Reflexão do Evangelho

Ide e Fazei Discípulas

Estamos no segundo domingo após Pentecostes quando a promessa do Pai se cumpre sobre todas que estavam reunidas. Isto significa que estamos vivendo a experiência do Ressuscitado, agora iluminadas pela Força da Ruah Divina. Sob esta força vamos refletir o capítulo 28.16-20 de Mateus. Duas palavras de início me chamam bastante a atenção. A primeira delas é a Galileia e segundo o Monte ou montanha, v 16. A pergunta que nos cabe é: porque a Galileia e não Jerusalém terra “Santa”?  Lembremo-nos que foi na Galileia onde Jesus inicia sua missão. A Galileia era a cidade dos gentios e lá residia pessoas vindas de muitos lugares com suas crenças e costumes e por isso mal vista pelos que guardavam a Lei a Torá, os assim chamados religiosos. O Ressuscitado convida a igreja a iniciar sua missão de onde tudo começou. Entre aquelas criticadas e excluídas pela Religião. Ainda nessa mesma linha de reflexão podemos lembrar o domingo da ascensão quando Jesus convida seus irmãos a irem à Betânia fc Lc 24,50, cidade dos pobres.  Nitidamente Jesus aponta para onde deve ser a missão de sua igreja.  Cabe a nós hoje olharmos para onde Jesus aponta nossa missão.

O monte me faz lembrar a grande figura de Moisés. Parece que a comunidade de Mateus quer apontar para Jesus como o novo Moisés. Moisés desce do monte com as Leis e apresenta ao povo como caminho para viver na vontade de Deus. Jesus no monte ressignifica a Lei de Moises pois, agora a lei é: amem uns aos outros como eu vos amei (cf Jo 13.34). O monte também faz lembrar um lugar de recolhimento, de oração, de iluminação onde Jesus transfigurou. Creio que os versículos 16 e 17 nos ajudam também a entendermos que somos desafiados a conviver com aqueles que duvidam do ressuscitado. Ir a Igreja não é ser igreja.

Nos últimos versículos a comunidade de Mateus apresenta Jesus com plena autoridade no céu e na terra pois não é apenas como uma referência, mas alguém que deve ser seguido. Com esta autoridade Jesus diz: “Ide e fazei discípulas entre todos os povos…” Deus não é exclusividade de um povo, mas de todos os povos. Na minha compreensão, Jesus devolve a Deus a humanidade e liberta Deus da Religião, por isso a Galileia e não Jerusalém.  No entanto, nossas Igrejas escravizaram-se pela instituição do Batismo, entendendo como requisito para sua pertença. Muitas das nossas denominações religiosas só batizam filhos de membros da Igreja e se for pagante, contribuinte. O Ide foi convertido em Vinde para minha Igreja, pois aqui tens a salvação, de novo aprisionamos Deus. Domingo de Pentecostes, encerramos a semana de Oração pela Unidade Cristã. Orando para que nos tornemos um.  Mas contraditoriamente é o batismo que nos separa, nos torna exclusivos. O que deveria ser o contrário, o batismo deveria nos inserir como grande família de Deus e assim o é no seu sentido teológico.  A tradução da Bíblia do Peregrino nos trás a seguinte expressão: “Portanto, ide fazer discípulas entre todos os povos, batizai-as consagrando ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo, ensinai-lhe a cumpri tudo o que vos mandei”. V.19 e 20.  E o que Jesus nos mandou cumprir? Cf Jo 15. 17 “Este é o meu mandamento: que vos ameis uns aos outros”.

Finalizo dizendo: precisamos olhar para onde Jesus aponta. E de novo resgatar o ser humano pelo batismo de consagração e não de pertença religiosa, institucional. Aqui estou me referindo a nova Galileia a comunidade das pessoas empobrecidas, marginalizadas por sua condição social, por sua orientação sexual, por sua cor da pele, por sua etnia. Fazei discípulos pelo testemunho do amor. Com este testemunho temos a certeza de que Jesus está conosco até o fim do mundo.

Antonio Terto, tssf
Revdo da Igreja Episcopal Anglicana do Brasil
Diocese Anglicana de Pelotas.

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