O conteúdo religioso, proclamado pela quase maioria absoluta de deputadas e deputados dia 17 de abril de 2016, utilizando-se da religião cristã para justificar posições e atitudes desprovidas de análise política e repletas de violências, no contexto de votação do processo de impeachment contra a Presidenta Dilma Rousseff, trouxe a público a relevância de um contínuo debate sobre o papel da religião na sociedade brasileira e, de forma estratégica, a responsabilidade de organizações confessionais e ecumênicas contribuírem com a reflexão teológica.
O que vimos e ouvimos domingo, para jamais esquecer, foi a mais completa alienação entre o ser humano e Deus, dita por muitos parlamentares que comprovadamente respondem a processos por atos de corrupção, que perseguem e vociferam todos os dias discursos criminosos de ódio contra comunidades afro-religiosas, povos indígenas, comunidades quilombolas, pessoas gays, lésbicas, bissexuais, travestis e transexuais.
A teologia também está em disputa, infelizmente. Falamos de teologia do lugar de quem faz a opção pela diaconia transformadora, afirmadora e defensora de direitos para toda a Criação.
É urgente resgatar e afirmar o pensamento teológico protestante. Este pensamento dialogou com a filosofia, com sociologia da religião, com a razão crítica e com a perspectiva profética de interpretação histórico crítico dos textos bíblicos.
Paul Tillich é um pensador que nos chama à razão e ao amor. Ele diz: “Mas também você quer saber que se pode fazer para receber o Espírito, se ele, de fato for auto-autenticador. Essa pergunta não pode ser respondida, pois se eu conseguisse respondê-la, então eu estaria lhe ensinando um método para obrigar Deus a fazer a sua vontade. Mas Deus destruiria um tal método da mesma maneira como destrói nossa auto-justificação moral. A única resposta consiste em permanecermos abertos aos impactos da vida -que podem vir de outras pessoas, da leitura da Bíblia, do culto, ou de atos de amor – por meio dos quais Deus age sobre nós. Podemos experimentar o Espírito escutando e esperando; mais do que isso não se pode fazer. Não existe nenhum método válido para forçar a vontade de Deus”.
Deus não é objeto de autojustificação moral. Foi público e notório o abuso intencional do nome de Deus no dia 17 de abril de 2016. O Brasil não é uma nação cristã. É um país de muitas diversidades. O Estado brasileiro é laico e democrático. A FLD repudia todas as manifestações contrárias à democracia e às diversidades. Por uma vida sem violências!