O pobre carpinteiro de Nazaré, chamado Jesus, incomodou o templo e o palácio. Pois, sua vida e sua caminhada se tornaram uma denúncia que ameaçou aos poderes deste mundo.
O filho de Deus, que buscou ressaltar que era o Filho do homem, não teve apego à sua glória e desejou viver entre os simples para conhecer a nossa lida e as nossas dores.
Esse “conhecer” não pode significar “tomar ciência”, afinal essa informação ele já tinha. A palavra “conhecer” para os povos antigos também podia traduzir a intimidade de um casal. E é esse significado que nos dá maior percepção do significado da vida de Jesus: O Filho do homem veio a este mundo para viver intimamente ao lado dos que sofrem.
O rosto de Deus estava no rosto do carpinteiro. Sua identificação foi com os pobres, os abandonados, os desvalidos, os que sofrem, as renegadas, as ameaçadas, as humilhadas e de toda a gente que os religiosos torciam o rosto e o império condenava ao desterro e à morte.
Tudo isso resultou na perseguição, prisão, tortura e morte de Jesus. Um tão grande humilhação para o filho de Maria e José, e para toda gente que andava após ele.
Não é simples enfrentar poderes manipuladores como a religião e o império. Por isso, a multidão que o saudava gritando “Hosana”, se decepciona e passaram a gritar “crucificai”.
Isso acontece a cada vez que se espera que Jesus seja um Cesar e não um peregrino com o povo.
Mas a capa real de Jesus é a toalha e o cetro com o qual rege este mundo é uma bacia. Se oferecendo em serviço pelos os que sofrem e chamando os que detém algum poder a pegar a bacia e se juntar a ele.
O rosto de Deus que estava no rosto do carpiteiro, está também em cada rosto que sofre pela injustiça e são cotidianamente esbofeteados pelos poderes deste mundo. E Jesus até hoje divide essas dores conosco.
A cruz, a sentença de morte Jesus, continua sendo imposta aos que sofrem nas periferias do mundo e nas periferias existenciais.
E nós cristãos e cristãs empunhamos essa cruz. Não como devoção de um instrumento de morte. Mas como aquela mãe que usa como símbolo da sua luta, a camisa ensanguentada de um filho morto. A cruz é o símbolo da nossa luta. Símbolo da nossa resistência. Se nem a cruz conseguiu nos parar, nada mais nos impedirá de passar.
Hoje é Páscoa!
Páscoa é passagem. Passamos e estamos passando do Império da morte que nos foi imposto para a nova sociedade da Vida inaugurada por Jesus!
Ele escolheu morrer a nossa morte para nos fazer ressuscitar com Ele.
E agora em nós opera a Vida e cada estrutura que insistir operar a morte, encontrará em nós resistência. Nada poderá nos parar. E aqueles que sofrem e morrem, ressuscitam no enfrentamento das estruturais de morte, onde estão sempre PRESENTES.
Nossa quaresma se encerra na viva Esperança que Deus nos chama a fazer como aquele que “Viu, sentiu compaixão e cuidou dele”. Mas essa quarentena imposta para salvar vidas nos lembrou que Deus nos vê, sente compaixão de nós e cuidará de cada um e cada uma de nós.
Este mundo tem a chance de passar por uma páscoa. Milhares de mortos espalhando luto por cada esquina desse mundo. Mas podemos abandonar o que nos trouxe até aqui e fazer toda biodiversidade ressuscitar para construir novas relações e uma nova sociedade.
Jesus ressuscitou e está entre nós.
A vida não vencerá. A vida já venceu.
Jesus está vivo, temos esperança.
Feliz Páscoa.
Nilton Leite Jr
Membro da Igreja Batista do Coqueiral (PE),
Ecólogo, Biólogo e professor da educação básica.