Ambiente tranquilo, rede pronta para pesca, corações, perfumes, brisa fresquinha, cheiro de gente, calor humano… era o que precisávamos para iniciar o encontro tão esperado. Reunimo-nos abatidos/as pelo cansaço, pela desilusão com a política nojenta, com o retrocesso de nossas igrejas, querendo “beber no próprio poço”, como dizia Gustavo Gutiérrez.
Assim foi nosso encontro, dia 16 de fevereiro, realizado em Campo Grande/MS. Na oração inicial, Lúcia nos convidou à memória e aos sentimentos provocados pela canção Admirável gado novo: “povo marcado, povo feliz”?!
“É duro tanto ter que caminhar, e dar muito mais do que receber”: Marielles presentes, mulheres negras machucadas; o fim dos sonhos de um menino estrangulado por um segurança no Rio de Janeiro; a juventude trans; Rosane Santiago, ativista ambiental assassinada em Nova Viçosa, sul da Bahia; famílias ignoradas em seus direitos mínimos diante dos assassinatos promovidos pela Vale, em Brumadinho.
“O povo foge da ignorância, apesar de viver tão perto dela”: a ignorância do capitalismo, a ignorância dos ministros do Governo Federal, em especial daquele que se diz ministro da educação; nossa educação se tornando cada vez mais uma empresa na qual cada estudante é deixado de lado; sistema de saúde falido e o povo sendo levado a acreditar que a culpa é do funcionalismo público; cegueira e anestesia continuam a atingir grande parte da população; medo de ouvir, de sentir.
Como manter a esperança? “Há um menino, um moleque morando dentro do meu coração”. E como nos ensinou Milton nascimento, “toda vez que o adulto fraqueja, ele vem pra me dar a mão”.
Como está o moleque, a moleca que mora em mim? Tal como os discípulos, queremos acreditar: “Passamos a noite toda sem pegar nenhum peixe, mas em atenção à tua palavra, lançaremos mais uma vez as redes” (cf. Lc 5,5). Esse menino me motiva a lançar as redes novamente. Morando dentro de mim, ele também diz que essa ditadura não durará tanto como a última. Essa criança que nos toma pela mão é a graça de Deus.
Lázaro, vem pra fora!
Aceitamos o convite do Edmilson e nos reunirmos em grupos para olharmos o texto da ressurreição de Lázaro (Jo 11,1-44). Observamos: o texto, dentro da estrutura do evangelho como num todo; o papel de cada personagem; e os sentimentos que o texto carrega.
Jesus recebeu a noticia de que amigo estava doente. Porque não foi logo ao encontro? Demorou muito! Voltaria para a Judeia onde estava ameaçado de morte? Havia gente querendo apedrejá-lo. Jesus avisa que vai ver Lázaro. Agora, depois de dois dias? O medo toma conta dos discípulos e Tomé parece debochar: “vamos nós também para morrermos com ele” (cf. Jo 11,8.16).
Marta ouve Jesus chegando e corre ao seu encontro. Maria fica em casa sendo consolada pelos judeus solidários. Marta faz a confissão de fé: “Creio que és o messias, o Filho de Deus”. Maria vai aos ao encontro de Jesus e diz a mesma fala de Marta: ”se estivesses aqui meu irmão não teria morrido” Jesus chora, vai ao sepulcro e manda tirar a pedra. Já faz quatro dias! Cheiro ruim. A pedra é retirada… Jesus dá um grito: “Lázaro, vem pra fora”.
Estamos assim, o desânimo nos faz duvidar: “Deus, onde estás? Por que demoras tanto?” Não queremos perder os sonhos, conseguiremos recobrar a vontade ainda vamos desatar as faixas que nos imobilizam! Seremos capazes de substituir o que cheira mal (Jo 11,39) pelo perfume que enche a casa toda (Jo 12,3)!
Com as mãos entrelaçadas ousamos sonhar que podemos ressuscitar. Juntas e juntos conseguiremos caminhar na esperança, na ternura e no amor! “O sol nasceu é um novo dia! Bendito seja Deus, que nos recria.”
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Por Amélia Hakme Romano.