Reflexão do Evangelho

Trazendo a Luz: Reflexões sobre a Missão Profética de João Batista (Jo 1,6-9.19-28)

A passagem do Evangelho de São João que vamos refletir fala de outro João, o Batista, “a voz daquele que clama no deserto’ (v.23). O mundo naquele tempo não estava preparado para ouvir e tampouco para conhecer a verdade. Imagine-se, para vive-la! O mundo de nosso tempo também ainda não está preparado para tal feito. Basta-nos identificar quem é hoje a voz daquele que clama no deserto. O texto identifica com riqueza de detalhes quem é esse homem: “Enviado de Deus e seu nome é João” (v. 6). Sua função e sua missão são sabidas “Ele veio como testemunha” (v.7). João não era a Luz, mas deu testemunho da Luz. Ele conhecia a Luz e por isso podia testemunhar sobre ela. A missão de João é testemunhar a Luz e a sua função é de profeta.

O profeta é chamado e enviado para anunciar, e a palavra anunciada por ele não é dele, mas daquele que o enviou. As autoridades constituídas de Israel, não compreendiam e não queriam compreender e tampouco aceitavam um enviado de Deus. Na verdade, na mentalidade das autoridades de Israel, era inadmissível que um enviado de Deus, não fosse alguém do meio deles. Por isso, logo se sentiram ameaçadas e enviaram seus representantes – sacerdotes e levitas – para interrogarem João. O Evangelho de João tem como ponto de partida exatamente a ação de João Batista. E é deste ponto de partida que o Quarto Evangelho mostra a chegada do Filho á glória do Pai.

Joao Batista é imediatamente bombardeado de perguntas pelos enviados das autoridades. Atenção especial para a identificação daqueles que se prestam ao trabalho de portadores de recados das autoridades: sacerdotes e levitas. Daí decorre a possibilidade de se imaginar qual era a relação entre a classe de religiosos e as autoridades constituídas. Lembremos a informação contida naquele diálogo fértil, pedagógico e libertador na estrada de Emaús. “(…) O que concerne a Jesus de Nazaré, que foi um profeta poderoso em atos e palavras diante de Deus e diante do povo: como os nossos sumos sacerdotes e os nossos chefes o entregaram para ser condenado e o crucificaram (…)” (Lc 24,19-20). Olhem eles aí novamente juntos!

A relação baseada em interesses e em conveniências são as mesmas que querem saber a qualquer custo quem é João Batista. O desconforto e as desconfianças que a simples presença do Batista provocou nas autoridades, expressados nas perguntas a ele feitas, ajudam a revelar a identidade dos profetas chamados e enviados por Deus. Ao ouvirem a voz do que clama no deserto, as autoridades – aqueles que não aceitam os profetas – o identificaram com o profeta Elias, ou com Moisés, quem sabe. Até mesmo com o Cristo. Aliás, esta foi a primeira resposta de João aos serviçais dos poderosos. Antes mesmo que eles perguntassem, João disse-lhes: “Eu não sou o Cristo” (v. 20).

A pergunta quase desesperada dos religiosos portadores de recados das autoridades constituídas, chega a causar espanto. “Que dizes de ti mesmo?” (v. 22). Vejam que a preocupação não era apenas uma curiosidade deles. E concluem dizendo: “Para que levemos uma resposta aos que nos enviaram”. Impossível não ver o contraste entre a altivez, a liberdade e a segurança do profeta e a subserviência dos religiosos a serviço do poder político. João Batista, em certa medida, atualiza a Teologia do Êxodo, aquele acontecimento fundante da fé cristã. Para isso, traz presente as palavras do profeta Isaías “Aplainai o caminho do Senhor” (Is 40,3). Foram os profetas os primeiros a fazerem essa atualização Exodal, que agora o Batista faz ao construir uma ponte iluminada entre o Primeiro e o Segundo Testamento.

“Se tu não és o Cristo, nem Elias, nem o profeta, por que batizas?” (v. 25), perguntaram ainda eles. A sabedoria do profeta, somada a sua consciência missionária, faz desta arguição tribunalesca, uma oportunidade para anunciar a Luz, o Senhor, de cujo caminho ele é o aplainador. E ao mesmo tempo, João coloca as coisas em seu devido lugar. “(…) No meio de vós está aquele que vós não conheceis; ele vem depois de mim e eu nem sou digno de desatar a correia de sua sandália” (v. 27). João Batista cumpriu com excelência a missão profética de expor as contradições das autoridades religiosas e políticas.

João Ferreira Santiago.
Teólogo Poeta e Militante.
Doutorando em Teologia pela PUC-PR.
Coordenador Estadual do CEBI-PR.

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