Com vestimentas brancas, integrantes de diversos terreiros gaúchos se encontraram no Largo Glênio Peres e seguiram até o Largo Zumbi dos Palmares. No oitavo ano no Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa, a Marcha pela Vida e Liberdade Religiosa percorreu as ruas do centro da capital gaúcha.
“Intolerância religiosa é a face mais perversa do racismo”, disse o sacerdote africanista e presidente do Conselho do Povo de Terreiro do Rio Grande do Sul, Baba Diba de Iemanjá. “Ainda temos de lutar muito pela tolerância religiosa. O Brasil é uma democracia, um País de diversos e todos os credos e religiões têm de ser respeitadas e ter lugar”, acrescentou a ministra.
“[A marcha] surgiu como ato político para dar visibilidade à intolerância religiosa e também à luta pela reivindicação de direitos, direitos sociais, pela garantia do Estado laico e também para tentar diálogo com as outas religiões”, informou Baba Diba.
O dia 21 de janeiro é uma referência a ataques sofridos por Mãe Gilda, em Salvador. Com a saúde fragilizada em decorrência de agressões ocasionadas por intolerância religiosa, Mãe Gilda faleceu em 21 de janeiro de 2000. Como forma de reconhecimento, o Governo Federal, instituiu, no ano de 2007, o 21 de janeiro como o Dia de luta contra a intolerância religiosa.
Ataques
Baba Diba lembrou os recentes ataques incendiários a terreiros do entorno do Distrito Federal. Foram pelo menos três casos no ano passado. “Quanto mais avançamos em política pública, em discussões que tentam aproximar as tradições, o racismo muda de status e passa de velado à revelado. Aqui ainda não incendiaram terreiros, mas no país já. Por isso, precisamos estar nas ruas e fazer desse dia o dia nacional de combate à intolerância religiosa.”
Sobre os ataques ocorridos no Distrito Federal, Nilma Lino afirmou que a Ouvidoria do órgão tem acompanhado o caso e prestado atendimento às vítimas.
A funcionária pública Júlia Kolatayó, 37 anos, participou da manifestação e destacou a importância de combater a intolerância religiosa. “A sociedade nos julga pelos olhares. Agora que tenho militado bastante na questão social e na religião africana, tenho conseguido me afirmar mais, mas é bem difícil, porque já perdi emprego, cargo, cursos." Ela foi batizada com 25 anos e sofreu resistência da família católica quando decidiu mudar de religião.
Embora não seja de religião africana, o analista de sistemas Alexandre Hahn disse que também enfrenta preconceitos por conta da religião Wicca. “Não é todo lugar e momento que posso dizer que sou bruxo. Quando digo, a primeira pergunta que vem à cabeça é se faço magia negra. Magia não tem cor. Se vou numa entrevista de emprego, pentagrama é sempre dentro da camiseta. Não posso mostrar. Rosário, uso aqui hoje, mas não posso usar em todo lugar".
Maria de Fátima Rodrigues também nasceu na religião. “Minha mãe diz que eu tinha 24 dias quando passei a fazer parte da religião.” Maria de Fátima lembrou que a estratégia para estabelecer um vínculo com a comunidade foi reunir crianças em uma ação de empoderamento da cultura negra.