Realizou-se nos dias 05 e 06 de março de 2025, no Centro de Formação Juan Diego – CNBB – em Guarapuava-PR. Foram os mediadores do Encontro Dom Aparecido Donizete – Bispo Auxiliar de Cascavel – e Referencial da PEIsul2 e o professor Dr. Telmo Vieira, de Santa Catarina. Com presença de 95 pessoas representando as quatro Províncias e com 17 das dezoito Dioceses, com exceção da Diocese de Paranaguá. Eu fui com o Irmão José Augusto Wendler, à convite da Província Marista de Curitiba.
Dom Donizete fez memória dos 10 anos da Encíclica Laudato SI’ (Louvado Sejas) do Papa Francisco e dos 800 anos do Canto das Criaturas, de São Francisco de Assis. Celebra também a esperança como tema do Jubileu e traz presente Abraão, citado no corpus Paulino (Rm 4), pai na fé e na esperança que não deixou de acreditar, mesmo sendo idosos, ele e Sara, ela que, além de idosa, era estéril, na promessa de ser pai de uma grande nação.
O professor Telmo, seguindo na mesma linha nos lembra que, para Deus, nada é impossível. Lembra que encontramos resistências ao tema da Ecologia Integral no ambiente religioso. Mas reconhece que, mesmo os pequenos passos, são sinais de esperança. A esperança, disse ele, é como uma tocha inapagável. Trazendo presente a Teologia Paulina diz que, “nada nos separará do amor de Deus, manifestado em Jesus Cristo, nosso Senhor”. (Rm 8,38-39). E parafraseando o Apóstolo dos Gentios, diz, “Quem nos separará da Ecologia Integral?”. O Padre Vagner intervém, lembra e reafirma a importância do Ano Jubilar, pois somos peregrinos da esperança, fazendo a relação com o livro do Levítico e o tempo de descanso, inclusive da Terra. (cf. Lv 25,11-13). Sim, a esperança me trouxe até aqui, pensei.
Retomando a palavra o professor Telmo diz que estamos vivendo o Pentecostes da esperança. Ano propício para uma Conversão Integral. Quando lemos os relatos científicos nos vem certa tristeza. Com quem nós estamos caminhando? Com todos os habitantes desta Casa Comum? nós temos três tipos de Bispos: uns que são incansáveis; outros que são cansados; e outros ainda que são cansativos. E concluiu com uma pesquisa dizendo que 56% dos católicos não conhecem a Encíclica Laudato SI’, do Papa Francisco. Dialogando com a Teologia da Criação, a partir da primeira narrativa (Gn 1,1-2,4a), ele faz uma importante afirmação. Os seres criados até o quinto dia, vivem bem sem o ser humano, mas o ser humano não vive sem eles. Propôs uma exegese do verbo dominar, citado no Gênesis, como ele é entendido numa expressão popular, sobretudo nas escolas. Conheces este conteúdo? Ou, dominas este conteúdo? Dominar, portanto, significando conhecer. Estamos muito próximos de chegarmos ao ponto de não retorno, bastando no máximo dois graus a mais nas temperaturas. Foi o Senhor quem quis assim, tomou o homem e a mulher e os colocou em um Jardim. O Jardim do Éden, para cultivar e guardar. (Gn 2,15). Hoje, a gente olha o lixo no chão, mas não o ver.
Após as explanações fomos para um importante trabalho de grupo. É de lá que vêm as verdadeiras preocupações, os reais desafios que não são poucos. Mas também é de lá, é da voz de homens e mulheres, que vem a mentalidade e a consciência que orientam as ações. Destaque-se algo que incomodou à maior parte dos participantes do evento, o fato de que, para os/as representantes de uma Arquidiocese, o maior desafio ecológico de sua cidade são as pessoas em situação de Rua. O que foi visto como uma visão higienista e inaceitável para a Igreja. Vencer a mentalidade adoecida que se hospeda nas classes populares é um grande desafio. Outro desafio que foi visto como um dos primeiros e maiores é dentro da própria Igreja, sobretudo nas paróquias. Lá encontramos frequentemente indiferença, resistência e até combate à Pastoral da Ecologia Integral e à Campanha da Fraternidade.
Não raro encontramos párocos que se orgulham e batem no peito dizendo que “a Campanha da Fraternidade aqui não entra”. Em nome de quem o fazem? A quem servem e a quem seguem? Sem uma Conversão Ecológica do clero, a Pastoral da Ecologia Integral terá que encontrar um Egito para nascer e para se refugiar, a exemplo do Menino Jesus, enquanto seus algozes estiverem vivos. (Mt 2,13). Quem sabe, um Terreiro de Umbanda, um Centro Espírita, ou as nossas garagens. Com a mesma fé e a mesma esperança de Abraão, lembrada por Dom Donizete, aguardaremos o anjo do Senhor nos dizer; “Levanta-te toma contigo o menino e sua mãe, e põe-te a caminho da terra de Israel; pois estão “convertidos”, os que haviam tramado contra a vida do menino”. (Mt 2,19-20). A Pastoral da Ecologia Integral precisa de um refúgio.
