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O deserto portador de Vida

por Ana Maria Casarotti via IHU Online*

Fazia quinze anos que Tibério era imperador de Roma. Pôncio Pilatos era governador da Judéia; Herodes governava a Galiléia; seu irmão Filipe, a Ituréia e a Traconítide; e Lisânias, a Abilene. Anás e Caifás eram sumos sacerdotes. Foi nesse tempo que Deus enviou a sua palavra a João, filho de Zacarias, no deserto. E João percorria toda a região do rio Jordão, pregando um batismo de conversão para o perdão dos pecados, conforme está escrito no livro do profeta Isaías: «Esta é a voz daquele que grita no deserto: preparem o caminho do Senhor, endireitem suas estradas. Todo vale será aterrado, toda montanha e colina serão aplainadas; as estradas curvas ficarão retas, e os caminhos esburacados serão nivelados. E todo homem verá a salvação de Deus».

Leitura do Evangelho de Lucas 3, 1-6. (Correspondente ao 2º Domingo de Advento, do ciclo C do Ano Litúrgico).

No evangelho, Lucas situa cronologicamente a presença e pregação de João Batista. É preciso que fique claro o contexto no qual se realiza sua atividade, qual é o cenário histórico, social, político e religioso no qual atua João Batista.

No Antigo Testamento, os livros proféticos introduzem a presença dos profetas como Isaías (Is 1,1), Jeremias (Jr 1,1-3), Oseias (Os 1,1), Amós (Am 1,1) e outros. Há mais de 400 anos não aparece um profeta e por isso é importante que fique claro para os ouvintes que João é um profeta como os anteriores. Ele está posicionado na mesma linha dos grandes profetas do Antigo Testamento. Deve ser ouvido e respeitado porque através de sua palavra o Senhor está falando ao seu povo. Nele se cumpre o que foi anunciado pelo profeta Isaías.

O Evangelho situa-nos no tempo do imperador Tibério, entre os anos 14-37 d.C. No ano 63 antes de Cristo, o império romano tinha invadido a Palestina, submetendo o povo, decretando normas a cumprir, impostos a pagar e impondo, assim, uma dura escravidão.

Nesse tempo Pôncio Pilatos (25-35 d.C.) é o governador da Judeia, e Herodes Antipas, filho de Herodes o Grande, é administrador da Galileia (4 a.C.-39 d.C.). Lembre-se de que Herodes o Grande foi quem mandou matar as crianças em Belém por medo de perder seu poder (cf. Mt 2, 13-18).

Destaques da Livraria do CEBI:
A sabedoria do viver e conviver. Encontros Bíblicos sobre o livro do Eclesiastes
Ensaio sobre Judite
O povo sabe das coisas. Eclesiastes ilumina o trabalho, a vida e a religião do povo

Lucas também apresenta as lideranças religiosas dos judeus: Anás e Caifás, sumos sacerdotes, os quais estavam diretamente ligados ao poder romano.

“Foi nesse tempo que Deus enviou a sua palavra a João, filho de Zacarias, no deserto.” A Palavra de Deus vem através de João que é filho de Zacarias. O lugar onde se realiza este acontecimento não é nem Roma, nem Jerusalém. É o deserto! Não há um lugar privilegiado porque a Palavra de Deus proclamada por João é para todo o povo: “todos verão a salvação de Deus”.

O deserto evoca o êxodo, a saída do Egito rumo à nova terra. No caminho pelo deserto nasceu o povo de Israel que viveu as dificuldades próprias desse peregrinar e também a presença amorosa de Deus que não abandona seu povo.

A presença de João Batista é fora da cidade. Ele está no deserto fazendo memória de uma vida diferente da que as estruturas sociais estabelecem. Sua presença não se acomoda à cultura social e religiosa da época. Ele traz um anúncio diferente e sua moradia no deserto rememora o caminho da liberdade na procura da terra prometida, lembra e gera a esperança de uma nova experiência de vida.

O deserto representa a solidão, o desconhecido, o espaço das adversidades, das tentações. Considerado em geral um lugar inóspito, adverso e inclemente pelo clima e as condições de vida, é também um espaço de solidão, de silêncio que favorece o encontro com Deus. O deserto de Judá faz parte da Palestina, e Jerusalém está situada na parte norte.

Como disse Enzo Bianchi, “O deserto, pela sua natureza, predispõe tudo para que, na vida de quem o habita, não haja nenhum Deus além do Senhor, nenhuma outra realidade objeto de adoração e de culto. Esse desejo de servir a um único Senhor é acompanhado por uma rejeição da mentalidade mundana, do modo de pensar, de agir, de julgar próprio de quem serve a vários mestres, de quem adapta os próprios comportamentos não à conformidade com o Evangelho, mas sim ao seu grau de oportunidade e conveniência, ao sucesso, ao dinheiro ou, mais simplesmente, à vida tranquila que eles asseguram […]”.

O “deserto” se revela, ainda hoje, uma categoria espiritual mais do que geográfica ou física: retirar-se à parte, não compartilhar o modo de pensar e de agir da maioria, aceitar a provação e a privação para saborear aquilo que se considera realmente essencial, fazer silêncio para aprender a escuta, conservar a solidão para saber ler no próprio coração e no alheio, são todos elementos que alguns indivíduos – em todos os tempos e em todos os lugares – captam como verdade própria, até assumi-los como totalidade da própria condição e como sinal capaz de oferecer consciência e sentido de vida àqueles que se aproximam deles. (Texto completo: Conservar o “deserto”. Artigo de Enzo Bianchi)

João se situa nesse contexto falando para o povo de Israel, cansado da opressão do Império romano e do jugo religioso farisaico. Lucas refere as palavras do profeta Isaías e desta forma ajuda os leitores e leitoras a receber a pregação de João. Ele é a voz que percorre toda a região da Judeia, “pregando um batismo de conversão para o perdão dos pecados”. Ele é a voz que clama no deserto!

