Evangelho (Jo 20,19-31)
Em tempo de Páscoa, onde mais uma vez a experiência do Ressuscitado nos desafia a vê-lo, este texto de Jo 20,19-31, que se constitui no fim do Evangelho de João, nos dá a dimensão vivencial do Ressuscitado à comunidade dos novos crentes. Estas pessoas recebem o Espírito de Deus e a missão de ir adiante levando a mensagem de paz ao mundo, é a maneira como Ele outorga a benção de tirar o pecado do mundo (João 20:23), entendemos que nessa benção (ευλογία), palavra grega que significa “Boa Palavra”, está no sentido de enfrentarmos o cotidiano desses desafios que nos cercam: a violência, a fome, a moradia, a saúde, o racismo e extremismos políticos.
O evangelho de João nos convoca a levar uma boa palavra para o mundo, como, por exemplo, dizer, que não nos esqueçamos do massacre de El Dorado dos Carajás, ato este, que no próximo dia 17 de abril completa 27 anos. Na época do julgamento, uma multidão veio acompanhar a sessão acampadas numa praça, próximo ao local onde ocorreria a sentença. Realizou-se uma grande celebração ecumênica, clamando ao Deus da Vida para que todos os responsáveis fossem julgados por seus crimes. Na oportunidade, a benção foi dada (boa palavra) para os irmãos e irmãs: “O Jesus que ressuscitou nos diz que toda voz silenciada em El Eldorado dos Carajás, sempre será lembrada”.
Hoje nesta reflexão lembramos mais uma vez o que disse: “a voz dos inocentes sempre vai ser lembrada”, dia 17 de abril se tornou o Dia Mundial da Luta pela Terra. O Cebi/Pará tem sido essa boa palavra em muitos lugares por onde está, e mais uma vez se prepara para ser uma das vozes, que lembra que ainda não estamos livres dos conflitos em terras amazônicas.
O texto também faz uma referência a Tomé, que não acreditando na ressurreição de seu mestre, manifesta o desejo de tocá-lo. De modo especial fomos atingidas pela boa palavra dirigida a Tomé “Somos felizes por não termos visto o ressuscitado e mesmo assim crermos em sua vida e missão”.
Como escreveu Johan Konings em sua reflexão sobre o texto do Evangelho de João “A Tomé é dado experimentar a realidade do Crucificado que ressuscitou, e o apóstolo proclama sua fé, tornando-se verdadeiro fiel. Há, no entanto, outras pessoas a quem não será dado esse tipo de prova que Tomé requereu e recebeu; elas terão de acreditar também e serão chamadas felizes por crerem sem ter visto. Estas “outras” somos todas nós, cristãs das gerações pós-apostólicas.”
Por fim, o Evangelho termina dizendo que temos uma boa palavra e em tempos de fake News é um privilégio dizer, “acreditem que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais a vida em seu nome”. Estas palavras são suficientes para que todos e todas possam acreditar que somos portadoras de uma boa palavra.
Cláudio Augusto – Assessor do CEBI- Pará.