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À direita e à esquerda de Cristo

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por Marcel Domergue via IHU Online*

O servo sofredor de Isaías e o sumo sacerdote compassivo da carta aos Hebreus foram duramente provados. Mas os seus sofrimentos trouxeram reparação e justificação para todo o mundo. Jesus foi provado com um segundo batismo e com um cálice amargo, que teve de beber. Aos discípulos, que pediam para “sentarem-se em sua glória”, Jesus respondeu que quem quisesse ser grande devia fazer-se servidor dos outros. Os lugares que Tiago e João lhe pediram foram ocupados pelos dois malfeitores, no dia da crucificação!

A reflexão é de Marcel Domergue (+1922-2015), sacerdote jesuíta francês, publicada no sítio Croire, comentando o evangelho do 29º Domingo do Tempo Comum, do Ciclo B (21 de outubro de 2018). A tradução é de Francisco O. Lara, João Bosco Lara e José J. Lara.

Referências bíblicas

  • 1ª leitura: «Oferecendo sua vida em expiação, terá descendência duradoura» (Isaías 53,10-11).
    Salmo: Sl.32(33) R/ Sobre nós venha, Senhor, a vossa graça, pois em vós nós esperamos!
  • 2ª leitura: «Aproximemo-nos então, com toda confiança, do trono da graça» (Hebreus 4,14-16).

Evangelho: “O Filho do homem veio para dar a sua vida como resgate para muitos” (Marcos 10,35-45)

Mania de grandeza

Quando pedem a Jesus para se sentarem, um à sua direita e o outro à sua esquerda, quando estivesse em sua glória, que ideia de “Glória” estariam fazendo os discípulos de Jesus? Pensavam, sem dúvida, numa tomada do poder. Na versão de Mateus, a palavra empregada é “Reino”. Pensavam que, um dia, Deus viria impor sua vontade, a sua Lei, para arrancar a humanidade das suas injustiças e atrocidades. Esta Lei ditaria as condições da paz entre os homens, a sua unidade, portanto. E, por consequência, nem uma vírgula nem um iota poderia dela ser apagado. A hora da Glória é, pois, a hora do julgamento do mundo e do triunfo sobre todas as condutas perversas que o submeteram à violência.

E os que se põem à direita e à esquerda do juiz serão os seus assessores, os seus assistentes. Não julguemos depressa demais ser um tanto pueril a ambição dos dois irmãos. Esta passagem do evangelho põe-nos, na verdade, em presença de uma pretensão secreta que habita também o mundo de hoje. E que talvez seja o motivo secreto do comportamento de muitos, mas sob a máscara muitas vezes das “virtudes” exibidas. Nem mesmo a Igreja está ao abrigo do carreirismo de alguns dos seus membros. Galões, condecorações, nomeações, em resumo, tudo o que distingue e separa alguém da multidão e polariza os olhares sobre si, sempre guarda o seu atrativo. O “último lugar” quase nunca é cobiçado. Pode-se citar e, até mesmo, professar o evangelho, mas comportando-se aberta ou secretamente conforme o seu contrário. Como podem existir “honrarias eclesiásticas”?

À direita e à esquerda

A hora do julgamento do mundo, da “tomada do poder”, foi a hora da crucifixão: quando, de fato, o pecado do mundo, a vontade de dominar que culmina na condenação e na condução à morte do único justo da história, foi desmascarada, exposta à vista de todos. Como diz o Evangelho de João, os olhos todos se voltaram para aquele que o nosso mal transpassou. Que este trecho do evangelho que lemos hoje refira-se à Cruz, é evidente, pois vem precedido dos anúncios da Paixão (8,31; 9,31 e 10,33-34, imediatamente antes do pedido dos filhos de Zebedeu). A resposta de Jesus, aliás, é uma alusão direta à Paixão: o anúncio do cálice que deve beber e do batismo no qual deve ser imerso. Desde o capítulo 9, estão a caminho de Jerusalém, para a Páscoa da crucifixão, sendo este contexto que dá o tom a tudo o que está escrito, a partir de Cesareia de Filipe.

Desde este ponto ao Norte, cidade praticamente pagã, onde os discípulos, pela boca de Pedro, reconhecem ser Jesus o Cristo, dirigem seu curso para o sul, para “a cidade que mata os profetas”. Ora, o relato da Paixão é o único texto de Marcos e de Mateus em que encontramos “direita e esquerda” como dois lugares com o mesmo valor. Temos aí, pois, aqueles para quem foram reservados os lugares de honra, na hora do julgamento do mundo. Dois malfeitores? Por certo, mas como ser de outro modo, se não há neste mundo senão um só justo, incluído, aliás, “no rol dos malfeitores”?

O julgamento do mundo

Na versão de Lucas, lemos que estes dois malfeitores proferem um julgamento: um condena Jesus em razão da sua impotência para escapar da Cruz. O outro diz ser a justo título que os dois estão condenados, ele e o companheiro, mas pronuncia o veredicto do não-lugar para Jesus, a quem julga “justo”, inversamente ao julgamento da multidão. Jesus toma, por sua vez, a palavra para absolver o “bom ladrão”. Podemos assim concentrar nossa atenção nos julgamentos todos, cruzados e entrecruzados, que são feitos pelos diversos protagonistas, como se o julgamento do mundo provocasse o despertar das consciências, para o melhor e para o pior.

Ficamos sabendo que os assistentes do Juiz só podem ser malfeitores, uma vez que não existe nenhum outro justo sobre a face da terra, a não ser Jesus. Nenhum jurado, portanto, dos nossos tribunais estará habilitado a jogar a primeira pedra. Este julgamento do mundo, no entanto, realizado desde a Cruz, ensina-nos que todo o mal que podemos fazer foi superado pelo amor deste que nos deixou tirar-lhe a própria vida, vida que por ele mesmo nos foi dada. O mal provoca, assim, um acréscimo de amor, de um amor que absorve este mal.

Paulo está de tal modo consciente disto que, em Romanos 6,1, escreve: “Que diremos então? Que devemos permanecer no pecado a fim de que a graça se multiplique?” Obviamente que não…! As cruzes que levantamos nas encruzilhadas, que afixamos em nossos tribunais, que alguns carregam ao pescoço ou que prendem no avesso de suas vestes significam a nossa adesão ao Reino do Amor, ao seu triunfo sobre a violência. Em vista disto, também nós estamos crucificados à direita e à esquerda do Cristo. Esta é a nossa glória.

Publicado Instituto Humanitas.

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