mundo, mas não no Brasil

As últimas eleições para o Parlamento do Reino Unido terminaram em 8 de junho com um saldo positivo para a representatividade LGBT na política.

Foram eleitos 45 membros do parlamento, 19 do partido Conservador, 19 do Trabalhista e outros sete do Partido Nacional Escocês – um recorde para a Casa.

Na Irlanda, um país tradicionalmente católico, um filho de imigrantes e gay assumido, Leo Varadkar, foi recentemente escolhido pela população como o novo primeiro-ministro.

Nos Estados Unidos, americanos abertamente LGBT participam de gabinetes políticos desde 1974, quando Kathy Kozachenko foi eleita em Ann Harbor, Michigan. Atualmente, sete membros do Congresso norte-americano identificam-se como gays ou bissexuais, segundo levantamento do site NPR.

No Brasil, palco de uma das maiores manifestações de Orgulho LGBT do mundo, gays, lésbicas, bissexuais e transgêneros ainda estão longe do poder político. Na Câmara dos Deputados, há apenas um representante da diversidade: Jean Wyllys (PSOL-RJ), figura constantemente atacada por colegas conservadores de parlamento.

“Nenhuma democracia pode se considerar uma democracia se direitos de gays, lésbicas e transexuais não forem observados e promovidos de alguma maneira, se houver discriminação jurídica, se as leis não protegerem os direitos desses cidadãos”, afirmou o deputado em entrevista na TV Brasil, ao constatar que as políticas públicas para este grupo avançaram muito pouco nas últimas duas décadas.

 Um LGBT é morto a cada 25 horas no Brasil. Só neste ano, 117 gays, lésbicas e trans foram assassinados no País. A triste estatística, divulgada pelo Grupo Gay da Bahia, mostra a persistência da violência LGBTfóbica no contexto brasileiro. Para Genilson Coutinho, membro do GGB, a ausência de uma lei que criminalize a violência e a discriminação contra essa população e de políticas públicas acabam por institucionalizar a selvageria.

Ele lembra conta que muitos casos deixam de ser registrados em delegacias, por exemplo, porque as vítimas passam por constrangimentos, o que acaba sendo uma segunda violência. “Elas acabam sendo culpabilizadas e responsabilizadas pela violência que sofreram”, disse à Agência Brasil.

O quadro da participação LGBT na política institucional brasileira está mudando, mas lentamente. Levantamento realizado a cada pleito pela Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (ABGLT) revela que 377 LGBTs concorreram nas eleições municipais de 2016. Trata-se do maior número de concorrentes desde que a organização começou a realizar a pesquisa. Desses, 25 vereadores e um prefeito foram eleitos. Se por um lado houve aumento do número de candidatos, diminuíram os vitoriosos. Em 2012, 110 participaram e 29 elegeram-se.

A população LGBT no Brasil é estimada em 20 milhões de pessoas, segundo projeções do IBGE. O número, porém, pode ser subestimado, já que muitos podem ainda optar por não declararem a orientação sexual no momento da pesquisa.

Um levantamento realizado pelo professor Felipe Borba, do departamento de Estudos Políticos da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UniRio), buscou identificar as preferências políticas dos participantes da 21ª Parada Gay realizada em 11 de dezembro de 2016 no Rio de Janeiro. A conclusão foi que 30% têm alto interesse por política e 47% interesse médio. A soma da proporção é acima da média da população em geral. As informações são do jornal O Globo.
 
O que explica, então, a baixa presença de quadros da diversidade na política brasileira?

Outro estudo, realizado pelo doutorando em Ciência Política pela UnB, Cleyton Feitosa, dá algumas pistas. Ele aponta, por exemplo, a predominância da cultura masculinizada e heterossexual na esfera pública e o filtro dos partidos, que nem sempre acolhem essas candidaturas, como obstáculos.

“Como o campo político é pouco permeável às pautas e pessoas LGBT, há uma notória tendência do eleitorado em votar em candidatos que detém o perfil dominante da arena política, ou seja, masculina, burguesa, branca e heterossexual, mesmo entre o eleitorado LGBT”, escreve Feitosa em artigo publicado no Justificando.

“Esse conjunto de fatores e obstáculos operam diretamente na ausência de motivação e ambição política para que a população LGBT se lance na disputa eleitoral, assim como outros sujeitos e sujeitas discriminados socialmente. Sendo assim, não se trata de “não gostar” da política, mas sim de não ver nela um horizonte de possibilidades concretas alcançáveis”

Fonte: Carta Capital, 19/06/2017.

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