“Maria Madalena foi e anunciou aos discípulos: “Eu vi o Senhor!” E contou o que ele lhe dissera.”
Jo 20,18
O texto bíblico conta sobre a proximidade entre Jesus e três apóstolos, Tiago, Pedro e João, que o acompanharam muito de perto, inclusive na transfiguração (Mt 17,1). No entanto, todos os apóstolos (menos João segundo o Evangelho segundo João), o abandonaram na cruz. Durante uma das várias brigas apostólicas sobre “quem é o maior?”, Tiago, João e a mãe deles, se aproximaram de Jesus pedindo que os dois se sentassem ao lado de Jesus no céu. Jesus os responde dizendo que eles não sabiam o que diziam, porque não iriam querer ser batizados e tomar do Cálice que Jesus beberia (Mt 20,20-23). Este cálice, e este Batismo, são a sua Cruz.
Paralelamente à história desses três homens, existe a história de três mulheres. Maria Madalena, reconhecida como apóstola pela ortodoxia, Maria de Cleófas e Maria, a mãe de Jesus. Elas estiveram com Jesus na Cruz (Jo 19,25). Elas também se dispuseram ao Batismo e ao Cálice, permanecendo ao lado dele. E, foram escolhidas como as primeiras a testemunharem a ressurreição do Filho de Deus. Em um tempo em que somente homens eram contados e seus nomes gravados nas histórias, os evangelhos são narrativas originais, ao afirmarem que as mulheres o acompanharam de perto em seu martírio (Mc 15,40). No domingo, são estas mesmas mulheres que anunciam a sua Ressurreição (Mt 28.1-8; Lc 24.1-12; Jo 20.1-10). Por isso, o vermelho, símbolo do martírio de Cristo, é a cor das ordenações e sagrações episcopais, sinal do Espírito e da disposição ao martírio pela fé, que, só poderia, naquela ocasião, ser usado pelas mulheres. Ao longo da Bíblia, temos um vasto protagonismo das mulheres no plano salvífico de Deus: Débora era juíza e profetiza (o que na época significava a autoridade também sobre a religião, já que ocorreu no período da Lei) que recuperou a terra de Canaã (Jz 4,5); temos a diaconisa Febe, enviada para anunciar as cartas de Paulo em Roma (Rm 16,1-2); Dorcas, a discipula que era líder de sua comunidade e a única ressuscitada nos Atos dos Apóstolos (At 9,36) e tantas outras mulheres que poderíamos citar aqui, sendo estas apenas alguns exemplos.
De todas estas coisas, uma das que mais chama à atenção, é que, quando ocorre o anúncio da Ressurreição, nos três evangelhos sinóticos (Mt 28.1-10; Mc 16.1-8; Lc 24.1-12), o anjo diz às mulheres, dentre elas sempre Maria Madalena, que elas encontrariam Jesus na Galileia, assim como Ele lhes havia dito na Última Ceia (Mt 26,32; Mc 14,28). Alguém já viu as mulheres representadas na Última Ceia? Está claro no texto, mas não era do gosto dos detentores da narrativa, que elas fossem representadas lá. As representações artísticas as tiraram de cena, mas o fato é que elas estavam junto à mesa. Um resquício desse fato ainda sobreviveu na iconografia, a dignidade para usar a cor da disposição ao martírio, representada, por exemplo, nas vestes completamente vermelhas, utilizadas por Maria Madalena em suas representações.
Neste dia diversas denominações cristãs celebram Maria Madalena Apóstola. O ministério Apostólico é o ministério do anúncio, e Maria Madalena, como vemos em Santo Tomas de Aquino, foi escolhida por Jesus como a Apóstola dos Apóstolos, aquela que tendo estado ao lado de Cristo na morte, sem nunca o ter negado, correndo o risco dela mesma passar pelo martírio, foi coroada com a honra de ser a anunciadora. Que neste dia possamos recordar sua bendita memória, que traz consigo os ideais cristãos de justiça restauradora, de amor, dedicação e companheirismo.