por Marcos Aurélio dos Santos*
A missão libertadora de Jesus começou a partir dos pobres e com os pobres, entre os excluídos, assim nos conta o evangelista Lucas. Foi em uma tarde de Sábado, em uma pequena sinagoga, na aldeia chamada Nazaré que Jesus leu o texto do profeta Isaias que dizia: “O Espírito do Senhor é sobre mim, Pois que me ungiu para evangelizar os pobres. Enviou-me a curar os quebrantados de coração, A pregar liberdade aos cativos, e restauração da vista aos cegos.
A pôr em liberdade os oprimidos, a anunciar o ano aceitável do Senhor. ” (Lucas 4:18,19). O texto profético de Isaias falava dele mesmo, do Deus pobre, do Messias libertador, do Homem subversivo de Nazaré, de sua missão entre os pobres e excluídos de seu tempo. Como não poderia ser diferente, a leitura do texto apresentando-o como o libertador que faz opção pelos pobres, causou ódio, ira e indignação dos religiosos fundamentalistas que queriam matá-lo. Planejaram jogá-lo no precipício, contudo Jesus conseguiu escapar (Lucas 4: 29-30).
Jesus segue um caminho diferente, em oposição às lideranças do sistema religioso da judeia. O grupo político-religioso mantinha o povo sob opressão, impondo-lhes com rigor o cumprimento da lei, desprezando o amor e a solidariedade, rejeitando o espírito comunitário, a compaixão e a misericórdia (Mateus 23: 23). Como representantes da cadeira de Moisés, Escribas e Fariseus protagonizavam o grupo de fundamentalistas reacionários, que a partir de uma leitura literal dos livros da lei, em forma de imposição opressiva, tornavam o comprimento das leis judaicas um fardo impossível de carregar. Estes recebem a crítica de Jesus quanto às suas contradições. Pregam, mas não fazem, são alienados e hipócritas que buscam os holofotes da sociedade, amam os primeiros lugares nas mesas e cadeiras do poder (Mateus 23: 1-6).
Jesus prefere seguir o caminho que o Pai lhe confiou, um caminho de amor, humildade e libertação. Jesus chama seus discípulos e discípulas para juntar-se a Ele e aprender sobre uma espiritualidade subversiva e utópica, pautada na esperança, na fé por um mundo amoroso e fraterno. Jesus vem para desconstruir o velho jugo da opressão religiosa, de uma espiritualidade opressora, que apresentava um “deus” vingativo, amedrontador, autoritário e cheio de ódio, excludente e individualista.
Em contraponto, Jesus anuncia um Deus de misericórdia, um novo caminho, na trilha do Evangelho das boas novas de alegria, vida plena e abundante, o Evangelho da liberdade. Um novo tempo, uma nova maneira de aprender sobre a vida, com mansidão e humildade de coração, pois seu fardo tem a leveza das andorinhas e a mansidão dos cordeirinhos. Jesus é alívio para os cansados (Mateus 11: 29).
Para os religiosos fundamentalistas, Jesus era um insignificante da desprezada cidade de Nazaré, que perambulava pelas periferias da Galileia pervertendo o povo, pregando heresias e afrontando o estado. Contudo um insignificante em potencial, que provocava a ira dos poderosos, pois era uma ameaça para o império e para o templo, por isso decidiram assassiná-lo. A elite judaica não acreditava que o movimento de Jesus com os pobres fosse adiante, ignoraram o poder libertador do Evangelho e a força das comunidades pobres. Confiavam na força do império e nas articulações perversas dos religiosos de Jerusalém liderada pelo sumo sacerdote Caifás para exterminar o movimento. O plano de exterminação falhou!
A ressurreição de Jesus venceu o sistema e a partir dos pobres, o amor de Jesus se espalhou pelo mundo e atravessou a história. Foram as pequenas comunidades periféricas que estavam nas partes baixas da Judeia que deram seguimento ao movimento de Jesus, isto debaixo de forte perseguição por parte dos poderes dominantes da época. Foi por meio das comunidades pobres que o evangelho foi pregado e chegou até nós nos dias de hoje.
Por isso, não há como compreender a profundidade do Evangelho, como também vivê-lo de forma concreta, sem um encontro com o pobre. É possível falar sobre o pobre e o estado de pobreza em que vivem, e buscar meios para ajudá-lo, aliás, muitos fazem isso. Contudo se não enxergarmos Jesus no rosto do pobre, nossa missão desvia-se do caminho de libertação, nos levando para o caminho da esfera religiosa, comprometida com os ricos, com a opressão e exclusão dos mais fracos, nos afastando do movimento libertador do subversivo de Nazaré, que iniciou a evangelização com os pobres, anunciando as boas novas de libertação (Mateus 11: 15).
Onde encontrar o Cristo hoje?
Estaria Ele assentado nas primeiras cadeiras do templo rodeado de bajuladores? Ou assentado à mesa com os principais religiosos aceitando os conchavos? Ou ainda entre os poderes opressores do Estado que esmaga os pobres? Jesus está nas favelas, nas periferias, no campo, nas fábricas entre os trabalhadores e trabalhadoras,, entre os que sofrem nas filas dos postos de saúde, entre os que moram debaixo de viadutos, entre os que dormem em calçadas nos grandes centos urbanos, entre os LGBT’s vítimas de perseguição, violência e morte, entre as mulheres, vítimas de violência e feminicídio. Estes são os amigos e amigas de Jesus. Quem são nossos amigos? Onde encontrar o Jesus de Nazaré? Ele está no rosto do pobre.
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Partilha do autor, Marcos Aurélio dos Santos.