Todos os anos, a Igreja do Brasil escolhe um tema para a Campanha da Fraternidade. “Fraternidade e Superação da Violência” e “Em Cristo somos todos irmãos” (Mt. 23, 8.), foram o tema e o lema escolhidos para 2018. Esta campanha tem como objetivo geral construir a fraternidade, promovendo a cultura da paz, da reconciliação e da justiça, à luz da palavra de Deus, como caminho de superação da violência.
No desejo de realizar esta CF, a Arquidiocese de Campo Grande constituiu vários grupos de trabalho, GTs, com propostas concretas, visando incidir em diversos aspectos da violência, formados com a participação de cidadãos, autoridades, religiosos, acadêmicos, a saber: violência no trânsito, violência contra a pessoa idosa, violência contra a criança e adolescente, suicídio, crime organizado, violência contra a mulher, violência contra os povos indígenas, violência institucional, violência nas escolas, violência racial, violência no campo (11 grupos de trabalho).
O grupo de trabalho superação da violência contra os povos indígenas é formado por diversos grupos aliados a causa indígena: Pastoral Indigenista, Conferência dos Religiosos do Brasil, Conselho Indigenista Missionário, Núcleo de Estudos e Pesquisas das Populações Indígenas (UCDB), Centro Ecumênico de Estudos Bíblicos (CEBI) e Comissão Regional de Justiça e Paz (CRJP).
Seguindo o tema da Campanha da Fraternidade, a Arquidiocese de Campo Grande realizou no dia 28 de agosto de 2018, o seminário fraternidade e superação da violência contra os povos indígenas. O evento ocorreu na Universidade Católica Dom Bosco (UCDB).
O objetivo principal do seminário é o de promover uma discussão e encaminhamentos concretos sobre a violência sofrida por esses povos. Dando visibilidade sobre a existência e realidade dos povos indígenas que vivem em MS. Tendo como público alvo: comunidade acadêmica, religiosos e religiosas, indígenas, lideranças pastorais, igrejas cristãs e outras confissões, e sociedade em geral.
Em Mato Grosso do Sul se concentra a segunda maior população indígena do país. A realização deste seminário visa buscar formas de superar a violência contra estes povos originários. Juntos e juntas construir caminhos, mas primeiro ouvindo, a partir deles, a realidade de quem são e como estão neste momento.
O professor José Francisco fez as apresentações e saudou os participantes e em seguida enalteceu a presença de representante dos sete (7) povos dos oito povos indígenas existente no Mato Grosso do Sul chamando cada povo a se apresentar: Kinikinau, Kadiwéu, Terena, Guató, Atikum, Guarani Ñandeva e Kaiowá, faltando somente o povo Ofaié por não ter conseguido apoio logístico.
Prosseguiu-se com o ritual de abertura realizado pelo povo Kaiowá. Em seguida, o povo Atikum fez uma homenagem ao grande patriarca de seu povo, que este ano deixou esta terra e foi para junto dos encantados: Sr. Aliano José Vicente, entoando uma linha de Toré.
Foram convidados a compor a primeira mesa de discussões Padre João Marcos Araújo Ramos (Pró-Reitor de Pastoral da UCDB) e Irmã Joana Aparecida Ortiz (Religiosa Franciscana Aparecida, membro do Conselho Indigenista Missionário).
Ir. Joana coordenou a mesa, saudando fraternalmente todos os presentes. Disse ser grande a alegria e a responsabilidade de coordenar e participar do evento. Ressaltou que se trata de um dia especial na história da Igreja do MS. Uma oportunidade de dialogar com oito povos indígenas. Conhecer as suas realidades, cultura e demandas e juntos/as como irmãos e irmãs construir caminhos de superação da violência.
Leia a CARTA DOS POVOS DO MATO GROSSO DO SUL À SOCIEDADE E AO GOVERNO: “ JUNTOS DANÇAMOS, JUNTOS REZAMOS E JUNTOS LUTAMOS”
Na parte da manhã, a mesa Relatos sobre a realidade dos povos indígenas no MS: Explanado por indígenas, teve como mediador Anderson De Souza Santos (Advogado). Foram os explanadores: Eliseu Lopes, povo Kaiowá, Professora Ana Sueli, povo Terena, Alicinda Tibério, povo Terena. Logo após, debate, havendo grande interesse e participação da plateia, com perguntas e narrativas sobre casos pessoais de violação de direitos.
Na parte da tarde as atividades se reiniciaram, compondo a mesa o Mediador: Fr. Klenner. Apresentou Pe. Justino Sarmento Rezende, do Povo Tuyuka. Este fez uma explanação sobre o Sínodo da Pan Amazônico, sendo atentamente ouvido pela plateia durante o período de aproximadamente uma hora. Das 14:00 às 16:00, foi exibido o documentário Martírio, na presença do diretor Vincent Carelli, que comentou sobre a obra e oportunizou ao público interagirem com perguntas. Foram momentos fortes de denúncia do que não é ficção, mas real que aconteceu e continua acontecendo e que nós como cristão não podemos permitir. O Testemunho do diretor do filme foi impactante.
“Chocante é a desigualdade forças desenvolvidas nestes conflitos”
Após algum tempo de debate, perguntas, afirmações, o mediador da Mesa 4, Frei Rubens, apresentou Dra. Neyla Ferreira Mendes, Matias Benno Rempel (Conselho Indigenista Missionário). Defensoria Pública) e Dr. Marco Antônio Delfino de Almeida (MPF/Dourados). Estes fizeram considerações para a superação da violência sofrida pelos povos indígenas em Mato Grosso do Sul.
Dra. Neyla Mendes fez alguns apontamentos e saídas de superação da violência se colocando à disposição de atender os casos que chegam até ela. Dr. Marco Antônio falou da invisibilidade da questão indígena como história. Coloca os indígenas subalterna. Violados pelo processo de invisibilização. Remoções forçadas e escravidão tudo como desconhecimento e isso demonstra invisibilidade, gerando impunidade. A partir das contribuições, foi elaborada uma carta aberta ao governo e à sociedade.
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Campo Grande, 28 de agosto de 2018. GT Povos Indígenas Arquidiocese de Campo Grande – MS. Enviado por Ariel Gomes, Coordenador do CEBI-MS.