Reflexão em João 16,12-15
12— Ainda tenho muitas coisas para lhes dizer, mas vocês não poderiam suportar isso agora. 13Porém, quando o Espírito da verdade vier, ele ensinará toda a verdade a vocês. O Espírito não falará por si mesmo, mas dirá tudo o que ouviu e anunciará a vocês as coisas que estão para acontecer. 14Ele vai ficar sabendo o que tenho para dizer, e dirá a vocês, e assim ele trará glória para mim. 15Tudo o que o Pai tem é meu. Por isso eu disse que o Espírito vai ficar sabendo o que eu lhe disser e vai anunciar a vocês.
O Espírito da verdade nos leva ao encontro do Deus da vida, na vida!
Desde que Jesus expulsou os mercadores do templo, após derrubar suas mesas de câmbio e de venda de produtos religiosos, denunciando o prostíbulo financeiro praticado a céu aberto, em nome da fé, a sua vida passou a correr risco de morte iminente. O profeta de Nazaré entrou na mira das autoridades religiosas de Jerusalém que, em nome de Deus, violentavam a fé do povo, impondo a religião do medo, da punição divina, caso os fieis não cumprisses o ritualismo religioso impostos pela tradição. Tudo isso, gerenciado em beneficio da casta sacerdotal.
Medo e culpa sempre foram armas poderosas usadas por agenciadores da fé para aprisionar mentes e corações desejosos da ação divina na vida. Jesus sabia como funcionava a máquina religiosa de moer gente, usada para sugar até o última gota de vida de seus fieis para, no final, beneficiar as castas que agenciavam a fé do Povo. É contra a coluna apodrecida do fundamentalismo religioso que o Nazareno bate de frente e, por isso, sabia que o fim estava próximo. Sabia contra o que lutava e estava disposto a ir até as últimas consequências para tornar seus discípulos e discípulas homens e mulheres livres, como Deus é Espírito livre, cujo amor por cada ser humano, é incondicional.
O mestre da Galileia sabia que a mente cativa à rituais e doutrinas religiosas estão subordinadas a leis e tradições que nem sempre respondem aos problemas e inquietações humanas do presente. Como ensina a comunidade joanina, não adianta derramar vinho novo em odres velhos ou tentar remendar roupa velha com tecido novo, assim como não adianta tentar usar tradições ultrapassadas para tentar responder aos dilemas e desafios que surgem no tempo presente. É assim que funciona o fundamentalismo religioso, tenta sempre fazer das suas leis e costumes a resposta para todos os problemas e perguntas do presente…e a arma usada para subjugar as pessoas ainda é a mesma: o medo e a culpa! Com o agravante atual das fábricas de fake news industrializadas a toque de caixa no interior de alguns templos religiosos…
Jesus rompe com a cultura moralista do templo que tanto mal fazia ao povo. Uma cultura que excluía, perseguia e matava em nome de Deus. Assim, na contramão da verdade do templo, o Filho de Deus, propõe aos seus seguidores a experiência viva com o Espirito da verdade para que, iluminados pela verdade da vida, usufruam a plena libertação da mente, afim de poderem ver como a vida funciona, tendo, durante a caminhada, a possibilidade sublime de experimentar o Deus da vida, na vida! Não nas doutrinas ou rituais religiosos, mas, na vida, na comunhão com os outros, na experiência da luta, na busca pelos abandonados, pelos pauperizados, pelos precarizados, pelos esfarrapados do mundo, nos quais Jesus disse que seria encontrado.
Como diz o Alberto Magi no seu livro “A loucura de Deus”, comentando o evangelho de João, em diálogo com esta singela reflexão: É a partir desta perspectiva que “o Evangelho nos convida à constante abertura para o novo que fará sempre mais emergir o Espírito de verdade, força dinâmica de amor que irá guiar a comunidade cristã na descoberta de modalidades inéditas e corajosas a fim de ir ao encontro das necessidades dos homens” e das mulheres do nosso tempo!
Autor:
Pastor Lenon de Andrade. Integrante do CEBI Paraíba e autor do livro “Café com Esperança: Para deixa a vida mais leve”, do CEBI Editora.