“O vento sopra onde quer. Você o escuta, mas não pode dizer de onde vem nem para onde vai. Assim acontece com todos os nascidos do Espírito”.
João 3, 8
E assim Ele soprou entre nós quando alguns militantes da Leitura Popular da Bíblia e da Teologia da Libertação, entre elas e eles Frei Carlos Mesters, Agostinha Vieira de Melo, Jether Ramalho, o pastor metodista Iranildes se reuniram em 20 de julho de 1979, no Convento do Carmo, na cidade de Angra dos Reis, litoral sul do Rio de Janeiro, para fundar o Centro de Estudos Bíblicos-CEBI.
“Foi assim que se fez. E no mês de junho de 1978 ou 1979, pastor Iranildes da igreja Metodista e eu, nós dois representando o Pastor Jether e aquele grupo de pastoralistas, num quartinho do convento do Carmo, iniciamos o CEBI rezando juntos o salmo 146 que diz: “Deus mantém sua fidelidade para sempre, fazendo justiça aos oprimidos, e dando pão aos famintos, liberta os prisioneiros, abre os olhos dos cegos, endireita os encurvados, ama os justos, protege os estrangeiros, sustenta o órfão e a viúva, mas transtorna o caminho dos injustos” (Sl 146,6-9) O Salmo deu o rumo para a caminhada do CEBI, relata Frei Carlos Mesters em carta sobre Jether Ramalho, por ocasião de sua páscoa ocorrida em junho de 2020 e publicada no site do CEBI: Em carta, Frei Carlos Mesters relembra com carinho a caminhada com Jether Ramalho na fundação do CEBI – CEBI
Para lembrar e celebrar os 42 anos do CEBI, publicamos duas poesias de companheiros da caminhada: uma é do escritor e poeta Márcio L’o, que inspirado no lema da XXII Assembleia Nacional do CEBI, “Construindo caminhos de transformação com as periferias”, nos presenteia com este inspirado poema intitulado “Olhares à Porta”. O outro poema é de autoria de Lenon Andrade, também escritor e poeta, que nos oferta o poema “O nascimento do CEBI em versos e poesia”,
OLHARES À PORTA
Marcio L’o
Biblopoesia de Lc 7,11-17 e da celebração de 42 anos do CEBI
Se, por acaso, encontrasse
com Carlos hoje, perguntaria:
– Que você tem na porta da memória?
Ainda lembro o que ele falou…
Se perguntasse a você:
– Que tem na porta da mente?
Talvez, não sei, você diria de nossas agora muitas pandemias
Vamos descer mais fundo, abrir portas das periferias
de lá de junto das mulheres e lgbtqia+, dos pretos e das indígenas
das sem-teto e dos sem-terra, das desempregadas e dos encarcerados
das juventudes e dos anciãos
– O que temos nas portas de nossos mo(vi)mentos?
– Temos antigas raízes fincadas e horizonte novos abertos
de compaixão política, de Cafarnaum-Naim
E por ali tinha uma viúva como o livro bem aberto, que disse:
– A vida abre uma porta para o livro, o livro abre outra para a vida
tempos difíceis esses, ainda mais, é preciso transitar pelas duas
Vamos perguntar para essa jovem:
– Que porta tem nos seus olhos?
– A porta da vida
– Como assim, porta da vida?
– A porta da vida
da gente ficar admirado que ela nos visita e fica conosco
poesia e profecia, esperança em levante
E essa notícia se espalhou pela periferia inteira
fizemos festa
– Que porta será que estamos olhando agora?
Márcio L’o integra o CEBI Bahia e é autor do livro “Ide e poetizai: biblopoesia”, publicado pelo CEBI Editora.
O NASCIMENTO DO CEBI EM VERSOS E POESIA
Seria mais uma leitura da Bíblia,
Do Levítico e do Deuteronômio
No contexto da explicação teológica
De pretexto para um ponto de vista, talvez?
Falava-se das leis de comer e beber
De carne a estragar-se no deserto
Carne suína que sem o sal se perdia,
Estragada, o prejuízo era certo.
Um biblista tomado de amor
Fez do estudo, conversa entre amigos
Na abertura do afeto singelo
Permitiu que todos falassem.
Na roda o contexto era a terra,
Saúde coletiva e preservação do povo.
Da lavra das mãos que plantam,
Colheu-se jeito novo de ler o Texto.
De um modo simples, lógico e profundo,
Tomou a palavra um lavrador
Para dizer que tanto lá como cá
O comer é bênção, pois é fruto da criação!
Dizia assim o simples campesino,
Se lá a lei de não comer porco defendia a vida
Aqui, se deixar de comer, a vida se perde.
Comer é lei divina pra manter a comunidade!
A Palavra transgrediu, na palavra do camponês,
Abrindo horizontes ainda não percebidos
De ver a vida em diálogo com a Bíblia
De olhar para a Bíblia a partir da história.
De um coração camponês nasceu a semente,
Fruto da lida na comunidade e na vida
Ensinou, a partir do seu viver,
Como fazer a leitura popular da Bíblia.
Desse jeito de ler o Texto
Nasceu o nosso CEBI
Com Jether, Lucia, Agostinha e frei Carlos
Em 20 de Julho de 79.
Pelo irmão camponês somos gratos
Pelas vidas e histórias benditas.
De partilhas em 42 anos
Resistentes assim prosseguimos!
Vida longa desejamos a todes!
De trabalho, cultivo e frutos.
Prossigamos na santa leitura
Liderados pelo Vento Divino!
Lenon Andrade integra o CEBI Paraíba e é autor do livro “Café com Esperança: Para deixa a vida mais leve”, do CEBI Editora.
Viva os 42 anos de caminhada do CEBI junto ao Povo de Deus!