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A libertação de vocês está próxima

Confira a reflexão do evangelho sobre Lucas 21,25-28.34-36. O texto pertence a Tomaz Hughes (em memória).

Em seu Evangelho do primeiro domingo do Ano Litúrgico, Lucas nos mergulha em um dos discursos escatológicos, isto é, sobre o destino final do mundo e da humanidade. Sendo assim, usa imagens e símbolos que não são da nossa cultura e época. Por isso, nem sempre são fáceis de serem compreendidos pelos ouvintes de hoje. Porém, na literatura apocalíptica, não é necessário interpretar cada imagem detalhadamente. O que mais importa não é cada pedra do mosaico, mas o quadro inteiro. Não é cada imagem e símbolo, mas a sua mensagem no conjunto da obra.

O texto nos apresenta a figura do “Filho do Homem”. Este é o título que os Evangelhos mais usam para Jesus, e que nós pouco usamos. Ele vem de um trecho do livro apocalíptico de Daniel: “Em imagens noturnas, tive esta visão: entre as nuvens do céu, vinha alguém como um filho de homem. Foi-lhe dado poder, glória e reino, e todos os povos, nações e línguas o serviram. O seu poder é um poder eterno, que nunca lhe será tirado. E o seu reino é tal que jamais será destruído” (Dn 7,13s).

Jesus recorda aos seus discípulos a mensagem de ânimo que o Livro de Daniel trazia a quem era perseguido no tempo dos Macabeus, pelo ano 175 a.C. Embora possa parecer que os poderes deste mundo, os impérios opressores, sejam mais fortes do que o poder de Deus, isso não passa de uma ilusão. Pois, na plenitude dos tempos, Deus, através do seu Ungido, o Filho do Homem, revelará o seu poder e estabelecerá um Reino que jamais será destruído. Jesus assume esse projeto libertador.

É equivocada qualquer interpretação de um texto apocalíptico que ponha medo nos ouvintes que sofrem as consequências do reino opressor de qualquer época, pois a função da literatura apocalíptica é de animar e dar coragem a quem sofre opressão e sofrimento. Por isso, o ponto central do nosso texto é uma mensagem de ânimo, coragem e fé: “Quando essas coisas começarem a acontecer, levantem-se e ergam a cabeça, porque a libertação de vocês está próxima” (v. 28).

Este trecho tem uma dimensão fortemente cristológica: afirma que Jesus, o Filho do Homem vitorioso, tem sob seu controle todas as forças, sejam elas de guerra (v. 9) ou do mar, símbolo de forças indomináveis na literatura judaica da época (v. 25). O v. 28 traz uma mensagem cheia de confiança: em contraste com a atitude de covardia dos malvados (v. 26), os discípulos ficarão com a cabeça erguida, para acolher o juiz justo, o Filho do Homem.

Mesmo assim, as pessoas eleitas devem ficar atentas para não caírem. Devem cuidar muito para que seus “corações não fiquem insensíveis por causa da gula, da embriaguez e das preocupações da vida” (v. 34). Pois é fácil assumir as atitudes do mundo, sem que notemos, a não ser que sejamos vigilantes. Por isso, o texto de hoje termina com um conselho válido também para quem segue Jesus nos tempos modernos: “Fiquem atentos e rezem todo o tempo, a fim de terem força” ( v. 36).

Advento

O Advento é tempo oportuno para que examinemos a nossa vida a fim de descobrir se realmente estamos atentos o tempo todo para não perdermos as manifestações da presença de Jesus no meio de nós. É tempo de dedicar-nos mais à oração, de renovar as nossas forças para não cair na armadilha da “desatenção” no meio das preocupações e barulhos do mundo moderno, e para que os nossos corações continuem “sensíveis” aos apelos do Senhor, através dos irmãos e irmãs, no nosso dia-a-dia.

Sejamos vigilantes para que a misericórdia seja característica das nossas relações e para que não caiamos nas ciladas de atitudes de violência, vingança e dureza de coração, típicas da nossa sociedade hoje e tão propagadas pela mídia.

Texto partilhado pelo autor (em memória).

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