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Fé como um grão de mostarda

Leia a reflexão do evangelho deste domingo sobre Lucas 17,5-10. O comentário pertence a Orides Bernardino.

Boa leitura!

Para muitas igrejas, a Palavra proposta para a liturgia do próximo final de semana é Lucas 17,5-10, onde Jesus procura mostrar que “os cristãos são servos de Deus, e que o serviço a Deus não deve ser concebido como fonte de méritos”.

Estamos ainda durante a “grande viagem a Jerusalém” (9,51–19,27) com os desafios, exigências e obstáculos no seguimento de Jesus. A viagem reflete o caminho das comunidades cristãs com suas crises e busca de solução aos desafios propostos pelo evangelho.

Lucas reúne, nos primeiros dez versículos deste capítulo, diversos dizeres de Jesus sobre algumas atitudes fundamentais para a vida de quem quer segui-lo pelo caminho do discipulado. Podemos dividir o trecho de hoje em duas partes: vv. 5-6 e vv. 7-10.

A força da fé

Em Lucas 17,5-6, os apóstolos pedem ao Senhor: “aumenta-nos a fé!”. Jesus responde que não se trata de quantidade, de ter “mais” ou “menos” fé, mas de qualidade. Ela deve ser genuína como a semente que traz em si todas as potencialidades da árvore. Uma fé qualificada com esta potencialidade é capaz de arrancar da terra uma árvore de profundas raízes e plantá-la ao mar. É claro que se trata de uma metáfora, mas mostra claramente a força da fé. É uma fé assim que será capaz de reacender a chama e o entusiasmo da comunidade.

Servir desinteressadamente

Nos versículos 7-10, Lucas nos apresenta uma parábola que reflete a prática pastoral de Paulo: “anunciar o evangelho não é título de glória para mim; pelo contrário, é uma necessidade que me foi imposta. Ai de mim se eu não anunciar o evangelho! Se eu o anunciasse de própria iniciativa, teria direito a um salário; no entanto, já que o faço por obrigação, desempenho um cargo que me foi confiado. Qual é, então, o meu salário? É que, pregando o evangelho, eu o prego gratuitamente sem usar dos direitos que a pregação do evangelho me confere. Embora eu seja livre em relação a todos, tornei-me servo de todos, a fim de ganhar o maior número possível” (1Cor 9,16-19).

A parábola pode chocar um pouco, pois parece justificar a escravidão. Não, Jesus não está justificando a escravidão. Essa era a realidade de seu tempo. Havia muitas pessoas escravas. E Jesus tinha consciência dessa vida de opressão que era imposta a escravos. No entanto, o sistema escravocrata não fazia parte do projeto do reinado de Deus, onde ninguém está acima de ninguém, pois “todos são irmãos” (Mateus 23,8). Em seu programa não há lugar para escravos:

“Já não vos chamo escravos, pois o escravo não sabe o que o seu senhor faz. Eu vos chamei amigos, porque vos comuniquei tudo o que ouvi de meu Pai” (João 15,15).

Este evangelho é herança das comunidades fundadas por Paulo, que entendeu muito bem a proposta de Jesus. Por isso, Paulo pediu com ternura e encarecidamente a Filemon que libertasse o escravo Onésimo (Filemon 16).

Ao contar esta parábola, Jesus quer mostrar, usando um fato da vida daquele tempo, que os cristãos são servos de Deus, e que o serviço a Deus não deve ser concebido como fonte de méritos. A parábola, portanto, deduz que o discípulo não evangeliza por iniciativa própria, mas cumpre um mandato. Não tem consequentemente o que exigir em troca. Jesus, que confia ao discípulo seu projeto, não se sente obrigado a nada quando este cumpre sua obrigação. Esperar elogios ou alguma recompensa não é se tornar solidário, e sim, ambicioso. Melhor é se libertar da ambição de ser recompensado e descobrir a alegria de servir.

Texto de Orides Bernardino.

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