Leia a reflexão do evangelho para o próximo domingo, dia 22 de setembro. O texto fala sobre Lucas 16,1-8, e o comentário pertence a Francisco Orofino.
Boa leitura!
Nossa primeira impressão diante deste texto é de certa indignação. Afinal, ao nos contar esta parábola (Lucas 16,1-8), Jesus elogia o comportamento de uma pessoa corrupta e desonesta. Nossa reação imediata é fugir da proposta da prática pedagógica de Jesus e procurar palavras e desvios que nos ajudem a superar o elogio ao corrupto e dar uma interpretação mais moralista às conclusões de Jesus. Sem dúvida a parábola nos incomoda. Mas temos que partir deste ponto: Jesus nos conta uma parábola e nesta parábola elogia a criatividade de alguém que faz qualquer coisa para não perder sua situação de viver e enriquecer sem precisar trabalhar. Algo que qualquer um de nós gostaria de fazer todo dia: como ganhar dinheiro sem fazer força?
Jesus quer nos ensinar que deveríamos ter esta mesma criatividade e empenho para ganharmos o Reino de Deus!
Vamos começar buscando entender a proposta pedagógica de Jesus nesta parábola. Ele descreve uma situação muito comum na Palestina daquela época: as terras, que são de um proprietário que mora distante, foram confiadas a um capataz. Muitos proprietários confiavam a administração dos bens e a organização dos trabalhos agrícolas a um capataz. Este, evidentemente, desvia dinheiro do patrão em proveito próprio e submete os trabalhadores a duros encargos para garantir não apenas o lucro do patrão, mas também o dinheiro desviado por ele. Pelas inúmeras vezes que esta figura aparece nas parábolas de Jesus, vemos que naquela época os administradores, capatazes, intermediários e feitores eram muito odiados pelos trabalhadores diaristas. E não podia ser diferente. Afinal, infernizavam a vida dos trabalhadores e roubavam o dinheiro do patrão. Até hoje!
Ora, na parábola que nos conta hoje, Jesus narra que um destes capatazes foi descoberto em suas trapaças e vai ser despedido. Diante desta situação, o capataz elenca as três maneiras de ganhar dinheiro naquela época: trabalhar, mendigar ou roubar. Ele descarta as duas primeiras. Uma por preguiça e a outra por vergonha. Ele então fica matutando um plano para continuar vivendo do dinheiro roubado do patrão, mesmo depois de ser despedido. Ele resolve alterar as contas das dívidas, ganhando assim favores dos comerciantes que compram do patrão, garantindo seu estilo de vida mesmo depois de despedido.
Jesus conclui dizendo que o patrão elogia não o comportamento desonesto do capataz, mas sua criatividade em encontrar um caminho que o permita continuar vivendo dos produtos de seus roubos, mesmo depois de despedido. Ele foi criativo em encontrar em caminho de ganhar dinheiro sem trabalhar. É como nós hoje! Quem não gostaria de ganhar dinheiro sem ter que dar duro no seu trabalho? O que Jesus questiona e quer que a gente pense não é copiar a maneira desonesta do capataz, mas se temos o mesmo empenho e criatividade no nosso esforço em construir o Reino de Deus. Por isso mesmo, a conclusão dos ensinamentos de Jesus nesta parábola é que dá sentido ao que ele quer ressaltar e, ao mesmo tempo, nos questiona (Lucas 16,9-13).
Lucas escreve para comunidades cristãs em ambiente urbano. Neste ambiente é impossível viver sem usar dinheiro. Mas Lucas também sabe que o dinheiro traz a marca das injustiças sociais. Não precisa aprofundar muito as análises sociais para saber que numa cidade quem mais ganha dinheiro é quem menos precisa dele. Por isso mesmo, Jesus ensina que devemos usar o “dinheiro injusto”. Para Jesus, todo dinheiro traz a marca da injustiça, já que é um instrumento de acúmulo e de opressão. O dinheiro gera a lógica que move o mundo: o acúmulo, o lucro e a exploração, já que todos se empenham na busca do dinheiro querendo a segurança que apenas uma boa conta bancária pode dar.
Um cristão não deveria entrar nesta lógica do acúmulo, mas sim empenhar-se nas coisas de Deus. O Reino de Deus tem outra lógica. Uma lógica que não combina com o dinheiro. É a lógica da segurança que vem através da partilha. Devemos saber usar aquilo que temos com outras pessoas, seja em casa, na comunidade, no ambiente de trabalho, no lazer de férias. O que temos deve ser usado na construção de relacionamentos sólidos e verdadeiros, relações que possam ser sinais do Reino. Jesus deixa claro que dinheiro nunca pode ser sinal do Reino!
Claro que, vivendo hoje em grandes cidades, não podemos abrir mão do uso do dinheiro. Ele ainda é o meio mais prático de realizarmos transações comerciais em nossas vidas. O problema está em saber usar o dinheiro sem cair na lógica do acúmulo. Jesus diz que temos que saber usar o dinheiro para construir amizades. Geralmente acontece o contrário. O dinheiro destrói relacionamentos familiares e as amizades. Não podemos encarar o dinheiro como um senhor ou patrão. Não podemos servir a dois senhores. Não podemos servir a Deus e ao dinheiro. Isso significa que na vida deveremos ter apenas uma única lógica. Ou permanecemos na lógica do acúmulo e assim servimos ao dinheiro. Ou entramos na lógica da partilha. E assim estaremos servindo ao verdadeiro Senhor.
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