Reflexão do Evangelho

Primeiro Domingo do Advento – 2022

Isaías 2, 1-5 | Salmo 122 | Romanos 13, 11-14 | Mateus 24, 36-44

Ouvidos que Escutam, Olhos que Vigiam, Coração Ardente, Mãos que Cuidam

Com este domingo iniciamos, além do Advento, um novo ano litúrgico, no qual somos convidados e convidadas por nossas igrejas a refletir principalmente sobre o Evangelho de Mateus.

Por isso, antes de mergulhar nos versículos de hoje, vale a pena apresentar o Evangelho, para isso vamos nos deter em três elementos presentes no último capítulo (cap. 28), que é onde podemos entender a dinâmica de todo o Evangelho… já que a comunidade narra o que significava dar testemunho de Jesus vivo no meio deles, no meio da realidade que viviam.

Mateus no último capítulo apresenta-nos a “ressurreição de Jesus”, através da experiência de “duas mulheres” a quem aparece primeiro o “anjo do Senhor” e depois o próprio Jesus.

A primeira coisa a observar é a dinâmica presença-ausência do Crucificado, que as mulheres procuram, aquele que deveria estar no sepulcro, mas não está porque ressuscitou (28,6). Jesus está vivo e vai ao encontro delas (28,9)

O segundo elemento a sublinhar é o “anjo do Senhor! (28,2), no discurso bíblico é Javé que se faz presente, que se manifesta no meio do seu povo. Mateus, também no início do Evangelho (1,20) fala do “anjo do Senhor”, que aparece a José em sonho. Em ambos casos, o “anjo do Senhor” anuncia algo impossível: no início: uma jovem grávida do Espírito Santo; no final, um crucificado que ressuscitou. Em ambos casos o impossível que se torna vida: Encarnação e Ressurreição.

O terceiro elemento são “as duas mulheres”, que, indo ver à sepultura do crucificado (28,1), são encontradas pelo “anjo do Senhor”, que as manda ir depressa anunciar aos discípulos que Jesus ressuscitou (28,7) … e elas correm “com grande alegria para dar a notícia aos discípulos” (28,8), nesse momento é quando Jesus sai ao seu encontro e depois de exortá-las à alegria as envia para anunciar-lo. Por que duas mulheres? Por que Mateus coloca duas mulheres co-protagonistas nesta história, sendo que eram totalmente invisíveis para a sociedade? A resposta é simples: porque Mateus quer revelar a sua preocupação pelos “pequeninos”, porque quer deixar claro que são os pequeninos que encontram Jesus os portadores do anúncio da alegria e da vida para todos, que é no mais pequeno onde Jesus se manifesta e se faz presente.

Refletiremos, na perspectiva destes três elementos, o Evangelho deste Domingo Mateus 24, 37-44. Diz assim:

Naquele tempo, Jesus disse aos seus discípulos: “A vinda do Filho do Homem será como no tempo de Noé. Pois nos dias, antes do dilúvio, todos comiam e bebiam, casavam-se e davam- se em casamento, até o dia em que Noé entrou na arca. E eles nada perceberam até que veio o dilúvio e arrastou a todos. Assim acontecerá também na vinda do Filho do Homem. Dois homens estarão trabalhando no campo: um será levado e o outro será deixado. Duas mulheres estarão moendo no moinho: uma será levada e a outra será deixada. Portanto, ficai atentos! Ficai vigiando! Porque não sabeis em que dia virá o Senhor. Compreendei bem isso: se o dono da casa soubesse a que horas viria o ladrão, certamente vigiaria e não deixaria que a sua casa fosse arrombada. Por isso, também vós ficai acordados! ficai preparados! Porque na hora em que menos pensais, o Filho do Homem virá”.

Nesse trechinho do Evangelho, Mateus coloca na boca de Jesus uma comparação entre a vinda do Filho do homem e a época de Noé, onde todos levavam a vida pra frente, no comum do dia a dia…. comiam, bebiam se casavam… e como diz o texto: “nada perceberam”. Também nós, em tempos convulsos como os que vivemos, onde abundam todo tipo de informações, podemos viver na correría do dia-a-dia sem perceber o que passa à nossa volta. Neste contexto acolhemos a exortação de Jesus: «Fiquem atentos… vigiando»…  «Fiquem acordados… preparados».

Perante este insistente convite de Jesus à vigilância, é onde ganham sentido os três elementos sublinhados no início da reflexão:

“Fiquem atentos” é o convite a vivermos mais atentos à Sua misteriosa Presença que veio na plenitude dos tempos, que vem todos os dias e que virá no fim dos tempos; é abrir nossos OUVIDOS de discípulos e discipulas para acolher o anúncio “do anjo do Senhor” que vem ao nosso encontro de múltiplas maneiras nos túmulos que frequentamos, para nos dizer que aquilo que acreditamos ser impossível, por obra de Deus, torna-se Vida…

“Fiquem vigiando” é o convite para abrir nossos OLHOS e treinar nosso olhar de testemunhas para reconhecer que Aquele que aparentemente está morto está realmente vivo; que Aquele que aparentemente está ausente vem a nosso encontro no caminho e nos convida a não ter medo e a nos alegrar (Mt. 28,9)

“Fiquem acordados.” É o convite a sacudir nosso CORAÇÃO de cristãos e cristãs para deixá-lo arder de indignação diante da violência, da injustiça, da degradação; e acender de compaixão para poder manter desperta a resistência e a rebeldia e reagir com compromisso diante de todas as vidas ameaçadas

“Fiquem preparados” é um apelo à atenção para mantermos as nossas MÃOS como servidores e servidoras dedicados ao cuidado dos mais pequeninos e invisíveis, porque com os pequeninos, entre os pequeninos e através dos pequeninos Jesus está no meio de nós, “todos os dias até o fim do mundo” (Mt 28,20). É através das “duas mulheres”, as pequeninas e invisíveis do tempo de Jesus, é que Ele nos indica o caminho…

Para cantar juntos com o salmista a alegria de ir ao encontro do Senhor que vem (Sl 122), juntamente com Paulo e o profeta Isaias proclamamos: “Ja é hora de acordar!” (Rom 13,11) “… e deixemo-nos guiar pela luz do Senhor!” (Is 2,5), “despojando-nos das ações das trevas y vestindo-nos das armas da luz. (Rm 13,12)

Amém

Autora

Sou Elizabeth, pertenço à Congregação das Irmãs Dominicanas de Sta. Catarina de Sena, moro em um bairro na periferia da região noroeste da grande Goiânia. Sou nascida na Argentina, numa família da classe trabalhadora; descendentes de migrantes, de vários países, que em busca de vida, deixaram suas próprias raízes para fugir da fome e da violência da 1ª Guerra Mundial.

Assim, o meu sangue e a cultura familiar em que cresci são constituídos por componentes marcados por uma grande diversidade. Também minha aparência física: altura, tipo e cor de cabelo, cor de pele e olhos… expressam a diversidade que levo no sangue e nos costumes.

Gosto de me definir como uma mulher itinerante, em busca… Busca do Reino, definido por Paulo como “paz, justiça e alegria” (Rom. 14,17)

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