Por: Cláudio Márcio R. da Silva*
Ó Deus, o racismo estrutural é um esquadrão da morte sangrento e opressor. A cor da pele em um processo civilizacional foi construída como inferior, feia e sem humanidade. Correntes nos corpos e nas mentes escravizaram populações em seu nome, Senhor. Teu nome em vão nos lábios de missionários do terror gerou muito sofrimento, muito choro e muita indignação.
Ó Deus, eles carregavam a Bíblia em uma mão e um chicote na outra. Imagino que em cada estralo nas costas ao ser amarrado em um tronco o Senhor chorou, pois, sabe muito bem o que foi o calvário. O novo mundo nas américas deixou brancos, cristãos, heteros e europeus cheios de poder. Em seu nome, Senhor, sequestraram nossas riquezas. Em seu nome, Senhor, estupraram nossas mulheres. Eu seu nome, Senhor, contaram nossa história.
Ó Deus, ainda hoje a população negra é alvo de “balas perdidas”. Vivem em subempregos e moram nas favelas e ruas empoeiradas. O acesso a saúde e educação é um problema central em solo brasileiro. Ah, Senhor: ainda há quem fale em meritocracia. Será que, de fato, acreditam que todos partem do mesmo lugar e tem as mesmas oportunidades?
Ó Deus, é verdade que os “fantasmas dos navios negreiros e da casa grande” ainda hoje assombram nossa nação, todavia, sei também que sempre houve resistências e reinvenções dos negros e negras. A voz de Zumbi e Dandara é como som dos atabaques que ecoam nas entranhas das brasilidades.
Ó Deus, perdão por todo mal causado aos negros e negras da nossa pátria amada. Há um débito histórico que ainda não foi resolvido e, nós, cristãos temos a obrigação de mostrar o nosso arrependimento através da luta pela garantia dos direitos sociais e humanos, assim, reconhecer o privilégio de ser branco neste contexto já é o primeiro passo. Que Deus tenha piedade de nós e que possamos entender que vidas negras importam. Que o sopro do Espírito antirracista esteja sobre nós. Amém!
* Reverendo da Igreja Presbiteriana Unida (IPU) em Muritiba (cidade serrana do recôncavo baiano).