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CEBI-MS realiza encontro com mulheres indígenas do cerrado

MULHERES SÃO COMO ÁGUAS, QUANDO SE ENCONTRAM, CRESCEM

A frase acima, embalou o encontro de 22 mulheres indígenas, de nove etnias do Cerrado do Brasil, e de oito mulheres não indígenas.

Nos dias 09 a 12 de julho de 2019, em Campo Grande/MS, realizou-se uma oficina promovida pela CESE, com apoio da Heks, contando com a parceria do CEBI-MS e do CIMI, sobre “Formação em Relações Sociais de Gênero e Elaboração de Projetos”. Estiveram representas as etnias: Guató, Bororo e Myki, de Mato Grosso; Transepáng, de Roraima; Guarani-Kayowá, Kinikinau e Kadiwéu, de Mato Grosso do Sul; Tuxá, de Minas Gerais; além de outras representações de associações indígenas do Cerrado.

A oficina teve como objetivo aprofundar as concepções de gênero a partir das experiências concretas das mulheres indígenas do Cerrado e fortalecer as capacidades em torno da elaboração de projetos, contribuindo para que as mulheres indígenas possam, compreendendo melhor sua realidade, estabelecer propostas de superação de algumas de suas dificuldades.

Sob a orientação Viviane e Olga (CESE) o grupo se exercitou no uso de ferramentas para elaboração de projetos em campos temáticos prioritários: direito a terra e água e território, autonomia econômica das mulheres, fortalecimento dos espaços de auto-organização das mulheres, direito à identidade na diversidade, agroecologia e resiliência, participação efetiva em espaços de poder e incidência política.

Lágrimas de luta e alegria se misturam

Foram momentos fortes de partilhas de vida, das conquistas, das dificuldades em serem reconhecidas enquanto grupo sociocultural. Muitas mulheres em suas etnias já conquistaram as lideranças. Outras são as guerreiras das canetas, ou seja, mulheres que vão para a universidade para ampliar conhecimentos e incentivar as demais.

Carmem S. Maria Silva, do SOS Corpo, mediou o diálogo sobre políticas sociais e de gênero. Ao partilhar suas histórias, muitas das mulheres reconstruíram seus conceitos acerca do que vivem e entendem por feminismo. Falas de gente que se empodera: “quero ser símbolo das mulheres que lutam por uma causa”; “lágrimas de luta e alegria se misturam”; “a nossa luta é contra o patriarcado”; “exijo o direito de falar de igual para igual com o cacique”; “nos reconhecermos como mulheres, indígenas ou não, nos fortalece, ajuda na organização, na luta: nós mulheres também precisamos nos reconhecer”; “mulheres que rompem com as estruturas”. Na visão das mulheres indígenas, “não há divisões, feminismo é feminismo, é a luta, o ser mulher, lutar para e com as mulheres”.

Os momentos de reza ajudaram a animar, seguir, avançar e, acima de tudo, fortalecer as lutas. Destacaram-se a participação da Pajé Analicia e a Cacique Analia, ambas do povo Tuxá de Minas Gerais. A mensagem em forma de oração que fica deste encontro:

“Que o cordão espiritual que une indígenas e indigenistas nunca se rompa, que o discernimento floresça nas denominações religiosas, que percebam que feminismo é lutar pelos mesmos direitos, Que as mulheres se unam e procurem juntas se entenderem e tracem maneiras de lutar. Que sejam ouvidas, e tenham liberdade para escolher o que desejam”

Além de participar da oficina, o CEBI-MS contribuiu na organização, na infraestrutura e no transporte dos grupos. Nos dias mais frios do ano, uma teia de solidariedade se construir para assegurar lençóis, cobertores e muito calor humano. Nas palavras de Luciene Borges Ortega e Edinéia Lara, o evento foi oportunidade para “estarmos atentas, atentos ao nosso olhar, ao jeito de agir, mas acima de tudo oportunidade de ter se juntar às diversidades do sentir a ‘mãe terra’”.

Partilha de Edmilson Schinelo.

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