João chama a um batismo de conversão, a uma mudança de vida, a preparar-se para receber a chegada do Messias que traz uma vida nova para o povo, que traz a liberdade esperada. Anuncia a presença do novo Moisés que conduzirá o povo e “todo homem verá a salvação de Deus”. A predisposição necessária para que isso aconteça é preparar o caminho do Senhor, endireitar suas estradas. “Todo vale será aterrado, toda montanha e colina serão aplainadas; as estradas curvas ficarão retas, e os caminhos esburacados serão nivelados.”

João prega um batismo de conversão e de perdão dos pecados, é preciso uma mudança na vida do povo. Ele deve abandonar aquilo que o faz se sentir superior e João denuncia a opressão daqueles que se consideram superiores ou privilegiados.

O que significa hoje para cada um e cada uma de nós que as colinas e montanhas sejam aplainadas? O que é aquilo que na nossa vida pessoal ou nas nossas comunidades considera-se superior e incomoda a visão dos pequenos e dos que estão no vale?

Podemos perguntar-nos como são nossas estradas, os caminhos que oferecemos aos outros para andarem? São caminhos simples, fáceis para transitar ou são estradas complicadas, cheias de curvas, difíceis, onde não é possível visibilizar o horizonte?

Somos convidados/as a aplainar nossos terrenos e endireitar os caminhos para escutar, assim, a voz daqueles que estão ao nosso lado, mas nem sempre conseguimos escutá-los. Neste domingo o Senhor nos convida a ir ao deserto e partilhar a vida com tantas pessoas que moram no deserto da sociedade, marginalizadas pelos sistemas econômicos e sociais. Neles escutamos a voz do Senhor que nos chama a uma conversão e a lutar, assim, para que as vozes das crianças, das mulheres, dos pobres, dos desprezados sejam escutadas e incomodem o bem-estar de uma sociedade construída no individualismo e na procura do hedonismo.

Eram as crianças, jovens, mulheres e homens excluídos de Israel, social, política e religiosamente, que iam escutar João para alimentar sua esperança, em busca de uma vida mais digna.

Neste tempo acompanhamos a Caravana de Migrantes e em diferentes lugares são vários grupos de pessoas que devem deixar suas casas, vivendas, trabalho, sair de sua terra natal à procura de uma vida digna. Abandonam o conhecido e caminham, arriscando a vida, passando fome, sem trabalho, marginalizados pelas cidades aonde chegam, se não morrem no caminho.

Mas essa triste realidade desperta também o espírito solidário de muitos grupos e pessoas que fazem o impossível para ajudar cada criança, cada homem e mulher que está neste caminho.

Lembremos os Samaritanos de Tucson, um grupo constituído por voluntários que deixam comida e água em vários locais no deserto de Sonora. “Eles vêm de várias tradições de fé ou de nenhuma. Usando dois veículos doados, com tração nas quatro rodas, diariamente eles carregam água, alimentos, suprimentos médicos de emergência, equipamentos de comunicação e mapas para o deserto, a fim de ajudar as pessoas que estão atravessando o lugar.

“No deserto de Sonora, no Arizona, as temperaturas podem chegar até 35ºC próximo ao final da primavera e acima de 40ºC no verão. Essa paisagem vasta e árida de cordilheiras, arroios e vales, típicos em todo sul do Arizona, é onde os imigrantes fazem um caminho para encontrar vida melhor nos Estados Unidos.

Neste tempo de Advento, somos chamados a converter-nos e fazer nosso o apelo de João Batista e tantos profetas como o Papa Francisco, que luta continuamente na defesa dos pobres e marginalizados da sociedade. “Muitas pessoas pobres estão sendo arruinadas! Todos estes pobres são vítimas dessa ‘cultura do descartável’ que foi denunciada repetidas vezes”, incluindo os migrantes e refugiados que “continuam a bater à porta de nações que zombam de suas dificuldades”, ressaltou Francisco.

Oração

Livra-nos Senhor da cobiça

Livra-nos, Senhor da cobiça.
De atar-nos às riquezas como o que se ata
com um cinto de segurança
ao avião que voa ao seu destino.

De constituir-se a si mesmo
o centro de peregrinação
aonde confluam os caminhos
dos que vão e vêm
buscando o absoluto.

De imolar nossa liberdade
ante o altar da técnica
aonde vamos destruindo
com o consumo voraz
o futuro feito objeto.

De acumular conhecimentos
com o propósito calado
de inchar nosso sobrenome,
até que chegue via satélite
até os confins da terra.

De apontar com o indicador
a nosso próprio peito
brincando de ser como deuses
enquanto o dedo de João
assinalava Jesus entre as pessoas
e Jesus mostrava a Deus e seu Reino

Livra-nos de toda cobiça,
a do espírito e a técnica,
a da fama e do dinheiro,
ídolos que nos fazem orgulho
drogados por seu brilho passageiro.
para encher a ansiedade
e o vazio de transcendência
exigem sua ração diária
de sangue próprio e alheio.

Benjamin González Buelta

O comentário é de Ana Maria Casarotti, Missionária de Cristo Ressuscitado. Publicado por IHU Online.

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