Leitura do Evangelho
Foi então que alguém exclamou no meio da multidão: Senhor, peço-te que digas ao meu irmão que reparta comigo a herança do meu pai. Jesus respondeu:
Não sou juiz para decidir sobre essas questões legais entre vocês. Mas a questão de fundo é que não se deixem dominar pela avareza. Porque a vida verdadeira não está garantida pelos bens que se possa ter.
E deu um exemplo: Certo homem rico possuía uma propriedade fértil que dava boas colheitas. Assim os seus celeiros ficaram a transbordar, e não podia guardar tudo lá dentro. O homem pôs-se a pensar no problema. Por fim, exclamou: ‘Já sei, vou deitar abaixo os celeiros e construir outros maiores. Assim terei espaço suficiente. Depois direi comigo mesmo: ‘Amigo, armazenaste o bastante para os anos futuros. Agora, repousa e come, bebe e diverte-te.’
Mas Deus disse-lhe: ‘Louco! Esta noite vais morrer; e para quem fica tudo isso?’
Sim, louco é quem acumula riquezas na Terra mas não é rico em relação a Deus.
A loucura da avareza
O que leva um rei, ansioso cultivador da sabedoria e do conhecimento que regem o universo, reclamar com tanta amargura, numa determinada altura da sua vida, que tudo é ilusão, tudo é passageiro, efêmero, com prazo de validade precário, para a quantidade de trabalho e de energias investido na aquisição daquilo pelo que imaginou valer a pena lutar e viver?
Olhando para os dois primeiros capítulos de Eclesiastes, quero que você reflita comigo, na frustração esmagadora, desse homem que, ao final da carreira terrena, depois de ter investido toda a vitalidade da sua juventude e a sabedoria que imaginava ter adquirido ao longo dos anos, na construção dos seus sonhos, assumir para si mesmo que tudo foi em vão, que não valeu a pena ter sonhado, que o resultado das suas lutas no final das contas se revelou como ilusão e sensação de absoluto vazio! O tamanho do buraco no coração desse ser humano é simplesmente indescritível…quando o sentido da vida se reduz à satisfação das necessidades pessoais e mais nada, além do acúmulo de riquezas e bens com prazos de validade regidos pelo tempo, então, corre-se o risco do esvaziamento do sentido da existência e com a mesma conclusão deste amargurado rei dos capítulos iniciais do livro de Eclesiastes.
Esta porção do Evangelho lucano, escolhida para a nossa medição trás uma séria advertência para o perigo da avareza, uma doença do nosso tempo que tem capturado muitas mentes e corações em seus laços angustiantes de vazio existencial existencial.
Afinal de contas, o que dá sentido à vida, alegria e sensação de plenitude, são as nossas relações em comunidade com o cultivo do sentimento sublime do pertencimento à coletividade com a colaboração solidária na construção da vida! É impossível alguém se realizar na solidão de um apartamento de luxo ou numa mansão onde nada lhe falta, sobretudo, quando existe tanta necessidade fora dos muros dos condomínios fechados onde moram os que trabalham duramente, as vezes a vida inteira, investindo as suas melhores energias para possuir o patrimônio que imaginam precisar para serem felizes.
A avareza, é uma doença insana que nutre o cérebro do adoecido com a ideia fixa de que a realização da vida e, por consequência a felicidade, está no acúmulo de bens materiais e na vantagem que o poder sobre a vida de outras pessoas pode lhe render. Este tipo de loucura tem sido a causa de uma relação predatória do certo tipo de gente com a natureza. O Planeta terra está sofrendo, como nunca antes, as agressões irracionais do espírito avarento que domina as mentes embrutecidas das elites governantes do nosso tempo. Quando uma maioria avarenta ascende o poder, o sofrimento e a morte se tornam lugar comum no campo, na cidade, nos grandes centros, nas periferias, nas aldeias, nos quilombos, nas florestas e nos rios. Até mesmo nos países ricos, o reflexo da avareza é cada vez mais perceptível no abandono de famílias inteiras morando nas calçadas das grandes cidades, em barracas precárias, sem dignidade alguma, tudo isso porque, para que o avarento acumule, essas pessoas tem que ser despejadas no meio da rua…
Jesus tinha toda razão quando, numa contundente advertência disse ao rapaz que reclamara, a qualquer custo, a sua parte na propriedade que julgava lhe pertencer:
“Louco! Esta noite vais morrer; e para quem fica tudo isso?’ Sim, louco é quem acumula riquezas na Terra mas não é rico em relação a Deus.
O tamanho do buraco no coração daquele que faz do acumulo o sentido da vida é, de fato, indescritível porque nunca irá encontrar a paz e a realização pessoal, pois, como ensina o Evangelho, a paz e a realização pessoal somente são possíveis no amor e na partilha.
O Pão é nosso porque o Pai é nosso. E, nessa matemática humana/divina, não há espaço para a loucura da avareza. Que seja assim. Amém, amém e amém.
Lenon de Andrade é um dos pastores da Comunidade Batista do Caminho em Campina Grande e Integrante do CEBI, na Paraíba.