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CEBI-PA: Seminário reflete as leituras Feministas da Bíblia

Nos dias 16 e 17 de junho ocorreu o Seminário sobre Hermenêutica Feminista, em Ananindeua, Pará.

Reunidas e reunidos na casa de Retiro Nª Sra. de Lourdes, 15 mulheres e 2 homens participaram da atividade. Acompanhe o relato de Rejane Gomes da Costa, de confissão Cristã Luterana, que esteve no evento.

Bioma mulher, mistura de corpos em movimento

Uma mulher nos foi apresentada, de muito longe ela era, de Samaria (Jo4,1-42). Seu nome ninguém sabia, pois não houve registro sobre o mesmo. Que pena, mais uma mulher foi deixada no anonimato.

Porém, aquela que nos conta a história, Tea, já começa nos provocando: “Que  nome daremos para esta mulher?”.

Realmente, precisamos saber mais sobre esta mulher, sobre sua conversa com Jesus à beira do poço em Samaria. E como Jesus, um judeu, fala com uma samaritana? E qual o assunto que ela aborda, em relação ao lugar certo de oração. Também, sobre a revelação que Jesus faz sobre ele mesmo: “Eu sou”. E também o que ele diz sobre quem ela é.

Anunciação

Pois bem, esta mulher agora vai ser chamada por Anunciação (fizemos a escolha do nome dela). A mesma nos convida a trilhar o caminho da espiritualidade, da criação.

E aqui cabe uma pergunta: “qual a espiritualidade que nos move?”

Este é um caminho que nos leva a um encontro. Segundo Matthew Fox

 “Uma das maneiras para caminhar na espiritualidade da criação é compreender os caminhos como quatro orientações que nos podem energizar na viagem. São como pedras milenares, sinalizações que nos reasseguram que não estamos viajando sozinhas, mas junto ao corpo místico, na comunhão dos santos e santas e na tradição da espiritualidade da criação do passado e do futuro. Juntas, a este corpo, o movimento da espiritualidade da criação viaja num caminho em espiral.”

Os quatro caminhos da espiritualidade da criação são apresentados ainda com questionamento: onde se encontra Deus/Deusa nos dias de hoje?  E a experiência do divino? E ele mesmo responde que a espiritualidade da criação, o divino, está em todos estes lugares.

E com essas ideias concluímos que estamos no caminho, pois “a vereda da espiritualidade escolhida, não nos leva fora do mundo, mas nos faz abandonar a superficialidade para entrarmos em profundidade; deixar a pessoa exterior para entrar na pessoa interior; deixar o privado, o particularismo, o individualismo para entrarmos naquilo que é profundamente comunitário.”

Foi Tânia que nos fez lembrar de nosso compromisso, isto é, que as fotos nos revelam momentos preciosos! “A vida é trem-bala, hoje estou perto e ao mesmo tempo longe. Por isso, os registros seguidos da escrita marcam a história”, enaltece Tânia. É verdade, gosto de suas palavras.

É como o escritor Bartolomeu Campos de Queiroz que em “As palavras sabem muito mais longe”, afirma:

“Palavras que amamos tanto há muitos anos dormem em dicionário. Hoje tirei do sono quatro palavras para dar de presente à vocês: livramento, confiança aprendizado e acolhimento. Peço sua ajuda para fazer dormir palavras que há muito andam acordadas: violência, desconfiança e auto-suficiência. Como são fortes as palavras! Elas dizem coisas que só o coração escuta… Sei que as palavras podem abrir novo caminho”

Anúncio de fé

Jesus e Anunciação se encontram, e o silêncio é verbalizado. Jesus parece que marcou um itinerário para se encontrar com alguma pessoa. Aquela mulher poderia não mais voltar ao poço (lugar considerado impuro para os judeus), porém ela resolveu não permitir que mais uma vez um judeu conduzisse sua vida.

Aquilo que nos amedronta, que nos faz temer está nos calando com o silêncio que nós mesmas nos impomos com o medo do que podemos encontrar. 

Nós também fomos ao poço, olhar o que tem lá dentro “Tiramos os entulhos para deixar a fonte de água viva brotar”, dizia Celina para o grupo.

E como a Anunciação, tivemos um encontro, verbalizamos nosso silêncio, “o que me desgasta? O que limita, baixa minha energia e torna minha vida pesada? Quais os silêncios que ocultam o normal em nós e ao nosso redor? Verbalizar numa frase ou numa palavra a reflexão feita”.

E assim ouvimos e falamos de nosso sentir. Não me sinto mais sozinha. Em comunidade somos escutadas em nossas necessidades. Precisamos ouvir e falar sobre o que está acontecendo ou sobre o que estamos sentindo para poder haver transformação.

Anunciação continua

Por cinco vezes pensou ter encontrado o amor idealizado, porém continua insatisfeita. E sobre aquela pergunta: “onde adorar?”. Jesus responde: “a divindade estava presente na vida”. A partir desta conversa ela vai e anuncia, pois agora sabe o que fazer para desobstruir o seu próprio poço. Ela foi escutada em seus questionamentos e sentimentos.

“Ele matou minha sede”.

Como luteranas fomos acolhidas e apreciadas na “parceria de sempre”. Oramos juntas e juntos a Ave Maria e o Pai Nosso. Trouxemos a nossa presença uma realidade que nos trás sofrimento (as mulheres prisioneiras do outro lado do muro, a vida do Genival, Norma, como também de tantos outros que não puderam estar conosco). Cantamos “ouve senhor, estou clamando, tem piedade de mim e me responde”. Por que a espiritualidade da criação não é individual, mas sim coletiva.

Mulheres católicas e luteranas de Belém, Igarapé Miri, Capanema e Marudá confeccionaram uma boneca de pano, que representou a mulher Anunciação.

Dois irmãos de Icoaraci também estiveram conosco neste tempo de estudo bíblico, promovido pelo Cebi. Que honra participar mais uma vez desse tempo de recolhimento e estudo em ambiente agradável e alimentação tão gostosa.

Iniciamos nosso encontro com palavras de apreciação mútua para com nossos irmãos e irmãs, palavras do nosso coração, e foram muitas palavras que valorizaram nosso ser. Terminamos o mesmo com um compromisso, “seja como a flor de lótus: renasça a cada dia diante da adversidade. Claro, essa flor é uma inspiração, a qual poderá, como os quatro caminhos da espiritualidade da criação, nos orientar no percurso da nossa caminhada, a qual acontece em espiral e não em um círculo.

 

Fonte: Rejane Gomes da Costa e Celina, do CEBI-PA.

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