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A Vida na Bíblia e a Bíblia na Vida: entre a Acolhida Afetuosa de Marlene e as Pérolas de Cristina, uma Lição de Amizade Social

Os dias 22 e 23 de março de 2024 marcaram a minha vida de Teólogo, de Poeta e Militante e de Ser Humano. Visitando a Sub-Região do CEBI em Londrina, a convite de sua coordenadora Marlene Zucoli, testemunhei quão valiosos continuam sendo o afeto, acolhida, a gentileza, a amorosidade e, por fim, em sintonia com a Campanha da Fraternidade deste ano, a Amizade Social. A acolhida carinhosa de Marlene e sua família, em sua casa para uma reunião com a equipe do CEBI-Londrina, foi algo muito especial. Remete-nos à Teologia do Encontro, proposta pelo Papa Francisco. Mas, antes, revela-nos o jeito de ser da Igreja Povo de Deus, onde a casa é uma Igreja em potencial. A Igreja Doméstica. Igualmente, sobretudo através dos assuntos sobre os quais conversamos por nossos caminhos, e das violências que diariamente afetam as mulheres, os negros, a população em situação de rua e as comunidades LGBTQIA+ com um verdadeiro genocídio. Tudo isso nos remete ao diálogo rico e libertador entre Jesus Ressuscitado e os/as discípulos de Emaús. Este texto, aliás, iluminou as nossas reflexões nos três momentos de nossa formação. Inclusive, para mostrar as semelhanças, concluímos a nossa reunião/reflexão da sexta-feira, em torno de uma mesa farta de comida, de partilha e de consciência.

O CEBI de Londrina transmite um sentimento de Fraternidade e Ternura que cativa qualquer coração capaz de se apaixonar. Cristina, a incansável Cristina, encarna e comunica aquela expressão tão repleta de significados nas Comunidades Eclesiais de Base: Mulher Comunidade. Hospedado em casa de Cristina e o tempo todo sob seus cuidados, lembrei-me por diversas vezes dos testemunhos de Paulo de Tarso e as mulheres que tornaram possível (ou menos difícil) a sua missão evangelizadora. Claramente ali, das casas de Marlene e Cristina, por diversas vezes me via pensando na Igreja e na missão Paulinas. Lembrei-me de diversas casas, de diversos casais e ou famílias, das CEBs e do CEBI, de quem eu poderia lhes dizer como disse o Apóstolo dos gentios: “Áquila e Priscila vos enviam muitas saudações no Senhor, como também a Igreja que se reúne na casa deles”. (1Cor 16,19). Assim como na casa de Jair e Cris em Maringá; na casa de Luci Andreghetti, em Foz do Iguaçu; ou ainda na casa de Gisele Canal e Maria, sua mãe, também em Foz do Iguaçu. Na casa de Karla e Alceu em Curitiba. A Igreja Doméstica que reúne nas casas e é uma tenda segura para a Leitura Orante da Bíblia, para a vivência de uma Espiritualidade Libertadora e para florescer o Amor Político. A assim é a Igreja que se reúne na Casa de Neuza e Sebastião Curi, em Guarapuava.

No sábado, dia 23 de março de 2024, no período da manhã, reunimo-nos na Paróquia São Sebastião, em Londrina, onde reencontrei-me com o Padre Jorge, liderança profética das CEBs no Regional Sul2. Que surpresa agradável! Depois de fazer missão pelas Terras Amazônicas, ele está novamente em nosso Regional. E com ele, como sempre, um grupo de pessoas engajadas na luta do povo e a aproximação com o CEBI, ajudando nas formações a partir da Leitura Popular da Bíblia. Uma experiência vivificante, com pessoas esperançosamente conscientes, participativas e com uma acolhida materna. Cristina preparou a terra com sua espiritualidade feminina e fértil. Motivou a dinâmica das pérolas que nos fez sentir-nos Igreja Povo de Deus que sonha em mutirão, que caminha junto, que se abraça, que se olha e se ver. Refletimos sobre a Palavra de Deus e iluminados e iluminadas por ela, dialogamos sobre a barbárie das guerras malditas que matam gente inocente e ferem o coração de Deus; em sintonia com o Ressuscitado celebramos as vitórias do povo brasileiro nas últimas eleições e o nosso compromisso de construir um país fraterno e solidário: sem fome, sem feminicídio, sem discriminação racial, étnica nem de gênero. Avivamos a utopia possível de uma Igreja em Saída, sinodal, ecumênica, e por isso mesmo, uma Igreja Cristã. “Ênfase especial recebe a gratuidade do amor de Deus para com o povo que ele elegeu, não por der forte, mas por ser fraco, a fim de testemunhar-lhe seu amor (Dt 7,7-8)”. (KONINGS & SILVANO, 2020, p. 21). A gratuidade agrada a Deus e nos salvará.

À tarde, fomos para a Paróquia Nossa Senhora de Fátima em Cambé, onde uma líder amorosa evangeliza com paixão. Maria Aparecida de Meneses – a Cida -, é uma missionária que transpira compromisso. Acompanha o grupo há algum tempo, tem o bem querer do grupo, tem uma curiosidade epistemológica rara! Corre atrás das informações e gosta de aprender. Sabe trabalhar coletivamente. Estudamos, meditamos juntos e juntas a leitura de (Ex 16,1-16). Foi um momento muito rico!  O grupo é de base, tem muita maturidade, participa e deixa o encontro incrivelmente gostoso. Levamos para casa a orientação de refletirmos sobre o capítulo 11 do Livro dos Números para aprofundarmos e conhecermos melhor o por que a centralidade do pão na Palavra de Deus, do alimento na vida do povo. Nosso Deus é o Deus da bonança, da fartura e da partilha. Sem concentração de riquezas, sem desperdício de alimentos e sem meritocracia.  Deus não faz distinção de pessoas e não criou pobres. Foram os sistemas políticos perversos e os governos escravos do capital quem criaram ao longo dos tempos uma multidão de empobrecidos. Nosso Deus é Amor, é Vida, é Libertação, é Pascoa. “A Páscoa existe, mas é preciso ser vivida, e isso exige coragem. Coragem de mudar de rumo, de recomeçar, de largar quase tudo, de deixar parecer que perdeu”. (SANTIAGO, 2018, p. 108).

Curitiba, 25 de março de 2024 – Segunda Feira da Semana Santa. Preparação para a Pascoa. Feliz Páscoa.
João Ferreira Santiago.
Teólogo. Poeta e Militante.
Doutorando em Teologia pela PUC-PR
Coordenador Estadual do CEBI-PR.

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