Já desde sua primeira viagem, ao Rio de Janeiro, o papa Francisco se mostrou partidário de que as mulheres adquirissem um papel de maior relevância na Igreja católica –“não nos podemos limitar às mulheres coroinhas, à presidenta da Cáritas, à catequizadora; é preciso fazer uma profunda teologia da mulher”–, mas desde aquelas palavras até agora se passaram três anos sem nenhum avanço. Talvez por isso durante a audiência no Vaticano para mais de 900 superioras de institutos religiosos femininos Jorge Mario Bergoglio anunciou “a possibilidade no dia de hoje” de que as mulheres possam aceder ao diaconato, o grau inferior na hierarquia, abaixo do sacerdócio, mas já com a função de ministrar o batismo, distribuir comunhão e celebrar casamentos.
Depois de séculos de fechamento absoluto, o compromisso de Francisco –assumido, além disso, diante de mais de 900 mulheres com funções de comando em suas respectivas comunidades religiosas– adquire uma grande importância. Um Papa que duvida, improvisa e assume compromissos em público é, sem lugar para dúvidas, um Papa diferente.
Embora já no Novo Testamento –especificamente na Epístola aos Filipenses, datada de meados do primeiro século depois de Cristo– se fizesse menção aos diáconos, o Concílio Vaticano II situou o diaconato em grau inferior na hierarquia, abaixo do sacerdócio, e estabeleceu entre suas funções as de “administrar solenemente o batismo, reservar e distribuir a comunhão, ajudar nos casamentos e bendizê-los em nome da Igreja, levar o viático aos que agonizam, ler a Sagrada Escritura para os fiéis, instruir e exortar o povo, presidir o culto e oração dos fiéis, administrar os sacramentos, presidir o rito dos funerais e sepultura”. Como os sacerdotes, o diácono pode vestir sotaina ou o chamado “clergyman”, uma camisa em geral escura com colarinho.
Com relação a uma maior relevância para a mulher na Igreja, o Papa se mostrou bastante partidário durante o voo de regresso do Rio de Janeiro, em 29 de julho de 2013: “Sobre a participação das mulheres na Igreja não nos podemos limitar às mulheres coroinhas, à presidenta da Cáritas, à catequista… Tem de haver algo mais, é preciso fazer uma profunda teologia da mulher. Quanto à ordenação das mulheres, a Igreja falou e disse não. Assim disse João Paulo II, mas com uma formulação definitiva. Essa porta está fechada. Mas sobre isso quero dizer-lhes algo: a Virgem Maria era mais importante que os apóstolos e que os bispos e que os diáconos e os sacerdotes. A mulher na Igreja é mais importante que os bispos e os padres. Como? Isto é o que devemos tratar de explicar melhor. Creio que falta uma explicação teológica sobre isto”.
Com suas palavras nesta quinta-feira, Francisco volta a obrigar a Igreja católica a debater sobre si mesma, a avaliar se os velhos caminhos são ainda os corretos.