Reflexão do Evangelho

Vida estéril

Vida estéril

Leia a reflexão sobre Lucas 13,1-9, texto de José Antonio Pagola

O risco mais grave que nos ameaça a todos é acabar levando uma vida estéril. Sem nos darmos conta, vamos reduzindo a vida ao que nos parece importante: ganhar dinheiro, não ter problemas, comprar coisas, saber divertir-nos. Passados uns anos podemos encontrar-nos a viver sem mais horizonte nem projeto.

É o mais fácil. Pouco a pouco vamos a substituir os valores que poderiam alentar a vida por pequenos interesses que nos ajudam a ir andando. Não é muito, mas basta-nos com sobreviver sem mais aspirações. O importante é sentir-nos bem.

Estamos a instalar-nos numa cultura que os especialistas chamam cultura sem transcendência. Confundimos o valioso com o útil, o bom com o que nos apetece, a felicidade com o bem-estar. Já sabemos que isso não é tudo, mas tentamos convencer-nos de que nos basta.

No entanto, não é fácil viver assim, repetindo-nos uma e outra vez, alimentando-nos sempre do mesmo, sem criatividade nem compromisso algum, com essa sensação estranha de estagnação, incapazes de tomar conta da nossa vida de forma mais responsável.

A razão última dessa insatisfação é profunda. Viver de forma estéril significa não entrar no processo criador de Deus, permanecer como espectadores passivos, não entender o que é o mistério da vida, negando em nós o que nos faz mais semelhantes ao Criador: o amor criativo e a entrega generosa.

Jesus compara a vida estéril de uma pessoa a uma figueira que não dá frutos. Por que vai ocupar um pedaço de terra em vão? A pergunta de Jesus é inquietante que sentido tem viver ocupando um lugar no conjunto da criação se a nossa vida não contribui para construir um mundo melhor? Contentamo-nos em passar por esta vida sem torná-la um pouco mais humana?

Criar um filho, construir uma família, cuidar dos pais idosos, cultivar a amizade ou acompanhar de perto uma pessoa necessitada não significa desperdiçar a vida, mas sim vivê-la a partir da sua verdade mais plena.

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