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Este é o meu Filho amado, que muito me agrada

Leia a reflexão do evangelho para o próximo domingo, dia 13 de janeiro. O texto fala sobre Lucas 3,15-16.21-22, e pertence a Tomaz Hughes.
Boa leitura!

Hoje, no Domingo seguinte à Epifania, celebra-se a Festa do Batismo do Senhor. O batismo de Jesus por João Batista no Rio Jordão é tão importante teologicamente que é tratado por cada um dos Sinóticos, cada qual da sua maneira, dependendo da situação da sua comunidade e dos seus interesses teológicos. A história logo se tornou um problema para os primeiros cristãos, pois levantava a questão de como Jesus, sem pecado, podia ter sido batizado em um ritual de purificação dos pecados. Por isso, Mateus deixa fora a referência de Mc 1,4 ao perdão dos pecados e adiciona os vv. 14 e 15. Para João, o batismo era tão difícil de ser harmonizado com a sua cristologia, que omite qualquer referência ao atual evento, e no seu lugar, faz com que João Batista indica Jesus como o “Cordeiro de Deus” (Jo 1,29-34).

O texto já nos apresenta o programa da vida e missão de Jesus. Lucas se destaca pela insistência em situar Jesus como membro do seu povo – identificando-se com aquela camada do povo marginalizada e menosprezada como “impuro” pela teologia oficial, atrelada ao poder político das elites. Como disse o Padre Alfredinho, fundador da Fraternidade do Servo Sofredor: “No dia do seu batismo, Jesus entrou na fileira dos excluídos para nunca mais sair dela!” Com o seu batismo, Jesus assume a fidelidade radical à vontade de Deus. O significado disso será mostrado ao longo do Evangelho. Também Jesus, unindo-se aos pecadores, já está, desde o começo, rejeitando a visão de um Messianismo triunfalista.

Os sinóticos ressaltam o fato que “o céu se abriu”. Marcos é o mais contundente quando enfatiza que “os céus se rasgaram”. É uma maneira simbólica de expressar que em Jesus acontece a união definitiva entre o céu e a terra (At 7,56; 10,11-16; Jo 1,51) e uma revelação celeste (Is 63,19; Ez 1,1; Ap 4,1; 19,11). A revelação maior é a confirmação da identidade de Jesus como o Servo de Javé. Mateus, escrevendo num ambiente de polêmica contra o judaísmo formativo do fim do primeiro século, muda a tradição original (Mc 1,9-11), mantida por Lucas, onde as palavras do Pai se dirigiam a Jesus, para dirigi-las aos ouvintes: “Este é o meu Filho muito amado, aquele que me aprouve escolher” (v. 17).

Em ambas as tradições, essas palavras associam a terminologia de Sl 2,7, que repete a profecia de Natã em 2 Sm 7,14 (tu és meu filho…) a Is 42,1 (meu bem amado que me aprouve escolher). A passagem de Isaías apresenta o Servo que não levanta a voz (42,2), nem vacila, nem é quebrantado (42,4). (A tradução grega da Septuaginta usou uma palavra que podia expressar tanto os termos hebraicos para “filho” e para “servo”). Fazendo fusão desses textos do Antigo Testamento, o texto une em Jesus duas figuras proféticas – a do Filho da descendência real davídica e do Servo de Javé. Assim, prevê que o messianismo de Jesus implica a vocação do Servo Sofredor, e rejeita pretensões messiânicas triunfalistas. Podemos dizer que o Batismo é para Jesus o assumir público da sua missão como Servo de Javé. A voz do céu confirma a sua opção de vida. O Pai confirma que Ele reconhece Jesus, desde o início do seu ministério público, como seu Filho (Sl 2,7), seu bem-amado, objeto da sua predileção.

Um dos sentidos mais importantes do nosso batismo também é o nosso compromisso público com a vontade do Pai. Todos nós podemos sentir a veracidade da mesma frase usada pelo Pai diante de Jesus – cada um de nós também é verdadeiramente filho ou filha do Pai celeste (1Jo 3,1), a quem aprouve escolher-nos. Nada pode fazer com que o Pai abandone esse amor incondicional e gratuito – nem a nossa fraqueza, nem o pecado (Rm 8,39).

Importante é reconhecer que Deus nos amou primeiro, incondicionalmente, e cabe a nós responder a este amor gratuito por uma vida digna de filhos e filhas do Pai, no seguimento de Jesus (1Jo 4,10-11). Jesus não achou privilégio ser o amado do Pai, mas assumiu as consequências – uma vida de fidelidade, que o levava até a Cruz e a Ressurreição (Fl 2,6-11). É importante também lembrar que, como o Pai me ama incondicionalmente, ele assim ama a todas as pessoas, independente da sua condição social, religiosa ou moral.  Esse fato desafia a nossa maneira de olhar outras pessoas e as nossas atitudes diante das que não correspondem com as nossas expectativas nem os nossos princípios.

Celebrando essa festa litúrgica, renovemos o compromisso do nosso batismo, comprometendo-nos com o seguimento do Mestre, no esforço de contribuir à criação do mundo que Deus quer, um mundo onde reinam o amor, a justiça e a verdadeira paz. O nosso batismo confirma que somos parceiros de Deus no ato permanente de criação, fazendo crescer o Reino d’Ele, que “já está no meio de nós” (Mc 1,14).

Texto partilhado pelo autor (em memória).

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