por Marcos Corbari e Adilvane Spezia*
Diálogo com um Nobel da Paz
Em 13 de agosto passamos uma tarde com Adolfo Pérez Esquivel e outros companheiros no sonhar. O escritor e ativista argentino tem passado com frequência no Brasil, denunciando a ruptura democrática a que fomos sujeitados neste tempo de estranho cotidiano. Mas sua voz não é lamento, ao contrário, os anos que ralearam e branquearam seus cabelos só lhe trouxeram mais vigor no ato constante de resistência. As entrelinhas dessa prosa relembram: a paz não se faz de silêncios, não se forja de omissões. Pela paz também se luta. E mais que nunca, é preciso lutar. Pelear, como gostamos de dizer ao sul do mundo. Expressões dicotômicas, contraditórias até, porém repletas de sentido. “A paz não se ganha, se constrói. E fiquemos atentos: paz sem liberdade jamais será paz”. Para Esquivel, sem liberdade se perde tudo, inclusive a capacidade amar. “Não se pode amar por decreto”.
O amor revolucionário é um tema recorrente em suas falas. Amor que transforma. Amor que incomoda. Que faz caminhar, crescer, transformar, subverter. Não nos remete ao sentido do afeto raso e egoísta que confunde e cerceia, ao contrário, nos desafia a um ato de amar de fato humanizado, coletivista, voltado ao próximo. “Quando fizermos isso seremos capazes de transformar o mundo”. E repete: mudar o mundo é uma urgência, para que possamos preservar para além da humanidade, nossa humanidade. Aprender sempre é um conselho que deixa. A observação é necessária para que se compreenda o tempo, a história e as pessoas. Mas a passividade frente aos ciclos da história não são uma concessão nem uma opção.
O protagonismo dos povos deve ser provocado frente o fundamentalismo alienante dos mercados. “A historia é o povo que escreve, não os historiadores”.
Semblante sereno, aguarda um instante e invés de responder, pergunta: “O que deixaremos aos nossos filhos e aos filhos dos nossos filhos?” Segundos de silêncio perturbador aguardam a resposta cheia de simplicidade e sabedoria: “Hoje semeamos o que eles vão colher, o que nossos filhos e os filhos dos nossos filhos vão colher…” Esquivel tem razão em sua reflexão: Se semearmos ódio, eles vão colher a vingança; se semearmos amor, eles vão colher esperança e paz.
Mas antes de semear, é preciso arar a terra. E no campo das representações sígnicas, este ato de arar remete a ideia de luta. E sim, pela paz também se luta. Gracias, Esquivel, pela generosidade de suas palavras, pelo incômodo de suas perguntas e pelo desafio de suas respostas. Adelante!
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Texto de Marcos Corbari e Adilvane Spezia, Jornalistas, integrantes do coletivo de comunicação do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA). Publicado no site Rede Soberania.