O Seminário aconteceu em Curitiba nos dias 20 e 21 de outubro, nas dependências do Instituto Nossa Senhora de Salette, berço do CEBI-PR, onde todo o grupo foi carinhosamente acolhido pelo Pe. Angelo Perin, um dos fundadores do CEBI-PR, que não se cansava de fazer memórias e da importância do CEBI para sua vida .
Marcado por momentos de muita mística e espiritualidade renovadora da esperança, a Irmã Tea Frigerio, do CEBI-PA, assessorou o encontro com seu jeitinho doce e tranquilo, provocando a inquietude e o encantamento pela Leitura Feminista em 35 pessoas presentes no encontro. Homens e mulheres de diversas tradições cristãs, pastorais e movimentos, além de representantes das sub-regiões que compõe o CEBI no estado.
Iniciando sua fala, Tea nos apresenta os passos e chave de Leitura Feminista da Bíblia como caminho de interpretação, que possibilite uma hermenêutica bíblica feminista, que leve a uma leitura libertadora. Tea destacou que a bíblia, para nós mulheres, foi por muito tempo um livro fechado, muitas vezes usado para legitimar a exclusão, o domínio, a dependência e até a violência contra a mulher. É de fundamental importância encontrar a chave para abrir a porta hermeneuticamente fechada da Bíblia, pois ao abri-la, poderemos encontrar a Palavra que aponte o caminho para uma leitura e vivência libertadora para as mulheres e outras categorias, também oprimidas pelo poder de uma sociedade patriarcal e opressora das minorias.
Através de atividades em grupos, Tea nos apresentou os 5 passos para uma leitura hermenêutica bíblica feminista, utilizando para isso textos do primeiro e do segundo testamento sendo eles:
- o 1º Passo: realidade, que consiste em olhar a vida, a realidade das mulheres em sua condição enquanto mulher e aprender a ler simbolismo que revela a experiência humana o que as palavras não conseguem expressar.
- O 2º Passo: interagir, encontrar as mulheres na Bíblia e dialogar com elas, através dos simbolismos que permeiam o universo feminino.
- O 3º Passo: suspeitar, como uma atitude que visa investigar e encontrar a presença da mulher seja na história como na bíblia, na maioria das vezes esquecida, negada, silenciada e explorada, ousar tocar o texto bíblico, confrontar as traduções e suspeitar delas.
- O 4º Passo: desconstruir – nomear, esse passo é muito importante, pois nos coloca em contato direto com o texto buscando uma exegese fiel ao texto e as mulheres. Por meio de um estudo sério, podemos desconstruir o que o patriarcado nos transmitiu e deixou como herança e nomear a mulher como sujeita e protagonista da história e da revelação.
- E por fim, o 5º Passo nos ajuda a reconstruir, devolver a presença e a palavra às mulheres. Liberdade de recriar, reescrever, festejar, celebrar os textos bíblicos para encontrar o sagrado em nossa vida cotidiana e política.
A partir das experiências vivenciadas e celebradas em torno dos textos, seguindo esses passos, foi possível vislumbrar uma nova ótica e forma de criar novas relações entre homens e mulheres. Os textos nos mostram que para se sustentar, o patriarcado precisa criar e alimentar a inimizade entre as mulheres. Por isso, muitos textos apresentam histórias de mulheres que são inimigas entre si. A mística inicial, onde cada um e cada uma apresentou o nome de uma mulher, uma matriarca que fora importante para nossas vidas, nos ajudou muito nesse processo de se criar uma forma de resistência a esse paradigma. Nos tornarmos mais amigas, honramos mais o feminino em nós criando espaços femininos de partilha, onde a mulher se sinta segura para falar e expressar o ser divino que habita dentro de nós.
“Esse encontro marcou profundamente meu ser. Compreender o olhar das mulheres e o feminismo como forma de luta por todas e pelas minorias, integradas com o Sagrado, a Ecologia, a diversidade me fez esperançar, especialmente nesses dias de tanta opressão. Buscar luzes na história das mulheres da Bíblia, esquecidas, caladas, sem nome, a mercê de interesses patriarcais e dominantes iluminou a luta no presente. Temos que ousar. Ousar olhar pra trás, correr riscos… suspeitar, desconstruir, reconstruir. A integração e amorosidade do grupo permitiu a liberdade e empatia que ainda me emociona. Me sinto fortalecida. Sinto a cumplicidade de tantas outras em favor da vida. Gratidão ao CEBI PR pela oportunidade. ‘Não nos afastemos… vamos de mãos dadas…'” (Leoni A.Garcia – Londrina-Pr).
Leitura Feminista da Bíblia, presente!
Na alegria do encontro e na expectativa de novas experiências com a Leitura Feminista da Bíblia, saímos todos e todas motivadas e comprometidas em realizar um trabalho de base, em nossos grupos e espaços de partilha, despertando novos olhares, trazendo na boca o doce sabor do mel que é símbolo de vida e de resistência. Nos despedimos sentindo saudades de momentos inesquecíveis de descobertas, luzes e emoções.
Irmã Tea nos apresentou um rosto de Deus feminino. Embora em nossas tradições seja apresentado como um ser divino com características masculinas, na Bíblia, sobretudo no Primeiro Testamento, o espírito de Deus é feminino, é Ruah, a divina energia que dá vida a tudo. Conforme o texto em Gênesis diz: “façamos o ser humano a nossa imagem e semelhança”.
“Nós falamos de Deus através do imaginário feminino, se sou mulher, sou imagem e semelhança de Deus, eu tenho todo o direito de pensar, imaginar e buscar essa imagem feminina de Deus e de descrever Deus como mãe, como
força e energia feminina.”
Por isso, em nossas saudações, no lugar de dizer: “Deus te abençoe”, dizer:
“Fique com as bênçãos da divina Ruah – Amém, Axé, Awere, Aleluia!”
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Partilha de Wania Scarpetto, Coordenadora do CEBI-PR.