por Iram Silva*
Quando não podem falar mais alto do que elas, às fazem calar, seja como for!
A violência já alcançou o extremo patamar da estupidez. A liberdade de expressão constitucional está sendo reprimida a cada momento que se passa. Mídias sociais são encharcadas com notícias falsas em favor do discurso de ódio e preconceito. Não há sensatez política, e nem as forças policiais ficam de fora.
Quando surge alguém que fale, que lute, que faça valer os direitos da mulher, do negro, do marginalizado, do povo da favela, que seja a voz de milhares de pessoas nesse estado onde prevalece o caos da insegurança pública, fazem o quê? Tornam a fazer verter o vermelho do sangue daqueles que denunciam a disparidade social, esse é o ódio travestido em discursos pseudo-campanhísticos.
Eis que querem e encomendam o silêncio e a interdição da voz, não de uma pessoa, mas de todas minorias rejeitadas pelos altos palácios regentes deste país, pelo preço de uma democracia falida, usurpadora e golpista.
Em Ez:22-29 encontramos a seguinte passagem: Os ricos enganam e roubam. Eles maltratam os pobres e exploram estrangeiros. Diante do relato do profeta, podemos identificar algumas semelhanças com nossa realidade moderna. O controle do país sob as mãos de grandes empresários e políticos, ambos com grandes fortunas, e debaixo de seus pés, não somente vermes, mas uma grande parcela da população que geme angustiada com inúmeros desserviços que a alta classe, dominante, sobrepõe sobre os menos favorecidos. Somos nós mesmos que escolhemos quem rege o país, entretanto, a tragédia da democracia é que temos fracassado.
Como na época de Ezequiel, em que pessoas eram capacitadas a denunciar a falência do sistema, ainda hoje, pessoas que tem esta habilidade estão sendo silenciadas pelo trabalho que fazem, apontando os verdadeiros culpados por não mediarem o acesso à vida de forma digna.
Passaram-se mais de cento e trinta e três dias desde o ato de desumanidade que tirou a vida da mãe de uma jovem, tirou uma representante do povo da pouca chance de alcançar justiça; sepultou uma destemida guerreira do gueto. Que não fique apenas na lembrança a imagem de uma mulher que marcou este país, com a cor negra de sua pele, com o grito forte de uma feminista, com o desejo de paz para as favelas. A luta de Marielle Franco, ativista, feminista e vereadora do Rio, foi pela paz, pelo não uso de violência nos morros, por segurança pública, por amor.
Esta é uma luta pelos direitos humanos, pelos direitos das mulheres, das pessoas LGBTTQ+, que devem seguir em frente, com a mesma garra e coragem, empenho e empoderamento de todas as pessoas que não estão representadas por esta corja que manipula o gigante Brasil.
Todas as mulheres merecem respeito, todas as pessoas merecem a oportunidade de terem uma vida digna e segura. Que a nossa voz não se cale jamais, que nossa união seja o braço forte para juntos conquistarmos espaços cada vez mais importantes para gente como nós, negra, marginalizada, do gueto.
Acreditar no reino é ter esperança de que temos o papel fundamental de transformar a realidade que vivemos. Somos nós a resposta de muitas orações e lágrimas.
–
Texto de Iram Silva, estudante em Teologia – FTSA, colunista Temático do CEBI, moderador do site sermao.com.br, da Igreja Presbiteriana do Brasil de Londrina/PR.