Um dos momentos emocionantes e que impactaram o Encontro foi a apresentação da “Dinâmica das Bolas de Sementes”, conduzida com muita sabedoria e maestria pelo professor Olivo Dambros. Trata-se de um método desenvolvido e utilizado pelos japoneses, logo após a Segunda Guerra Mundial, com o objetivo de regenerar as terras degradadas. O lançador das “Bolinhas” é um instrumento revolucionário, conhecido por quase todas as pessoas: o estilingue. Também chamado de baladeira ou atiradeira, dependendo do lugar.
Após um grupo significativo de participantes defenderem a elaboração de um abaixo assinado alertando para a visão higienista e anticristã que considera as Pessoas em Situação de Rua como uma das causas dos problemas ecológicos de sua cidade, achou-se por bem não fazê-lo. Porém, frente a tão grave situação de afronta à dignidade humana; ao clamor do Papa Francisco pelo cuidado da Casa Comum; ao próprio Livro Sagrado que no Deuteronômio orienta, “Se houver em teu meio um pobre, um dos teu irmãos, numa de tuas cidades, na terra que o Senhor te dá, não endurecerás o teu coração e nem fecharás a tua mão para teu irmão pobre, mas tu lhe abrirás largamente tua mão e lhe concederás todos os empréstimos a penhor que vier necessitar”. (Dt 15,7-8). O Planeta Terra, hoje, a nossa Mãe-Terra, encontra-se na categoria de pobre, ou talvez seja mais justo dizer, empobrecida.
Por fim, para mostrar a importância de uma Conversão Pastoral; de uma Conversão Ecológica; e por fim, de uma Conversão Integral; segue o apelo do Papa Francisco na Laudato SI’. “Quando na própria realidade, não se reconhece a importância de um pobre, de um embrião humano, de uma pessoa com deficiência – só para dizer alguns exemplos -, dificilmente se saberá escutar os gritos da própria natureza. Tudo está interligado. (LS n° 117). Tudo depende de uma Conversão Pastoral que resgate a dimensão do cuidado. Meus agradecimentos a Dom Donizete e ao padre Vagner que têm a consciência e a sensibilidade da importância da Pastoral da Ecologia Integral e são incentivadores da causa. Além de testemunharem com o apoio incondicional ao cuidado da Casa Comum e a apelo do Papa Francisco. Os pobres, sendo pessoas em situação de Rua ou não, não são responsáveis pela poluição da cidade e tampouco do planeta. Antes, eles são vítimas da mentalidade que destrói, que exclui, que oprime. Eles são vítimas desta visão necrófila que promove o ódio ao pobre. Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB – que vem dando eloquente testemunho de profecia, diz no Texto Base da CF-2023,
A aversão e desprezo aos pobres, aos famintos e vulneráveis recebeu o nome de aporofobia (Repúdio, aversão, desprezo ao pobre) e manifesta o tratamento dado a todos aqueles que são descartados por sua condição de classe, seja nos centros urbanos ou na multidão que recorre à migração para fugir da fome e da guerra. Em diversas situações, o pobre é visto como concorrente, como alguém que ameaça o emprego, a segurança e a atenção do Estado. (TEXTO-BASE, CF-2023, nº 66).
Se alguém quiser agir assim, não estará agindo em nome da Igreja, tampouco do Evangelho. E não entendeu nada sobre a Conversão Ecológica. Sugiro uma leitura atenta e uma reflexão profunda do texto de (Mt 25,31-46). Se mesmo assim, ainda continuar achando que as Pessoas em Situação de Rua são o principal desafio ecológico da sua cidade, sugiro procurar um bom profissional das ciências psíquicas: psicólogo, psicanalista ou psiquiatra. Pastoral é coisa séria. Comprometi-me com algumas pessoas escrever algo sobre o encontro e sobre a questão do pobre e este texto quer atender ao pedido delas. Meditando sobre os desafios trazidos pela maioria das dioceses, como o envenenamento do planeta, a contaminação criminosa dos rios e dos mananciais, embora “legal” no sentido de permitida pelo poder público, é imoral sob quaisquer aspectos. Como praticamente a inexistência de políticas ambientais sérias e sobretudo, feitas a partir de diálogos com as comunidades e o pouco caso ainda visto dos sistemas educacionais. Refletindo sobre estes assuntos, lembrei-me da alusão do professor telmo ao Apóstolo dos Gentios e ouso contra-argumentar. Quem poderá nos separar da Ecologia Integral? O clericalismo, sobretudo o clericalismo hospedado nos leigos e nas leigas com forte doutrina negacionista e que dizem amém para o clericalismo paroquial que trata a paróquia como uma alfândega ou como uma ONG, quando não como um clube social, para trazer a memória do Papa Francisco.
Curitiba, 10 de abril de 2025.
João Ferreira Santiago
Teólogo, Poeta e Militante.
Membro da Equipe da CF-2025 na Arquidiocese de Curitiba.
Coordenador Estadual do CEBI-PR.
Doutorando em Teologia pela PUC-PR.


