Quem vive no Semiárido Brasileiro está sujeito a enfrentar as intempéries da natureza e problemas como a escassez da água e de alimentos. Mas o Semiárido é um espaço viável, devido à biodiversidade que o bioma da Caatinga oferece.
As comunidades tradicionais, apesar de se adaptarem ao bioma, por vezes, não se dão conta de suas viabilidades e das condições favoráveis pouco exploradas e aproveitadas e chegam a pensar que a migração é melhor saída. Em centros maiores e sem a sua terra, entretanto, o sofrimento torna-se ainda maior.
Nas regiões onde o CEBI se faz presente, a maioria dos grupos que estudam a Bíblia já entendeu o valor de possuir a terra e, através de programas e reforma agrária, conquistou o seu pedaço de chão. Falta, porém, o cuidado com o meio ambiente e com o lixo produzido. O trabalho do CEBI, por meio da leitura da Bíblia, é ajudar a ampliar a percepção e a organização de vivência grupal para aproveitamento das viabilidades locais, como: criação de pequenos animais, melhoramento do rebanho, aproveitamento de baixa (faixa de terra molhada), preparo de roças orgânicas para evitar a evaporação da chuva, sem o uso das queimadas. Mesmo quando feitas de forma controlada, elas são uma grande causa de depredação ambiental.
A prática da Leitura Popular da Bíblia leva a perceber que a terra é um dom de Deus e não pode ser degradada, vendida ou destruída. Essa compreensão precisa ser transmitida de geração para geração. Por isso, a leitura motiva a uma consciência de que esse dom é nosso e precisa que haja uma integração e compreensão de que nós somos partes dela e ela é parte de nós.
Conquistas
As comunidades da região possuem histórias bonitas. Em vários casos, as primeiras bíblias foram adquiridas através da venda de ovos e de galinhas doadas pelas famílias participantes. Aos poucos, a leitura bíblica criando raízes e serve como animação da vida das comunidades em suas lutas e conquistas diárias.
Na comunidade de Frasa, depois de vários avanços, as famílias corriam o risco de ter que abandonar completamente a área. Motivo: falta de partilha da água. As cisternas não haviam sido ainda construídas e o acesso ao único reservatório foi proibido. Para forçar que as famílias abandonassem a aérea, o fazendeiro vizinho determinou a seu funcionário que negasse a água às famílias. Foram as mulheres do grupo da Escola Bíblica que conseguiram convencer o funcionário a descumprir a ordem do fazendeiro: “Assim como as parteiras descumpriram a ordem do faraó, você deve fazer o mesmo para salvar a vida de nossas crianças!“
A foto do homem atravessando o riacho conduzindo o jumento é de maio de 2011. No período das chuvas, não havia como atravessar o riacho de carro. O desespero das famílias era quando uma pessoa ficava doente. O poder público se fazia omisso. As pessoas participantes das escolas bíblicas de Fazendinha e Gameleira se organizaram e lutaram até que conseguir que a prefeitura fizesse a estrada. Hoje as comunidades têm estrada e transporte para a cidade o ano inteiro.
Nos últimos anos, a seca castiga um pouco mais. Ainda assim, as famílias entendem que as dificuldades são menores do que se estivessem nas periferias das cidades. O trabalho realizado de construção de cisternas, realizado em mutirão, em parceria com outras entidades, e motivado pela leitura bíblica, dá grandes resultados. A conversa de Jesus e a Samaritana (Jo 4) ao redor do poço já motivou muita gente a buscar conservar água que cai da chuva. Os programas de assistência social implantados a partir do governo Lula ajudam a minimizar a fome, mas podem ser incentivo ao comodismo.