Confira a reflexão do evangelho para o próximo domingo, dia 22 de abril. O texto é sobre João 10,11-18, que correspondente ao Quarto domingo da Páscoa, do ciclo B do Ano litúrgico. O comentário é de Ana Maria Casarotti, Missionária de Cristo Ressuscitado.
Boa leitura!
“Eu sou o bom pastor. O bom pastor dá a vida por suas ovelhas. O mercenário, que não é pastor a quem pertencem, e as ovelhas não são suas, quando vê o lobo chegar, abandona as ovelhas e sai correndo. Então o lobo ataca e dispersa as ovelhas. O mercenário foge porque trabalha só por dinheiro, e não se importa com as ovelhas.
Eu sou o bom pastor: conheço minhas ovelhas, e elas me conhecem, assim como o Pai me conhece e eu conheço o Pai. Eu dou a vida pelas ovelhas. Tenho também outras ovelhas que não são deste curral. Também a elas eu devo conduzir; elas ouvirão a minha voz, e haverá um só rebanho e um só pastor. O Pai me ama, porque eu dou a minha vida para retomá-la de novo. Ninguém tira a minha vida; eu a dou livremente. Tenho poder de dar a vida e tenho poder de retomá-la. Esse é o mandamento que recebi do meu Pai.”
Estender o olhar além das fronteiras preestabelecidas
A imagem do pastor já era usada no Antigo Oriente para fazer referência ao rei. Representa uma boa relação com os súditos, uma relação que se preocupa com seu conforto.
O profeta Ezequiel quando se dirige aos reis e os compara com pastores que enganam seu povo. “Ai dos pastores de Israel que são pastores de si mesmos!”.
“Vocês bebem o leite, vestem a lã, matam as ovelhas gordas, mas não cuidam do rebanho. Vocês não procuram fortalecer as ovelhas fracas, não dão remédio para as que estão doentes, não curam as que se machucaram, não trazem de volta as que se desgarraram e não procuram aquelas que se extraviaram. Pelo contrário, vocês dominam com violência e opressão” (Ez 34, 3-4).
O pastor era uma figura conhecida, não somente fazendo referencia aos pastores que cuidam das ovelhas, mas considerando esta tradição e fundamentalmente as palavras do profeta. Jesus se presenta como o Bom Pastor com algumas características específicas: “da sua vida pelas ovelhas”, atitudes contrárias ao mercenário que diante do perigo foge: “vê o lobo chegar, abandona as ovelhas e sai correndo” “porque trabalha só por dinheiro”.
Para Jesus as ovelhas são muito importantes. Não somente cuida delas, mas, ainda, é capaz de dar a vida por elas, ou seja, arriscar sua vida por cada uma delas. O mercenário não tem relação pessoal com cada uma das ovelhas.
A relação de Jesus com suas ovelhas é o conhecimento mútuo que é o amor particular por cada uma delas. Jesus ama de forma particular e pessoal cada ovelha e é um amor recíproco. O amor do pastor leva nas suas entranhas uma resposta amorosa de parte de cada uma delas.
Podemos imaginar Jesus apresentando sua pessoa como um bom pastor, um pastor com um amor totalmente gratuito e exclusivo por cada um dos/as discípulos e comunidades que recebem esta mensagem.
Há alguns anos houve uma expressão de Francisco que foi muito conhecida: “que os pastores tenham cheiro de ovelhas”. O ano passado Diego Fares expressou Quem é o mau pastor? Características e imagens bíblicas propostas pelo Papa Francisco: “Pastores com o cheiro das ovelhas e vendedores da herança recebida gratuitamente são duas imagens fortes para caracterizar, respectivamente, a figura do bom pastor e a do mau pastor. A imagem olfativa, o cheiro das ovelhas e a imagem econômica de quem liquida uma herança não é sua, mas de todo o povo, incidem como fogo na memória, melhor do que tantos conceitos morais ou definições abstratas.
Jesus sente-se preocupado pelo seu povo, por cada uma das pessoas em particular. Ele considera todas e cada uma das ovelhas pessoalmente, e por isso agrega um detalhe que não é insignificante: compara esse conhecimento como o conhecimento que o Pai tem dele: ”Conheço minhas ovelhas, e elas me conhecem, assim como o Pai me conhece e eu conheço o Pai”.
Para ter esse conhecimento é preciso que sobreabunde o amor por cada ovelha, e neste caso por cada pessoa. O amor do Pai por Jesus é um amor sem medida e da mesma forma Jesus ama cada pessoa de forma particular e original. Não é um amor generalizado. É um amor sem limites que ama por cima das fronteiras estabelecidas. Por isso convida os discípulos a ampliar seu olhar além daquilo que está mais próximo. Jesus disse: “Tenho também outras ovelhas que não são deste curral. Também a elas eu devo conduzir; elas ouvirão a minha voz, e haverá um só rebanho e um só pastor”.
Como é possível escutar a voz de Jesus-Pastor que está continuamente cuidando de nós e preocupado com cada um e cada uma de nós?
Requer-se um ouvido afinado que se acostuma a distinguir porque conhece esse som dos que também o convidam continuamente a ir atrás dele. Um ouvido atento, com uma grande sensibilidade para distinguir aquilo que é importante das outras vozes que tentam enganá-lo e levá-lo por outros caminhos. Sabe distinguir o cheiro do “seu” pastor, daquele que verdadeiramente se preocupa com ele.
Essa voz pode ser um pequeno sussurro interior que junto com o Pastor convida-nos a ser criativos e audazes no seguimento a Jesus. Numa comunidade não há um pastor senão que cada um e cada uma são portadores do amor de Deus, em atitudes, porque somos servidores uns dos outros. Jesus se manifesta através de cada um de nós, sem categorias, mas pelo contrário, às vezes é necessário distinguir sua voz e seu convite dos mais pequenos.
Jesus é um pastor que oferece vida para cada um e cada uma de nós, sem fazer distinções pessoais, culturais, religiosas, nacionalistas porque esta divisão somente encerra as pessoas e as escraviza, aproveitando-se da sua debilidade.
Jesus-Pastor, presença do amor do Deus para seu povo, não precisa de grandes espaços, nem de momentos especiais para estar ao nosso lado. Possivelmente somos nós que não reconhecemos sua presença ou não estamos preparados para percebê-lo.
Peçamos a Maria que nos conceda sua capacidade para escutar a voz do Pastor que lhe fala no cotidiano da sua vida. Sejamos pastores identificados com nossos irmãos, sem distinções nem categorizações ou classificações das pessoas. Que não existam fronteiras ou muros que separem nossas vidas e considerem uns superiores aos outros.
Lembremos as vezes que durante nossa vida experimentamos escutar a voz suave e quase imperceptível de Deus na nossa vida que nos encheu com sua alegria profunda.
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Texto publicado no site do Instituto Humanitas, 20/04/2018.
Foto de capa: Aziz Acharki.