Último Domingo do Advento
22 de Dezembro de 2024
Lucas 1, 39-56
Imaginar a cena da visita de Maria à Isabel é também pensar no quanto uma presença pode impactar a vida de outras pessoas. Essa imagem ganha mais força se a olharmos na perspectiva dos nossos dias quando as relações estão cada vez mais virtualizadas. Em tempos de mensagens espontâneas, uma visita presencial torna-se uma declaração de apreço.
No texto do Evangelho, a presença de Maria comunica muito. Fico a pensar no tom angelical que historicamente é atribuído à imagem de Maria, mas quando leio o evangelho tenho uma impressão diferente. Sinto Maria como uma mulher de forte presença e espírito assertivo, o que não combina com a cabisbaixa imagem de submissão.
Maria é uma mulher que impacta o ambiente. Traz no ventre o filho que transformará a humanidade com a própria vida, dádiva de Deus ao mundo. Neste ponto está a diferença que sua presença gerou naquela casa. Há uma repercussão imediata quando adentra na casa. A saudação dela faz um ventre estremecer e pulsar de amor.
A visitação de Maria é símbolo da amizade, da comunhão familiar que aqueles tempos evocam. A narrativa imprime a intimidade do lar como espaço para a celebração da vida. Quando nos desarmamos no seio familiar, somos livres para ser quem somos. Há uma liberdade que nos inspira a dizer o que sentimos, como vemos o mundo e o que pretendemos.
Cada expressão, quando da chegada de Maria à casa de Isabel, é um indício da presença de Deus. Isabel é inundada pela divina Ruah e seu bebê se agita de alegria (Lc 1,41,44).
A fé de Maria é reconhecida: “Bendita és entre as mulheres, e bendito é o fruto do teu ventre” (Lc 1,42). Ela não apenas creu, mas acolheu a promessa do anjo de que daria à luz o filho de Deus, que ainda no ventre é reconhecido como “o meu Senhor” (v.43).
A força da oração
A mesma Maria que escutou a voz do anjo e se dispôs inteiramente para cumprir o querer divino, inicia uma oração para engrandecer ao Senhor (Lc 1,46,47). Sua alma está entregue, absorta diante de seu Deus. Sente-se bem-aventurada e reconhece os favores divinos, frutos da misericórdia que se estende a todos quantos pronunciam o nome santo. Maria se inclina em oração como quem mergulha em águas profundas e encontra o silêncio que fala ao coração.
Nessa busca, entende que não haverá justiça no mundo enquanto os esquemas opressores prevalecerem. Os ricos e poderosos dominam os pequenos, subtraindo o direito de sonhar com uma vida digna. A sensibilidade de mulher que olha ao seu redor e não se acomoda à realidade como algo determinado. Movida pela fé, ora ao Deus da vida na certeza de que Ele agirá em favor dos pequeninos da terra.
Em oração, ela compreende que não haverá espaço para a soberba de quem abusa do poder que tem. Nesse chão, governantes injustos serão destronados, os famintos serão alimentados, os humilhados serão exaltados e a misericórdia divina será a tônica de uma nova relação agora construída. Nesse chão será escrita uma nova história.
A presença impactante de Maria é percebida não apenas na visita à casa de Isabel, mas na forma como encara a realidade e deseja a transformação. Que sejamos animados e animadas a aprender com a Bem-aventurada a encarnar o compromisso com o reino de Deus e fazer da nossa presença um diferencial em cada espaço.
Waldir Martins Barbosa
CEBI Salvador