Confira a reflexão do evangelho para o próximo domingo, dia 15 de julho. O texto fala sobre Marcos 6,14-29, e pertence a Robson Luís Neu.
Boa leitura!
O Evangelho de Marcos relata com muitos detalhes a morte de João Batista e sua relação com a vida pública de Jesus. Além disto, denuncia a vida luxuosa dos governantes, em detrimento da vida sofrida das pessoas subjugadas pelo poder dominante. Neste sentido, Marcos 6,14-29 faz memória da vida familiar do rei Herodes Antipas, filho de Herodes, o Grande; e também faz memória do martírio de João, aquele que abriu caminho para Jesus.
Herodes Antipas foi rei na região da Galiléia. Ele havia casado com Herodias, a mulher de seu irmão Filipe, ou seja, sua própria cunhada. Pela lei judaica, este casamento era proibido. O casal sabia disto, mas mesmo assim o fez. João, o Batista, era conhecido como bom, honesto e temente a Deus. Seu altar era o deserto, lugar de dificuldades e perigos, mas também espaço para arrependimento. A pregação de João não colocava panos quentes sobre uma situação errada. O erro era denunciado. “A ferida tinha de ser limpa, mesmo que implicasse dor.” Tratar do pecado não é coisa simples e fácil. Por sua denúncia das injustiças e por sua coerência ao Evangelho, João foi preso e executado.
O relato bíblico nos fala sobre esta execução. O rei Herodes Antipas estava de aniversário. Para festejar esta data, convidou várias pessoas e preparou um banquete. Tudo para demonstrar seu poder. A filha de Herodias, para alegrar o esposo da mãe, fez uma dança especial diante do rei e dos convidados. O rei, para mostrar sua gratidão, disse que daria de presente o que a garota quisesse. Herodias, a mãe, pede então, a cabeça de João Batista. Deixar de atender ao pedido da dançarina poderia parecer fraqueza. O poder dominante nunca se preocupa com a vida, mas apenas com o status. Isso é assim ainda hoje! Como resultado da situação criada, João é executado. Sua cabeça é servida numa bandeja. O orgulho do rei está preservado.
Essa história de martírio é contada quando os discípulos de Jesus voltam de uma jornada de pregação, que causou grande impressão na opinião pública. O martírio de João é o prenúncio da própria morte de Jesus e também dos discípulos, no futuro. Sofrimento e morte acompanham a tarefa do anúncio da boa nova de Deus ao longo da história do Cristianismo. São muitos os exemplos de pessoas que sofreram e sofrem perseguição porque denunciaram maldades, erros, falcatruas, anunciaram o reino de Deus e se colocaram ao lado das pessoas sofridas e injustiçadas. Conforme o teólogo Erni Walter Seibert, “A pregação da Palavra não é algo sem saber e sem consequências.”
A Palavra de Deus sempre produz efeito. A promessa de Deus é que sua Palavra nunca volta vazia. Coragem e amor devem acompanhar o anúncio da vontade de Deus. Isso significa dizer claramente o que e quem gera injustiça.
João Batista denunciou o poder que domina. A respeito desta relação, o biblista Milton Schwantes escreveu: “… o texto começa com um rei e termina com um túmulo… Dum lado há gente em banquete e orgia, do outro gente massacrada no cárcere. O prato que ‘serve’ a cabeça de João faz parte do banquete…”
João denunciou, mas não com o intuito de apenas desmascarar o poder político reinante, o fez visando o arrependimento dos denunciados. O profeta de Deus precisa, ao mesmo tempo, de coragem e amor. Coragem para denunciar o erro, sofrendo as consequências, e amor para anunciar que Deus perdoa e possibilita um novo começo quando verdadeiramente há arrependimento.
Arrepender-se… eis algo difícil, que exige humildade. Por que as pessoas erram, mesmo sabendo que estão cometendo um erro? Muitos insistem no erro porque já não conseguem mais enxergar o próprio pecado. Contudo, na maioria das vezes, por sentirem-se acima da lei. O que dizer de tantas mortes no trânsito em consequência de motoristas embriagados? O que dizer dos corruptos… os quais utilizam o poder para benefício próprio.
Infelizmente, temos visto pouca profecia em nossos dias. Poucas são as vozes que se preocupam com o bem social. O Cristianismo tem servido como apelo a uma fé individualista, em que o que importa é a relação eu-Deus. Este tipo de religiosidade não tem espaço para a profecia. Preocupa-se com bem estar, prestígio, poder, está do lado do banquete do rei, vira de costas para o cárcere. Profecia tem a ver com os pés no chão, com pés empoeirados, mãos calejadas, coerência entre o anúncio e a vida. São poucas as vozes neste deserto, mas ainda fazem diferença.
O anúncio da palavra de Deus visa sempre à novidade de vida. Este foi o testemunho de João Batista, que permanece até nossos dias.
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