Confira a reflexão da semana sobre João 20,11-18, o texto pertence a Carlos Mesters, Mercedes Lopes e Francisco Orofino.
Boa leitura!
O capítulo 20 do Evangelho de João traz alguns episódios que nos transmitem a experiência e a ideia da ressurreição que existia nas comunidades do Discípulo Amado.
Eis o conteúdo:
- Maria Madalena vai ao sepulcro, vê a pedra retirada e chama os discípulos. O Discípulo Amado e Pedro vão verificar o acontecido. O Discípulo Amado viu e acreditou (Jo 20,1-10).
- Maria Madalena reencontra Jesus e tem uma experiência de ressurreição (Jo 20,11-18).
- A experiência de ressurreição da comunidade dos discípulos (Jo 20,19-23).
- Uma nova experiência comunitária de ressurreição com Tomé (Jo 20,24-29).
- Conclusão: o objetivo da redação do evangelho é levar as pessoas a crerem em Jesus e, acreditando nele, terem a vida (Jo 20,30-31).
Na maneira de descrever a aparição de Jesus a Maria Madalena, transparecem as etapas da travessia que ela teve de fazer, desde a busca dolorosa até o reencontro da Páscoa. Estas são também as etapas pelas quais passamos todos nós, ao longo da vida, na busca em direção a Deus e na vivência do Evangelho.
1. João 20,11-13: Maria Madalena chora, mas busca
Havia um amor muito grande entre Jesus e Maria Madalena. Segundo o evangelho joanino, ela foi uma das poucas pessoas que tiveram a coragem de ficar com Jesus até a hora da sua morte na cruz.
Depois do repouso obrigatório do sábado, ela voltou ao sepulcro para estar no lugar onde tinha encontrado o Amado pela última vez. Mas, para a sua surpresa, o sepulcro estava vazio. Os anjos perguntam: “Por que você chora?” Resposta: “Levaram meu senhor e não sei onde o colocaram!” Maria Madalena busca o Jesus que tinha conhecido e com quem tinha convivido durante três anos.
2. João 20,14-15: Maria Madalena conversa com Jesus sem reconhecê-lo
Os discípulos de Emaús viram Jesus, mas não o reconheceram (Lc 24,15-16). O mesmo acontece com Maria Madalena. Ela vê Jesus, mas não o reconhece. Pensa que é o jardineiro. Como os anjos, Jesus pergunta: “Por que você chora?” E acrescenta: “A quem está procurando?” Resposta: “Se foi você que o levou, diga-me, que eu vou buscá-lo!” Ela ainda busca o Jesus do passado, o mesmo de três dias atrás. A imagem do Jesus do passado impede que ela reconheça o Jesus vivo, presente na frente dela.
3. João 20,16: Maria Madalena reconhece Jesus
Jesus pronuncia o nome: “Maria!” Foi o sinal de reconhecimento: a mesma voz, o mesmo jeito de pronunciar o nome. Ela responde: “Mestre!” Jesus estava aí, o mesmo que tinha morrido na cruz. A primeira impressão é de que a morte foi apenas um incidente doloroso de percurso, mas que agora tudo tinha voltado a ser como antes. Maria abraça Jesus com força. Era o mesmo Jesus que ela conhecera e amara. Aqui se realiza o que Jesus disse na parábola do Bom Pastor: “Ele as chama pelo nome, e elas conhecem a sua voz.” – “Eu conheço as minhas ovelhas e elas me conhecem” (Jo 10,3.4.14).
4. João 20,17-18: Maria Madalena recebe a missão de anunciar a ressurreição aos apóstolos
De fato, é o mesmo Jesus, mas a maneira de estar junto dela já não é mais a mesma. Jesus lhe diz: “Não me segure, porque ainda não subi para o Pai!” Ele vai para junto do Pai. Maria Madalena deve soltar Jesus e assumir sua missão: anunciar aos irmãos que ele, Jesus, subiu para o Pai. Jesus abriu o caminho para nós e fez com que Deus ficasse, de novo, perto de nós.
Maria Madalena e o discipulado das mulheres
Nos Evangelhos, muitas vezes, Maria Madalena é citada nominalmente: como discípula de Jesus (Lc 8,1-2); como testemunha da sua crucifixão (Mc 15,40-41; Mt 27,55-56; Jo 19,25); como testemunha do seu sepultamento (Mc 15,47; Mt 27,61); como testemunha da sua ressurreição (Mc 16,1-8; Mt 28,1-10; Lc 24,1-10; Jo 20,1.11-18); como enviada aos Onze com uma mensagem de Jesus (Mt 28,10; Jo 20,17-18). Nenhum texto do Evangelho diz que Maria Madalena foi uma pecadora.
Teriam interpretado mal a expressão “Maria Madalena da qual haviam saído sete demônios” (Lc 8,2)? Esta expressão, que aparece somente em Lucas e no apêndice de Marcos (Lc 8,2; Mc 16,9), criou uma série de preconceitos contra Maria Madalena. Mas, para o Evangelho de Lucas, a possessão não significa pecado, e sim doença.
O número 7, sempre simbólico, parece indicar a gravidade da situação. No contexto de Lucas, podemos interpretar que Maria Madalena padecia de uma grave doença nervosa ou psicossomática. No encontro com Jesus, ela recupera a harmonia interior e entra em um processo de crescimento e amadurecimento pessoal até atingir a plenitude do seu ser na experiência pascal.
Encontramos, nos quatro evangelhos, várias listas com os nomes dos 12 discípulos que seguiam Jesus. Havia também mulheres que o seguiam desde a Galileia até Jerusalém. O Evangelho de Marcos define a atitude delas com três palavras: seguir, servir, subir até Jerusalém (Mc 15,41). Os primeiros cristãos não chegaram a elaborar uma lista destas discípulas que seguiam Jesus como o fizeram com os homens (Para as comunidades das origens, o recurso aos Doze é uma forma de entender o movimento cristão como o novo Israel, tal como no passado os Doze pais das doze tribos simbolizam o antigo Israel).
Os nomes de seis destas mulheres estão espalhados pelas páginas dos evangelhos: Maria Madalena (Lc 8,3), Joana, mulher de Cuza (Lc 8,3), Suzana (Lc 8,3), Salomé (Mc 15,40), Maria, mãe de Tiago e José (Mc 15,40), e a mãe dos filhos de Zebedeu (Mt 27,56). Em todos estes textos, exceto João 19,25, Maria Madalena é citada em primeiro lugar, indicando sua liderança no grupo de discípulas de Jesus. Em João, o protagonismo de Madalena é destacado em sua ida ao túmulo e encontro com o seu Mestre. Ali, está sozinha. Não está acompanhada por outras mulheres (Jo 20,1-18).
Há muitas outras mulheres, amigas de Jesus, que são nomeadas nos evangelhos, por exemplo, as duas irmãs Marta e Maria, mas só destas seis se diz que “seguiam a Jesus desde a Galileia” (Mt 27,55-56; Mc 15,41) ou que “o acompanhavam junto aos Doze” (Lc 8,1-3).
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